EPITÁFIO
Agora é-me indif’rente a própria vida…
– Agora que cortei as minhas asas,
Que derrubei castelos e até casas,
Não almejo chegada nem partida.
Que já não cicatriza a alarve f’rida,
Que a dor não vem de gelo nem de brasas,
Faço de quaisquer camas campas rasas,
Com epitáfios de calúnia tida.
Agora que me sou sem ser quem fui,
O Mundo inverso sobre versos rui,
Num silêncio que deixa a voz dormente.
Que me aconteço fruto de outra lavra,
Não me sobra, sequer, uma palavra…
– Agora a própria vida é-me indif’rente!