O Governo vai estudar a possibilidade de a nova maternidade de Coimbra se localizar no Hospital dos Covões. Este anúncio foi feito pelo presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, na terça feira, depois de ter reunido com a ministra da Saúde, Marta Temido.
Manuel Machado considerou que foi “uma reunião de trabalho muito útil”, durante a qual a ministra afirmou que, entre “as hipóteses” para a nova maternidade, “também vai ser equacionada a sua localização no Hospital dos Covões”. Nesta reunião, que contou ainda com a participação do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos, da presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, Rosa Reis Marques, e do presidente do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Fernando Regateiro, Manuel Machado sublinhou que “é óbvia a necessidade da nova maternidade” e “não há razões para mais delongas”.
Recorde-se que a questão da localização da nova maternidade tem mobilizado a cidade, com várias vozes a levantarem-se contra a sua construção no perímetro dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), no polo principal do CHUC, como foi anunciado pela ministra no dia 7 deste mês.
Na semana passada um grupo de profissionais de saúde de Coimbra promoveu uma sessão pública, na Praça 8 de Maio, onde, perante cerca de duas centenas de pessoas, apresentou os vários motivos que fazem dos Covões a melhor opção.
Na sua intervenção, o médico Rui Pato, antigo diretor do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC), atualmente aposentado, considerou que “é um profundo disparate, que não passa pela cabeça de ninguém”, construir a nova maternidade no perímetro dos HUC que, como provam estudos internacionais, “em horário de ponta, têm a maior concentração e congestionamento de trânsito da Europa”. O pneumologista condenou que queiram instalar mais um equipamento numa área totalmente atrofiada, “só para terem tudo à volta, desperdiçando a possibilidade de criarem um polo de saúde no outro lado da cidade, na margem esquerda, que era fundamental”.
O médico argumentou ainda que na margem esquerda do Rio Mondego “já lá está o Instituto Nacional do Sangue, o centro saúde, uma escola de enfermagem e outra de técnicos de saúde e 33 hectares de terreno livre nos Covões”. Para Rui Pato, os argumentos técnicos apresentados para justificar a nova maternidade no perímetro dos HUC “são encomendados” e não são credíveis, estando inquinados “pelos interesses universitários”.
Um grupo de profissionais de saúde de Coimbra promoveu, na semana passada, uma sessão pública, na Praça 8 de Maio, onde apresentou os vários motivos que fazem dos Covões a melhor opção
O médico cardiologista Fernando Martinho, que trabalhou sempre em dedicação exclusiva nos HUC, salientou que as duas maternidades existentes na cidade – Daniel de Matos e Bissaya Barreto – “atingiram o limite da sobrevivência e da dignidade” por falta de recursos humanos e estruturais. “No nosso manifesto consideramos muito importante a necessidade de investimento em pessoal e na recuperação das instalações das atuais maternidades, porque calculamos que a nova vai demorar muito tempo, não vai ser construída em um nem em dois anos”, sublinhou. Quanto à localização da nova maternidade, realçou que, até do ponto de vista económico, fica mais barato instalar a nova maternidade no Hospital dos Covões, que, na sua opinião, ficaria muito abaixo dos 16 milhões de euros anunciados pelo Governo para as novas instalações.
O antigo diretor do CHC Armando Gonsalves defendeu que o Hospital dos Covões deve voltar a ter as suas valências, que foram sendo esvaziadas com a criação do CHUC, e ser dotado de uma maternidade. O cardiologista lamentou que os Covões, um dos melhores hospitais do país nos serviços de cardiologia, otorrino e urgência, “tenha sido destruído, porque acharam que um único hospital seria suficiente para 2,4 milhões de habitantes” da região Centro.
Recorde-se que a nova maternidade deverá substituir as duas existentes na cidade, que realizam aproximadamente 2.500 partos e cerca de 18 mil consultas por ano.