23 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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Estudo sobre novos fármacos de combate ao cancro distinguido

24 de Maio 2019

Um estudo que avaliou, pela primeira vez, o impacto de fármacos anticancerígenos na água do interior das células foi distinguido com o Society Impact Award 2019, anunciou recentemente a Universidade de Coimbra.

Este prémio foi atribuído pelo ISIS Neutron and Muon Source, laboratório que possui “um dos mais potentes feixes de neutrões e muões do mundo”, localizado no Reino Unido, refere a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em nota enviada.

Lançado em 2018, o prémio ISIS Impact Award reconhece “o impacto científico, social e económico do trabalho desenvolvido pela comunidade de utilizadores das instalações do centro”, que é de cerca de um milhar de cientistas, de todo o mundo, por ano.

Liderada por Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho, da Unidade de I&D Química-Física Molecular (QFM) da FCTUC, e investigação agora premiada visa, como explicam os responsáveis, “o desenvolvimento de novos fármacos antitumorais com múltiplos locais de ação, a designada quimioterapia multialvo, que permite aumentar a eficácia do tratamento de doentes com cancro, principalmente em casos de prognóstico muito baixo”.

Geralmente, explicam os dois investigadores, citados pela FCTUC, “os medicamentos de combate ao cancro têm um único alvo (uma molécula recetora, que pode ser o ADN, uma proteína específica, a membrana da célula, etc.)”.

Mas, sublinham, “se se conseguir um fármaco que atue simultaneamente em vários locais da célula, a eficácia do tratamento será maior e terá menos efeitos tóxicos para o paciente”.

Sabendo-se que a água, a substância mais abundante dentro da célula, é essencial para o seu bom funcionamento, os investigadores decidiram estudar o comportamento dos diferentes tipos de água intracelular na presença de fármacos anticancerígenos.

“Só conhecendo todas as mudanças que os medicamentos desencadeiam na estrutura da água no interior da célula é possível avaliar de que forma esta água pode ser usada como um alvo terapêutico”, realçam os investigadores, dando conta que esta é “a primeira vez que se tenta perceber o efeito de fármacos na água intracelular”.

A equipa de investigadores inovou também na realização das experiências, colocando células cancerígenas humanas sob a ação de um feixe de neutrões. Para isso, tiveram de cultivar e incubar com o fármaco um número extremamente elevado de células cancerígenas humanas imediatamente antes da aquisição dos dados.

Trata-se de “experiências muito complexas, que exigem a utilização de milhões de células vivas”, sublinham Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho, especialistas que trabalham no desenvolvimento de novos fármacos contra o cancro há cerca de duas décadas.

Foram testados dois fármacos, em dois tipos de cancro muito agressivos: carcinoma de mama metastático (triplo-negativo) e osteossarcoma (cancro de osso, que afeta particularmente crianças e adolescentes). Primeiro, foi avaliado o efeito de um medicamento conhecido – a cisplatina – e, numa segunda fase, foi testado um fármaco desenvolvido por estes investigadores da QFM (ambos os compostos têm como alvo principal o ADN da célula).

Os resultados foram bastante promissores, sustentam os coordenadores do estudo, salientando que, “no seu conjunto, verificou-se que os dois fármacos afetam a água intracelular nos tipos de cancro agora estudados”, adiantando ainda que se observam “diferenças significativas no modo de ação dos dois medicamentos, dependentes ainda do tipo de cancro”.

Observou-se, por outro lado, um duplo efeito dos fármacos na dinâmica da água intracelular. A água do citoplasma tornou-se mais rígida, enquanto a água de hidratação das biomoléculas que se encontram no interior da célula (que funciona como uma capa protetora) tornou-se mais flexível.

De acordo com os investigadores, este efeito duplo é “muito positivo, porque significa que provavelmente as biomoléculas não irão funcionar normalmente, levando à morte celular, que é o que se pretende numa célula doente”.


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