Escrevi em vida o que repito após a sua morte: FRANCISCO AMARAL era mais do que um dinâmico e criativo produtor radiofónico e televisivo. O XICO AMARAL foi um companheiro marcante na comunicação social e no ensino da multimédia na nossa cidade. O Dr. FRANCISCO AMARAL como docente do ensino superior aliava, naturalmente, uma sólida formação cultural a uma prática criativa e esteticamente relevante; e tudo isto adornado por uma forma de estar com perfumada elegância denotando uma esmeradíssima educação e forma de ser exemplar e quase difícil de igualar. FRANCISCO AMARAL foi um cavalheiro, um camarada, um companheiro que nos marcou e por certo marcou positivamente todos aqueles que o acompanharam. Dotado de uma enorme capacidade de trabalho, jamais pactuando com atos menores, sobressaía, no que produziu, uma estética exigente e apurada depurando todo o produto final do qual também foi responsável numa época em que a rádio seguia Guiões e era devidamente planeada. Como companheiros na RDP/RTP/ANTENA 1 (nem sabemos qual a nomenclatura a utilizar) o FRANCISCO destacou-se na equipa do programa SABATINA como um criativo, um europeísta e especialista em música e cinema. Dissecou dezenas de trabalhos discográficos lançados no mercado qual crítico musical de elevada estirpe (e ”são os indivíduos que dão nobreza à estirpe”); soube ver, rever e converter para rádio alguns dos principais filmes dos anos oitenta que passaram em Portugal; foi o responsável pela ligação a cronistas de Bruxelas que nos colocaram em contacto com a Europa em União.
Coimbra teve nesses anos oitenta influência no país através da rádio e de tal forma o podemos demonstrar que o cantautor FAUSTO veio lançar, nesta cidade e nesse programa, o álbum POR ESTE RIO ACIMA baseado na PEREGRINAÇÃO do montemorense Fernão Mendes Pinto que veio a ser o primeiro jornalista português de viagens. Trabalhar com o XICO foi um privilégio e uma honra e julgo que os restantes companheiros deste e de outros programas subscrevem este ponto de vista. Um dia o FRANCISCO abalançou-se, também no Serviço Público, a produzir, realizar e apresentar um programa feito à sua imagem e a refletir os seus “estados de alma”. Numa passagem de ouvidos, numa audição desprevenida o programa surgia quase melancólico, porém ouvido com ouvidos bem abertos permitia descobrir na ÍNTIMA FRAÇÃO uma emissão radiofónica POR INTEIRO toda feita à dimensão cultural do seu autor: uma joia de arte, um quase tesouro radiofónico pelos sons, pelos silêncios, pelo empréstimo de frases de grandes escritores, pelas músicas escolhidas à lupa, pela filigranada sensibilidade. Quase um programa para elites apesar do XICO ser um democrata, um humanista, um apaixonado e defensor da Liberdade e da Democracia. O XICO só ignorava os ignorantes e a ignorância. Perfeccionista, apunha a marca da qualidade como chancela no que fazia.
O FRANCISCO AMARAL viajou intimamente nos últimos trinta e cinco anos com a sua benquista ÍNTIMA FRAÇÃO. Transportou-a consigo e aconchegadamente para a TSF, depois para a Rádio Universidade, para o Rádio Clube, para a Radar, para o Expresso Online, para o podcast e, por último, por gentileza para connosco, enviou diversas emissões para a FOZ DO MONDEGO RÁDIO em 99.1 fm que a continuará a transmitir como HOMENAGEM PÓSTUMA AO AUTOR da ÍNTIMA FRAÇÃO nas madrugadas de domingo para segunda e de segunda para terça-feira entre a meia-noite e as duas da madrugada. Dizem-nos que o XICO AMARAL partiu, mas a sua obra ficou. Irei continuar a escutá-lo e a escutar o programa ÍNTIMA FRAÇÃO que até tem POUCO PARA DIZER, mas tem… MUITO PARA ESCUTAR E TUDO PARA SENTIR. Continuarei a ter o FRANCISCO AMARAL bem perto de mim e do meu coração. E acreditem que é treta proclamar-se que os homens não choram. Choramos, sim, pela perda dos grandes amigos, dos grandes homens, dos homens bons… só que não dizemos que estivemos a chorar para não dizerem que somos piegas. Domingo à meia-noite lá estarei à escuta e vou ouvir-te, XICO, a anunciares: ÍNTIMA FRACÇÃO… MUITO PARA SENTIR. Sentir-te-ei presente. Sei que devia falar aqui das tuas incursões pela TV SAÚDE, pela TSF COIMBRA – Rádio Jornal do Centro e na direção dos programas da ESC TV na RTP 2. Prefiro sentir-te sempre por perto e inesquecível porque pouco direi do muito que de bom há para dizer de ti, FRANCISCO. Mas tenho que lembrar que a tua amada FILHA INÊS, lucidamente, tem prestado bonitos depoimentos da tua Pessoa, da Tua Obra ou como tu costumavas dizer parafraseando o Artur Jorge da nossa BRIOSA: fala das coisas lindas que foram feitas. E o teu corpo deixou-nos a 17 de abril. Coincidência! Não foste tu que pediste a palavra na sala das Matemáticas em 69 a 17 de abril, mas estás na lista dos que ajudaram Portugal a ser livre…pela palavra inteligente e enxuta nos média e pelo requinte dos preciosos e íntimos sons que sempre e bem escolheste e com os quais bem conviveste.