Mais de 400 seniores frequentam as atividades da Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais. Criadas para promover o envelhecimento saudável, desafiam as pessoas a saírem de casa, a conviverem e a descobrirem novas paixões, que lhes “alimentam” a alma e enriquecem os dias. Os ateliês de pintura e artes decorativas são apenas dois exemplos de que nunca é tarde para começar e que demonstram que, independentemente da idade, há sempre muito para descobrir, até sobre nós mesmos.
Ana Macedo, 62 anos, médica de família aposentada. É desta forma resumida que se apresenta, enquanto nas suas mãos ganha vida uma toalha em crochet que quer enviar para uma igreja de Nova Lisboa, em Angola. Ana Macedo é uma das cerca de 25 mulheres que frequenta o ateliê de artes do Centro Social Partilha e Saber Dr. Fausto Correia, situado no Largo dos Olivais.
Depois de uma vida dedicada à saúde, teve grandes dificuldades em ver os “médicos transformarem-se em engenheiros de computadores”, em que mal podiam desviar o olhar do monitor enquanto ouviam as queixas dos doentes. Assume que as novas exigências a esgotaram e levaram a um estado depressivo e, consequentemente, à reforma. Regressou então aos Olivais e encontrou na Junta o convívio de que necessitava, uma ocupação que sempre gostou e, ainda, uma “forma de envelhecer ativa”.
Frequenta estes ateliês praticamente desde que o Centro abriu e orgulha-se da “família” que ali tem vindo a ser construída. São apenas mulheres, dos 60 aos 80 e tal anos, que partilham saberes mas também preocupações, vivências e afetos. É ali que se reúnem todas as tardes, das 14h00 às 17h30, para “dar vida aos anos” ao mesmo tempo que criam trabalhos únicos, um pouco de tudo o que toca a artesanato tradicional e urbano.
De acordo com Teresa Martins, responsável pelo Centro, estão 25 pessoas inscritas, algumas são presença diária outras aparecem quando podem. O espaço acolhe, no máximo, 12 ou 13 pessoas de cada vez e é, como assume, uma alegria ver este grupo trabalhar e conviver. Estaria errada se dissesse que vêm realmente para aprender uma arte nova, até porque, como explica, “as pessoas com estas idades aprenderam a fazer um pouco de tudo quando eram novas”. Claro que partilham saberes mas, acima de tudo, reúnem-se ali para “conviver, conversar e passar um bom bocado”, num ambiente que se tornou familiar, onde não falta o café, os biscoitos e os bolos, também aqui numa partilha de saberes e sabores.
“É um espaço de convívio que tem vindo a crescer”, realça, explicando que a maioria das frequentadoras “são pessoas que se sentem sozinhas, porque se reformaram e estão sozinhas em casa, outras porque ficaram viúvas e precisam de uma distração”.
Não significa, contudo, que não tenham família. Muitas até têm famílias numerosas mas os filhos e netos encontram-se por esse mundo fora e, por muito cuidadosos que sejam, a solidão é mesmo uma realidade que estas tardes de confraternização inspiradas na arte ajudam a combater.
Há também quem venha às quartas de manhã para as artes decorativas. Cabe a Maria Cândida Pacheco, 70 anos, orientar este grupo, que procura também desenvolver alguma técnica específica mas, acima de tudo, “estar entretido e conversar”, enquanto executam trabalhos muito criativos, que oferecem ou vendem, tendo estado alguns já expostos em várias ocasiões.
Isabel Ferreira, Teresa Martins, Alice Correia, Maria Malheiras e Ana Macedo são presença assídua no ateliê de artes decorativas
Entre cavaletes, tintas e pincéis
Maria Cândida Pacheco é também presença assídua na oficina de pintura onde, todas as sextas à tarde, nas instalações da Junta, apoia o marido, José Sá, olivanense que assume este ateliê há cerca de cinco anos, continuando com o mesmo entusiasmo de quando começou.
Aos 69 anos, sublinha que nunca é tarde para começar. Lembra que é voluntário e que coloca os seus conhecimentos artísticos ao dispor destas mais de 40 pessoas que, de forma regular mas sem obrigatoriedade de estarem sempre presentes (vão quando querem e podem), fazem da arte uma nova paixão.
Também aqui, as idades variam entre os 60 e os 80 anos. Mas, apesar das mulheres continuarem em maioria, a pintura seduz também muitos homens, criando assim um grupo diversificado que ali se reúne, como explica o professor, “para aprender, trocar ideias, conversar e ocupar os tempos livres enquanto dão umas pinceladas”.
E, mesmo não tendo a pretensão de ser uma escola, a verdade é que têm surgido ali belos trabalhos, surpreendendo até, por vezes, estes novos artistas. Muitos deles sempre tiveram este “bichinho” pela pintura mas faltava-lhes a disponibilidade que a reforma agora lhes proporciona.
Maria de Lurdes Barroso, 68 anos, é uma dessas apaixonadas pela arte. Professora de trabalhos manuais aposentada, sempre gostou de pintura e vai agora realizar esse sonho. Na sexta feira teve a sua primeira aula e não escondia a “curiosidade por experimentar”.
José Resende, 69 anos, também se pode considerar um dos “novatos” neste ateliê. Fez a sua quarta aula. Não se trata de uma área onde se estreia, já que sempre gostou de pintura e chegou mesmo a fazer, através da Junta, uma exposição. Esteve alguns anos sem mexer no cavalete, tintas e pincéis mas, agora reformado, quis voltar a apostar nesta paixão. O ateliê tem sido, por isso, uma boa descoberta. “Estou a gostar muito, esta é apenas a minha quarta aula mas vim para ficar”, sublinha.
400 seniores em movimento
Estes são apenas alguns dos ateliês que a Junta promove com o intuito de proporcionar o envelhecimento ativo e saudável. De acordo com o presidente, Francisco Andrade, são mais de 400 as pessoas que frequentam as várias atividades, que contemplam ainda yoga, chi kung, hidroginástica, teatro, alfabetização de adultos, coro misto, marchas populares e, esporadicamente, sessões de saúde.
São, no fundo, propostas que ajudam a cuidar do corpo e da mente, ao mesmo tempo que desafiam as pessoas a sair de casa e a manterem-se ativas, garantindo um vida social mais rica e um dia a dia mais feliz.
O trabalho que aí é desenvolvido vai poder ser apreciado no próximo sábado, 25 de janeiro, a partir das 14h30, no auditório dos Hospitais da Universidade de Coimbra, na segunda Gala Sénior que a Junta promove.