Os jornais são um bem da nossa humanidade. Nada os substituirá como suportes de uma esfera pública atenta e crítica. Veio a rádio, depois a televisão, agora a internet e as redes sociais, amanhã outras expressões de sociabilidade e de partilha de informação. Mas nada, nunca, tirou o papel dos jornais como elementos centrais da esfera pública.
Comemorar o centenário de um jornal é, por isso, ensejo para renovar o compromisso com um espaço público de liberdade, de confronto sem medos entre leituras diferentes do fluir da História. Mas é mais que isso: é oportunidade para louvar quem noticia com humildade diante do que se passa. Não que os factos não possam e não devam ser comentados e julgados. Mas o trabalho da notícia, da informação rigorosa sem a deturpação do programa político disfarçado de comentário, esse é tão inestimável quanto espécie em vias de extinção.
“O Despertar” é um jornal tão local quanto todos os outros. Porque aqueles que se ufanam de ser globais são os mais provincianamente locais de todos. E os que se orgulham de ser locais valorizam a seriedade de verem a realidade a partir de um posto de observação que tem sempre base territorial.
Acresce a tudo isto que um jornal que tem por nome esta convocação ao não adormecimento e à vitalidade a tempo inteiro merece, só por isso, um respeito redobrado. Sim, nestes dias de tanta perplexidade pelos movimentos do mundo e de tanta dificuldade em ler os sinais dos tempos, despertar é a atitude certa. Que haja um jornal que nos chama para isso a partir do seu título e que esse jornal celebre 100 anos é motivo de festa e de compromisso, é sim senhor.
JOSÉ MANUEL PUREZA (Deputado e vice-presidente da AR)