Cerca de três dezenas de especialistas vão juntar-se, na próxima semana, em Coimbra, para analisar as obras públicas que marcaram o período do Estado Novo. As obras mais emblemáticas do regime de Salazar vão estar em destaque na terça e quarta feira (6 e 7 de novembro), durante o colóquio que decorre no Anfiteatro II da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
Este colóquio, que tem como tema “Obras Públicas no Estado Novo”, tem comissão científica assegurada por Luís Miguel Correia, do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DARQ-FCTUC), e Joana Brites, da FLUC, ambos investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20).
De acordo com os dois docentes e investigadores, esta iniciativa pretende “realizar um balanço, necessariamente crítico, das muitas e multifacetadas obras públicas promovidas pelo Estado Novo, focando o seu papel na afirmação do próprio regime, os seus protagonistas e o seu legado construído”.
A conferência de abertura, que reúne também uma nova geração de investigadores que através dos seus recentes trabalhos tem produzido uma renovada leitura sobre a obra do regime, é proferida pelo historiador britânico Roger Griffin (Oxford Brookes University), renomado historiador do fascismo, permitindo situar internacionalmente a problemática das campanhas de obras públicas no quadro dos regimes fascistas e do modernismo.
De seguida, Ana Tostões reflete sobre a “Arquitetura das obras públicas como um instrumento do Governo”. A questão da monumentalidade e da imagem de regime são o fio condutor desta apresentação sobre a busca do monumento convocado nas diversas vertentes: retórico clássico, pastoral regional e moderno radical.
“O Ministério das Obras Públicas de Duarte Pacheco”, “Ser arquiteto num tempo [1930-1950] e num lugar [Portugal]”, “Obras públicas e ‘melhoramentos’ locais: entre Lisboa e o País (real)”, “A ordem identitária das obras públicas”, “Mobiliário e obras públicas”, “Monumentos Nacionais: a construção de um legado” e “O Livro de Ouro da Exposição 15 Anos de Obras Públicas: arquitetura e propaganda” são temas a abordar também neste primeiro dia que termina com a exibição do documentário “Quinze Anos de Obras Públicas”, apresentado em 1948 no âmbito desta iniciativa do regime estadonovista, cuja realização pertenceu a António Lopes Ribeiro, Felipe de Solms e Carlos Filipe Ribeiro.
O segundo dia é dedicado à discussão dos planos gerais de urbanização, das várias tipologias arquitetónicas programadas e construídas pelo regime e, a terminar, ao papel das obras públicas na infraestruturação do território colonial. Infraestruturas hidroelétricas; equipamentos escolares; habitação de intervenção estatal; as filiais e agências da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência; arquitetura hospitalar, judiciária, religiosa, de cultura e lazer; e os edifícios dos CTT vão estar em destaque neste segundo dia.