Esta pintora recria toda a natureza na elegância das formas, na delícia do convívio com os seus quadros, que representam, mentalmente, as mil personagens do seu mundo onírico e a satisfação específica que se dilui em formas subtis e no dinamismo dos conteúdos.
Pintora que procura sempre as faculdades superiores há muito que se distingue no desenvolvimento das suas atividades espirituais, que estão nas cores, no singular desenho, na vida consciente e no saboroso instinto, de criadora, nas energias que são, em parte, a consciência biológica de uma artista admirável que transfigura velhos conceitos em novos conceitos, nas relações lógicas nas metamorfoses, de exposição em exposição, quando em Coimbra e em outras partes, a sua atividade foi ao encontro com a beleza e via de encontro entre artistas e o público em singulares tertúlias.
Foram tempos de a pintura nesta cidade ser “coisa viva” com um público interessado nas salas de exposições então existentes, como a do Primeiro de Janeiro, a Mutualidade, e em espaços largos de hotéis.
Alda Belo é das maiores pintoras de Coimbra, e não só, bem conhecida nas tertúlias e galerias.
Teve o seu tempo esplendoroso e deu um vasto contributo na pintura da cidade do Mondego.
Considera a pintura como um credo ou a ciência da natureza, partindo da fé e das causas, como concebe o quadro, tantas vezes olhando para a tela branca, começando a pintar, num ato inteiramente intuitivo, quase sem reconhecer no princípio o objeto ou as leis, como uma sonâmbula, acorda e na experimentação empírica e psicológica, depois singularmente, acorda e nasce a verdade que constitui afinal parte universal e abstrata da sua filosofia, sui generis, elaborando em minúcia quadros raros, na luz e sombra, nos cheios e nos vazios, determinando as razões pinturiais, que já há muito formaram as previsões, de uma ciência exata, evolutiva, sempre nova sem excessos dos realistas ou a estética dos parmasianos, mas, isso sim, o subjetivismo temático, que as ajuda, em outros motivos e Susan Harrison ou Edmundo Cruz e mesmo a José Berardo, nas conquistas formais e no simbolismo dos conteúdos, quase românticos, que são autenticamente “austeres études”, de uma grande pintora, que se aperfeiçoa num processo de versificação. Como poeta que é com edição de cinco livros.
A razão discursiva, por outro lado, está patente nos teus quadros, no desenvolvimento das ideias, na harmonia da forma e num saboroso exotismo temático.
A pintura desta artista tem todas as condições de leitura universal, pois possui uma gramática larga, escorreita, com a combinação das leis, teorizando para construir em definitivo o quadro, entre a sensibilidade e a inteligência, numa melodia articulada, onde o verbo, a música se diluem, para ficar nas tintas, nas cores, os desenhos, as prodigiosas naturezas mortas, das melhores do país.
Alda Belo se ergue como heroína contra a alteridade pinturial para recriar o velho em novo, como o Eclisiástes!
E a sua pintura é a musicalidade da forma poética, romântica, quase função divinatória, de uma predestinada que cria a sua obra, com talento mas sem falsos gongorismos como se encolhendo por dentro ou por detrás dos seus quadros, sem se colocar nos bicos dos pés!
É beleza transfigurada, como a pintora fizesse os seus versos dos cinco livros e a sua arte na pureza da cor, na intuição feminina do cromatismo, sempre rico na imaginação lhe valeu ser das mais criativas pintoras de Coimbra, onde obteve êxitos e os elogios da crítica e do público, este sempre o melhor aferidor da verdade artística…
A sua pintura é vida. É coisa móvel. Mexe com a gente.
Respiramos beleza e faz-nos lembrar poesia, amor, alegria, sentimento, a secreta inspiração dum amor de mulher, que nós, desejássemos, tal a sedução de bem-aventurança nos transmite as telas desta valiosa pintora.