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O projeto, intitulado “Digital Person – Avaliação e gestão de saúde centradas na pessoa e otimizadas por inteligência artificial, à distância em contexto de oncologia ambulatória”, permitirá monitorizar, em tempo real, o estado físico e emocional dos doentes, identificando precocemente sinais de alerta que exigem intervenção. “Esta tecnologia permitirá acompanhar, à distância, como cada pessoa se sente e ajustar o cuidado de forma mais personalizada”, explica a professora Filipa Ventura, coordenadora do projeto, que envolve também o Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e o Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil.
Financiado pelo programa Compete 2030, com 85% do investimento de quase 250 mil euros suportado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e 15% pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) , o “Digital Person” reúne profissionais de enfermagem, engenharia de software, IA e saúde oncológica, além de doentes-parceiros. Esta equipa irá desenvolver o sistema até maio de 2028, incorporando a experiência e o bem-estar subjetivo de cada pessoa, para além dos tradicionais dados clínicos e laboratoriais.
Segundo Filipa Ventura, os atuais sistemas de monitorização “baseiam-se essencialmente em dados objetivos”, ignorando sintomas subjetivos que surgem antes de alterações clínicas mensuráveis. A IA, destaca, “permite identificar padrões complexos e reconhecer precocemente sinais de mal-estar”, possibilitando uma intervenção mais rápida e eficaz. O sistema incluirá também recomendações multidisciplinares para gerir sintomas comuns, como náuseas, vómitos ou fadiga, integrando orientações médicas, farmacêuticas, nutricionais e psicológicas.
Assente numa abordagem ética e centrada na pessoa, o projeto garante a participação ativa dos doentes no desenho e validação do sistema, assegurando que este reflete as suas necessidades e valores. “A inteligência artificial funcionará como apoio ao profissional e à pessoa, nunca como substituto, respeitando sempre a autonomia individual”, sublinha Filipa Ventura. Além de promover uma tomada de decisão partilhada, o “Digital Person” pretende reduzir desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, permitindo um acompanhamento de qualidade independentemente da localização geográfica dos doentes.
