Ceira precisa de mais habitação para poder crescer. Para o presidente da Junta, Fernando Santos, este é o grande problema da Freguesia, condicionando o seu desenvolvimento em todas as áreas. Com boas acessibilidades e qualidade de vida, faltam casas e apartamentos para que as jovens famílias aí se possam instalar, um problema que pode ser facilmente resolvido uma vez que, como sublinha, há muita área para onde crescer.
Com cerca de 4.000 habitantes, Ceira é mais uma das freguesias do concelho de Coimbra que tem vindo a perder moradores. Uma realidade que poderia ser facilmente alterada, caso houvesse mais habitação. Para Fernando Santos esta é a grande lacuna sentida, um problema que o preocupa e que espera possa vir a melhorar.
“Há uma parte da população muito envelhecida mas, ultimamente, têm vindo casais novos para algumas das localidades da Freguesia”, explica o presidente da Junta. Fernando Santos realça que “a procura existe, há muitas pessoas interessadas em comprar casa em Ceira, mas a verdade é que não temos construção”.
Para já, está planeada a construção de dois prédios mas, apesar dos benefícios que trarão, continuarão a “ser insuficientes para fazer face à grande procura”. Acredita que estes novos imóveis “se vão vender muito bem”, até porque “toda a habitação usada que aparece no mercado é vendida rapidamente”.
“Ceira é uma Freguesia com qualidade de vida, bons acessos, uma boa aproximação à cidade, com bons serviços, limpa, com uma rede de saneamento na ordem dos 98 por cento, com um associativismo fantástico e onde temos praticamente tudo à mão. Torna-se, por isso, apetecível para viver e para fixar pessoas”, realça.
A tipologia dos terrenos, bastante irregulares, acarreta algumas dificuldades mas, apesar disso, a Freguesia tem por onde crescer. O autarca considera que, nesta fase, “a questão da habitação é a mais importante para o crescimento de Ceira” e realça que o Plano Diretor Municipal “diz que se pode construir em diversos lados, incluindo propriedade horizontal”. Lembra que estão definidos “sete lotes para construção de prédios” no centro, onde foi aberta a nova rua na área da Junta. Explica que, na altura, a Câmara de Coimbra estabeleceu parcerias com os proprietários mas, até agora, “ainda não finalizou o plano desta zona central, o ‘coração’ de Ceira, onde se encontram a maioria dos serviços, como a sede da Junta, os CTT e o Centro de Saúde”.
“Queremos que a Câmara termine o processo e que incentive a população para que estes lotes possam ser construídos porque há mercado para eles e que, de alguma forma, acabe também este plano, não só com habitação mas também com a construção do parque infantil e geriátrico”, sublinha.
De acordo com o presidente, a procura surge não só na zona central de Ceira mas em todos os restantes lugares da Freguesia – Boiça, Cabouco, Carvalho, S. Frutuoso, Lagoas, Sobral de Ceira, Tapada e Vendas de Ceira. Fernando Santos adianta que a construção já apresenta melhorias desde 2014, apesar de “não serem muito notórias”. Em Ceira são evidentes não tanto na construção de novos edifícios mas, sobretudo, na recuperação de casas antigas, “casais novos da Freguesia” que ali querem ficar, comprando “casas velhas” que depois recuperam.
Qualidade dos transportes beneficia população
Apesar das carências sentidas na área da construção, a nível de transportes está muito bem servida em parte da Freguesia, havendo ainda algumas lacunas onde não há ainda transportes públicos – Cabouco. S. Frutuoso, Lagoas, Tapada, Boiça e Carvalho.
. Fernando Santos lembra que foi das primeiras freguesias e ser coberta pelos autocarros dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), muito graças às necessidades impostas pelo Hospital Sobral Cid, facto que permite que, em poucos minutos, as pessoas se desloquem de Ceira para Coimbra.
Mais recentemente, a Freguesia beneficiou também do alargamento da rede em Almalaguês, ocorrida há cerca de dois meses, com as linhas a servirem algumas das localidades de Ceira.
Sobre o polémico projeto do Sistema de Mobilidade do Mondego, que liga Serpins, na Lousã, a Coimbra, admite que “abalou a população”, sobretudo em termos sociais, históricos e emocionais.
