As consecutivas falhas informáticas prejudicam a atividade clínica e o atendimento aos doentes. A conclusão é da Sessão Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), no âmbito do estudo que realizou na sequência das inúmeras queixas e reclamações sobre a funcionalidade e operacionalidade de muitas das aplicações informáticas utilizadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), designadamente sobre o Programa Sclínico.
De acordo com a SRCOM, o estudo conclui que, dos médicos que responderam ao inquérito, 79,2 por cento afirma que o programa SClínico não é rápido, 42,5 por cento diz que não é fácil e 62,6 por cento dos inquiridos afirma que não facilita o trabalho em ambiente de consulta. Pior: 82,1 por cento dos médicos que responderam ao questionário dizem que o programa informático Sclínico provoca novos problemas que interferem na atividade clínica.
Estes números concretizam as inúmeros denúncias da SRCOM. “A fraca e péssima qualidade deste serviço prestado pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, EPE (SPMS) faz com que seja cada vez mais difícil, por exemplo, consultar o registo clínico, prescrever medicamentos e Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica”, realça, em comunicado enviado.
O estudo mostra ainda que este programa apresenta erros e bloqueios frequentes, situação reportada por 84,9 por cento dos inquiridos. A percentagem de respondentes que afirma que o serviço de apoio informático – ServiceDesk é ineficaz atinge os 74,4 por cento.
“Os responsáveis dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde desconhecem a dimensão e a gravidade do problema porque não se deslocam às unidades do SNS. A inércia da entidade responsável pela gestão do sistema informático do SNS está a causar graves problemas, com forte impacto na vida dos utentes”, afirma Carlos Cortes, presidente da SRCOM.
“Esta recolha de dados confirma os nossos alertas. A informatização clínica do SNS não é eficaz nem eficiente. Além das inúmeras dificuldades já existentes no SNS, a sistemática incompetência demonstrada na introdução de novas funcionalidades está a prejudicar o trabalho dos profissionais”, realça ainda o presidente, considerando que este problema provoca um “impacto inaceitável sobre os doentes, obrigando ao cancelamento ou adiamento de consultas”, havendo doentes que “voltam repetidamente ao seu Centro de Saúde, apenas e só, devido aos problemas dos constantes bloqueios do sistema informático”. Carlos Cortes deixa, por isso, um apelo aos SPMS: “Antes de se avançar com novos sistemas é necessário resolver estes bloqueios desesperantes”.
Este estudo baseou-se numa recolha de dados, com mais de 500 respostas, realizada através de questionário online anónimo voluntário, no mês de dezembro de 2018. De acordo com a SRCOM, “todos os dias chegam à Ordem dos Médicos queixas, denúncias e alertas”.