17 de Abril de 2025 | Coimbra
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SARA MADEIRA

João Machado

18 de Março 2022

(Re)conhecer a contribuição artística de João Augusto Machado (1862 – 1925) como canteiro-decorador e escultor na memória patrimonial conimbricense e a difusão territorial do seu trabalho em contexto nacional, é fundamental para o entendimento da história das artes decorativas em Portugal.

Nascido na freguesia de Santa Cruz, filho de Ana da Piedade e de Augusto Machado, sapateiro de profissão, começou, desde cedo, a trabalhar com o pai, cuja natural inclinação para as Belas Artes se traduzia na modelagem e escultura em madeira, realizada nas poucas horas vagas disponíveis. No entanto, não envereda pelo ofício paterno, inscrevendo-se, em 1879, na Associação dos Artistas e, em 1880, na Escola Livre das Artes do Desenho, orientada por António Augusto Gonçalves, cuja dinâmica pedagógica permite-lhe iniciar um processo de evolução técnica e artística, produzindo obras em talha, pintura, modelação em gesso/barro ou gradeamentos em ferro forjado, elevando-se à categoria de mestre artífice da pedra. Na sua oficina, localizada no nº 23 da Rua da Sofia, acolhe jovens aprendizes, mentorados na arte de talhar a pedra de Ançã ou o mármore de Estremoz. Ao receber uma encomenda, projetava as suas formas, esboçando-as em papel. Em seguida, os seus discípulos desbastam os materiais pétreos, iniciando João Machado a sua interpretação artística em momentos próprios, caracterizada tanto por interpretações criativas personalizadas como por paradigmas revivalistas, tendo adotado, frequentemente, o estilo neorrenascentista. Naquela abordagem fraterna, revive-se o conceito de trabalho coletivo, característico da urbe mondeguina do século XVI, estabelecendo paralelismos entre João Machado e João de Ruão, no sentido em que ambos formam um conjunto de colaboradores que tem por função executar as partes de relevância artística secundárias referentes às obras comissionadas, culminando no estabelecimento de novas oficinas, por muitos dos auxiliares, uma vez terminado o período de aprendizado.

Na produção artística de João Machado e nas funções docentes que exerceu, destacam-se: (1) O monumento dedicado à Condessa de Canas (Arganil); (2) Cantaria da casa de Mário Belmonte Pessoa (Aveiro); (3) Ornamentação e estatuária diversa no Palace Hotel do Bussaco (Luso); (4) Decorações várias no Claustro do Tribunal da Relação de Coimbra; (5) Cantaria para a Casa dos Martas, localizada no Largo dos Arcos do Jardim (Coimbra); (6) Decoração do Palacete dos Limas, atualmente o edifício da Faculdade de Economia (Coimbra); (7) Busto da República, com pedestal, para a Câmara Municipal de Coimbra; (8) Estátuas de Santo António e Santa Teresa para a capela da residência de Carvalho Monteiro na Quinta da Regaleira (Sintra); (9) Placa toponímica da Rua de Joaquim António de Aguiar (Coimbra); (10) Retábulo da Sé da Guarda; (11) Altares do cruzeiro da Igreja de Santa Cruz, dedicados a Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Dores (Coimbra); (12) Jazigos de Sobral Cid e Silva Gaio no Cemitério da Conchada (Coimbra); (13) Lápide comemorativa, em honra de António Nobre, para a Torre do Anto (Coimbra); Vários capitéis e porta neorromânica para a residência de José Relvas (Alpiarça); (14) Colaboração no restauro da Sé Velha (1893 – 1902), nomeadamente, no desenho/escultura dos fustes das colunas assim como a almofada da porta principal (Coimbra); (15) Jazigo da Santa Casa da Misericórdia (Cantanhede); (16) Baixo- relevo para o jazigo dos Benfeitores da Misericórdia (Lisboa); (17) Cruz para o jazigo de Joaquim António de Aguiar no Cemitério da Conchada (Coimbra); (18) Trabalho de transladação do túmulo medieval da Rainha Santa Isabel (Coimbra); (19) Professor de entalhação artística, desenho ornamental e nomeação como mestre de cerâmica na Escola Industrial Brotero (Coimbra).

Esta sucinta resenha introdutória tem como objetivo consciencializar, através da materialização das palavras, a faceta de um artista notável no seu talento. Estudar o percurso e produção artística de João Machado é um dever cívico que contempla não apenas a inventariação da obra produzida, mas, de igual modo, o entendimento de Coimbra, entre os finais do século XIX e o primeiro quartel do século XX, como um centro dinamizador das artes plásticas e decorativas numa perspetiva social, económica e cultural.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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