“A questão do Metro é interessante porque teve um impacto enorme quando se arrancaram os carris, o que nos privou do comboio. O ramal e as automotoras faziam parte do quotidiano de Ceira, da história de vida das pessoas. Quando isto foi arrancado ficou um vazio, porque em vez das automotoras só se via o estrago feito. Isso foi chocante para as pessoas, sobretudo as mais velhas. Nalguns casos nem foi tanto pelo serviço, foi mais pelo arrancar de um pedaço de história, pelo impacto social e afetivo forte que teve”, frisa.
Fernando Santos acredita que agora não haverá mais retrocessos. Os comboios não voltarão, para já, a circular no antigo ramal mas a comunidade vai poder contar com o Metrobus. “A parte não urbana, que vai de Serpins ao Alto de S. João, está a andar. Se me perguntarem se esta é a melhor solução, direi apenas que o que me interessa é que as populações fiquem bem servidas. A verdade é que já foram gastos milhões de euros, foram feitos dezenas de estudos e, até agora, ainda não vimos nada”, recorda.
Perante esta realidade, deseja é “ter um serviço que seja eficaz, amigo do ambiente, que transporte pessoas e sirva a comunidade”. Considera que o que se tem vivido nos últimos anos “é uma vergonha, com infraestruturas feitas e dinheiros públicos gastos que não serviram para nada”. Quer, por isso, ver o Metrobus a circular, a ligar Lousã e Coimbra passando por Ceira, com “todas as mais valias” que isso trará para os concelhos envolvidos e também para a sua freguesia.
Parque infantil e geriátrico é prioritário
Fernando Santos considera que Ceira está bem servida em termos de serviços, com a comunidade a conseguir encontrar aí tudo o que precisa no dia a dia. Continua, contudo, a faltar um parque infantil e geriátrico, um equipamento que sirva não só as crianças mas todas as faixas etárias, promovendo o lazer, o desporto e a partilha entre várias gerações.
“Esta é uma lacuna que a Freguesia tem, pois não existe em Ceira nenhum parque infantil. Esse será o único projeto que vamos propor à Câmara de Coimbra no plano de obras para 2020 e esperamos que se concretize ainda este ano”, adianta. Fernando Santos gostaria que esse parque infantil e geriátrico ficasse instalado no centro da vila, no recinto da Junta, já que, por um lado, é aí que se encontram a creche e jardim de infância e, por outro, o executivo quer transformar aquela área no “coração” da Freguesia.
“Vamos propor à Câmara que seja feito mesmo aqui ao lado da Junta, num terreno que é propriedade da autarquia e que esperamos que o sr. presidente nos ceda para instalar esse parque e que nos ajude a, de alguma forma, compor aqui esta zona central, contribuindo para o seu embelezamento e harmonia”, explica.
A nível de creches, jardins de infância e escolas, Fernando Santos considera que Ceira tem as respostas necessárias, com algumas valências a funcionarem no seu limite máximo de ocupação. No que toca à resposta para seniores há também boas respostas e destaca o trabalho que tem vindo a ser feito, nesta área, pela Celium e pela Conferência de São Vicente de Paulo.
A comemorar 25 anos, a Celium faz “um trabalho fantástico a nível social e é o maior empregador da Freguesia”. Fernando Santos adianta, ainda, que esta instituição vai iniciar em breve a construção de um lar de idosos, em Sobral de Ceira, mais um equipamento que será fundamental para este território, uma vez que a Celium serve também as comunidades vizinhas.
A Conferência de São Vicente de Paulo faz também “um trabalho notável”, sendo este “mais direcionado para as pessoas que mais precisam”, acompanhando as famílias com bens alimentares, vestuário e outros apoios de que necessitem.
Apesar desse apoio que é efetuado ao longo de todo o ano, Fernando Santos congratula-se por não existirem “casos de pobreza extrema” em Ceira. Existem “pessoas com dificuldades, como há em todo o lado”, que estão sinalizadas e são acompanhadas, mas “não há situações de pobreza violenta”.
Supermercado precisa-se
A existência de uma pequena ou média superfície é outra das carências sentidas em Ceira. Apesar da proximidade a Coimbra e da boa rede de transportes, a população sente falta de ter um supermercado mais perto de casa. Este equipamento poderia servir também quem atravessa Ceira, um local de passagem para vários concelhos vizinhos.
