13 de Junho de 2025 | Coimbra
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Vasco Francisco

Inquietação

15 de Novembro 2024

O Sol abria aos poucos as cortinas da madrugada, prometendo um dia iluminado para um mundo padecente de luz. O frio convence a reforçar agasalhos, numa manhã de corrida, numa manhã costumada em que nos despedimos de casa até ao sol posto. São a maior parte dos nossos dias, sair com pouca luz e regressar na escuridão, essa escuridão de novembro, melancólica e aborrecida que só com a proximidade do advento se anima. No entanto, o Outono vai típico, e os dias correm ainda sob um Verão de São Martinho. Valha o novo vinho a luta de quem o criou nas cepas, num ano de tanta batalha contra a resenha do clima e das doenças, esse desafio persistente a cada ano num multiplicar de desafios para quem produz e pouco ganha. Mas não se prova o vinho sem antes degolar as castanhas, essas que reluzem nos olhos e picam na carteira de quem as compra, mas não duvidais do que pagas! Pena que não chegue o maior tostão a quem de direito, quem as apanhou debaixo desses soutos, onde muitas plantas são autênticos reis coroados de ouriços numa lição de longevidade. Decerto ainda as escolhes do cabaz antes de as comprares, vê-las furadas e bichosas, apresento-te assim o estado da nação.

A barafunda das manhãs multiplica-se a cada dia, num país congestionado de obras, algumas de “Santa Engrácia” que Metro a Metro enervam que tem de passar por desvios e alimentar filas que mal circulam. Andam assim cidades viradas do avesso, estradas com falsos remendos, nessa costura que as autarquias se habituaram a mostrar ao povo, esse que vai calando e bufando, somos assim, os portugueses. Apitos e nervos, quem abre o vidro para tomar o ar fresco da manhã respira o CO2 que provoca. As emergências arredam as filas e quando damos conta estamos no mesmo sítio, provando que viagens que se faziam numa hora, passaram quase ao dobro. Se chove, se calha algum acidente, o impasse aumenta, olhas para o relógio pela manhã e perdes a paciência só de pensar onde já estarias, e o tempo que deverias estar no conforto de casa, estás ali ao fim do dia. “E Assim vai Portugal”.

Há indivíduos que pensam contribuir para a inovação, mas na verdade apenas se dilatam no desnecessário. Tudo o que é de mais farta. Chegam promessas, chegam datas de concretização e nem milagres, nem aparições. Há cidades que continuam com poucos parques de estacionamento, com vias inacessíveis, com imóveis históricos e de habitação a degradarem-se, não há mãos que acudam ao necessário, derramando-se a esperança na desculpa do dinheiro que não chega, do papel (burocracia) que não avança. Exceto a pé ou de transporte público, se não for surpreendido por congestionamentos ou greves é cada vez mais difícil chegar ao centro das cidades. Escasseia o bom funcionamento dos serviços, sofre o comércio local e tradicional que a passos largos se vê em vias de extinção. Os centros emblemáticos estão feitos para o turista e para o estrangeiro, numa universalidade crescente que além de vantagens também degrada o que é nosso.

O dia prossegue. O rádio traz-nos a voz dos perigosos vencidos, vozes que parecem trovoadas vindas da América do Norte. O Natal pacífico do Oriente já não existe, e na Europa o inverno será de novo tenebroso. Estará o mundo condenado? Uma condenação de interesse e raiva, há Homens que não são da Humanidade, são do ódio e da destruição.

O país gira envolto de toda esta inquietação onde nos envolvemos, num progresso que é notório ao longo de décadas, pelas conquistas sociais, cívicas, tecnológicas, mas que se desfaz em políticas e polémicas. Em todos os países há falhas, mas porque falhamos tanto?

Independentemente das circunstâncias da vida, agarrem-se a ela da melhor forma, procurando viver com objetivos, com prazer, com saúde e com os melhores que nos rodeiam, agarrando-se sempre ao lado maravilhoso da existência. Quanto ao resto passaremos sempre mergulhados nestas marés, onde só se parecem ver depressões e tempestades.

Continuarão a haver corruptos, a haver fugitivos, as greves serão sempre um direito, especialmente à sexta-feira ou conjugues a feriados. Os impostos continuarão a aumentar, os subsídios continuarão a cair na conta de quem poderia trabalhar e contribuir para um país justo e de igualdade, um canteiro à beira mar plantado a ver passar os navios da migração. Falar de Saúde, finanças, justiça, será sempre falar de muito pano para mangas. E a Cultura meu caro? Será um vaso desamparado, com tantas flores para dar…

As notícias voltam a cada noite e os temas já não surpreendem. Vá lhanos o que de bom por cá se faz e produz em tantas matérias. Um bom vinho, um bom livro, se o cansaço o permitir, é um bom final de dia no meio de tanta inquietação.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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