10 de Dezembro de 2024 | Coimbra
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MANUEL BONTEMPO

Figuras da Arte

9 de Novembro 2018

Alda Belo, inteligente e culta, foge ao trivial, à cópia e quando se cansa dum motivo prepara outro caminho e não usa efeitos literários fáceis ou meras observações de banais ficções, sente por dentro e cria o que temos há muito no nosso subconsciente numa clivagem de caracteres, tão expressivos nesta fecunda trajetória que já leva mais de quarenta anos, numa teimosa intransigência, que é o seu fado, o seu destino, de ser predestinada, de ser filósofa pelos pincéis, pelos temas, e cuja paleta é deslumbrante, remoçada, vigorosa, que a conduz sempre às soluções certas.

Depois, ainda em Moçambique, onde foi professora virou-se para as “naturezas mortas” onde alcançou um enorme êxito consagrado em Portugal, a par de Margarida Vigoço.

Neste género que requer um desenho perfeito impressionou a crítica pelo seu fio poético e embriagada pela leveza dos pincéis que escorrem maravilhas na excelente bagagem da sua cultura versátil, percorre mil caminhos a paisagem, a figura, uma assombrosa capacidade de desenhar, de conceber a figura feminina sem enfraquecimentos.

Torna-se das mais singulares pintoras do país e as suas exposições em Coimbra foram um modelo e lição para muitos mestres do nosso burgo, isto na afirmação dos génios como José Berardo, Zé Penicheiro, Mário Silva, João Mário, Vasco Berardo, tudo gente de alto gabarito!

Embora retirada dos grandes festins da arte é ainda, e sempre, a melhor intérprete de “naturezas mortas”!

É que Alda Belo não usa o figurativo em pintura, no pior sentido; antes recria, inventa, retoma diálogos, desenvolve teses.

Há nervosidade nos gestos dos seus quadros, reações vivas, que, paradoxalmente, é ainda o substratum da sua pintura e da sua personalidade como há 20 anos atrás quando a entrevistámos pela primeira vez para um jornal de Lisboa.

Simplista e complexa a sua pintura de pendor naturalista não é vencida pelos “ismos” e conserva-se vertical no cromatismo, nas linhas, nos traços, na geometria da linguagem que se liberta pelo sonho e cresce no explicar tudo o que lhe vai na alma!

E é muito. Ou não fosse autora de cinco livros de poesia!

A pintura e a poesia são uma fonte de arte. E Alda Belo reúne, como a crítica tem denunciado, as tendências predominantes de uma pintura de inspiração.

Estas linhas vêm a propósito de meia dúzia de quadros desta artista de Coimbra numa coletiva vista, por acaso, numa viagem ao IPO, no Porto, a um regular tratamento.

E não será a sua extensa obra um grande poema?


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