Sem uma agência bancária na Freguesia, o autarca gostaria de contar também com mais um multibanco, na zona mais central, lamentando que a Junta não tenha possibilidades de o colocar nas suas instalações.
Em projeto está também a ampliação do cemitério, uma obra da responsabilidade da Câmara, havendo a promessa do presidente, Manuel Machado, de que será lançado o concurso este ano. A Junta já retirou o estaleiro do cemitério, para um terreno situado no perímetro da sede, e aguarda agora pela “construção de cerca de 70 novos ossários no cemitério”.
Outra das obras que Fernando Santos considera prioritárias é a abertura da Rua Central, que liga a Junta à Igreja. Também esta é uma intervenção da responsabilidade da autarquia que o presidente de Ceira gostaria de “ver feita rapidamente”, já que é “fundamental para dinamizar o centro”.
“A Câmara tem tudo o que é necessário para iniciar o projeto. É uma obra que já devia ter sido começada, já mandámos para a autarquia o dossier todo que é preciso para iniciar os contactos com os proprietários, eles têm vontade de negociar para ceder os terrenos, portanto está tudo nas mãos da autarquia”, frisa, esperando que todos estes projetos se concretizem, de forma a garantir mais qualidade de vida à população e a contribuir para o crescimento e maior atratividade de Ceira.
Associativismo rico e dinâmico
A Freguesia de Ceira conta com um “associativismo riquíssimo”. Com várias coletividades, em cada uma das nove localidades, conta com “uma dinâmica fantástica”, tanto a nível social, como cultural e recreativo.
Fernando Santos, presidente da Junta, congratula-se com toda a atividade que asseguram ao longo do ano. No Carvalho, enaltece o trabalho feito pelo Centro de Convívio, que conta com umas instalações muito boas e que, para além dos grupos folclórico e de música, presta ainda apoio à comunidade, a nível social e recreativo.
Em Lagoas, enaltece o trabalho que o centro também desenvolve, estando aberto todos os dias, proporcionando um espaço de convívio e lazer a toda a comunidade.
S. Frutuoso conta também com um espaço semelhante mas, para além disso, tem ainda um grupo de teatro e um grupo musical de cordas.
O centro de Cabouco e da Boiça abrem apenas nas festas, mantendo também por isso alguma atividade.
Sobral de Ceira conta com uma “estrutura fantástica, com o seu grupo de teatro, os Saltimbancos e com o grupo de atletismo que, como realça o presidente, conta “atualmente com 80 atletas e tem feito sucesso por esse país fora, como o provam os imensos prémios conquistados”
Em Ceira destaque para a Casa do Povo, com o seu Grupo Folclórico; Associação Recreativa e Musical; os Escuteiros; e a Filarmónica; que fazem também um importante trabalho na divulgação da Freguesia e das suas tradições.
“Todas estas coletividades mostram a dinâmica associativa que há em Ceira atualmente, numa altura em que não é fácil manter o associativismo ativo. Aqui existe, está bem vivo e há uma ligação muito sã entre as várias associações”, sublinha, dando como exemplo a Ceirarte, o grande evento anual que conta com a parceria de todas elas.
O presidente considera que este sucesso e dinâmica são possíveis porque “remamos todos para o mesmo lado”, num “espírito de união e de missão” que permite que o associativismo continue com esta pujança.
Descentralização traria mais poupança e autonomia
Várias freguesias do concelho de Coimbra – e de todo o país – anseiam pela anunciada descentralização de competências, que lhes permita receber diretamente do Orçamento de Estado, sem estar dependentes dos municípios.
O presidente de Ceira acredita que este processo vai trazer “não só mais autonomia mas também mais poupança e rapidez” na concretização dos projetos, já que “dá mais liberdade e poder de iniciativa” às juntas. O autarca explica que, muitas vezes, “obras simples demoram anos porque as juntas não têm capacidade de as fazer”. Sendo as que estão mais próximas das pessoas, conhecem bem quais são as intervenções prioritárias. “Imagine que cai um muro. Temos que pedir à Câmara, que demora meio ano a fazer o projeto e outro tanto a entregá-lo. Se tivéssemos acompanhamento técnico e meios nas juntas, essas obras faziam-se muito mais rapidamente e a gastar muito menos”, esclarece, lamentando que não haja “grande interesse por parte das câmaras municipais em transferir essas competências para as juntas de freguesia”.