Há livros que nos surpreendem e que nos conquistam a cada página. É o caso das obras de Eurico Machado Costa, autor coimbrão com raízes açorianas, que prova a existência de excelentes autores contemporâneos que se inspiram no passado para nos trazer belas obras ao presente. Perante cada romance deste criador somos mais que meros leitores, somos viajantes, sendo ele o nosso guia ao passado, ao património e à própria sociedade.
Com a leitura dos seus romances, de uma trilogia em breve completa, somos convidados a mergulhar nas suas palavras que nos fazem viajar no tempo, pelo país e pelo mundo de uma forma singular e aprazível. Através de uma escrita muito original e apelativa, Eurico apresenta-se muito versátil nas suas palavras, que quando lidas atentamente se traduzem em enriquecedoras lições de história, de arte, de sociologia, até mesmo de um português romântico e popular.
A prova de que escrever é uma arte, adotando cada autor o seu próprio estilo, evidencia-se no enredo das letras deste homem que merece ser lido e abordado. Dos vários temas que expõe e complementam os seus romances, faz renascer tempos idos, paisagens e gentes de outrora. As suas palavras guiam-nos ao detalhe, procurando ressalvar desde o pormenor mais simples ao mais recatado, manifestando a vontade de levar o leitor ao próprio espaço e acontecimento. Da sua forma particular, o estilo literário de Eurico Machado lembra algo Queirosiano, uma analogia refletida por muitos, fazendo dele quase um Eça contemporâneo que ainda muito nos tem para dar.
Qualquer livro do autor de “A princesa do Mondego” se poderá juntar a uma estante de clássicos. Neste seu primeiro romance dedicado à Lusa Atenas, o autor presta um nobre ato de preito a esta cidade que o acolheu há quase 30 décadas. Talvez dos livros que mais bem apresentam o pretérito de uma cidade e de uma região. Uma obra carregada de histórias e memórias, onde a “velha Coimbra” é o palco de figuras bem típicas e identitárias, doutores e futricas, estudantes e tricanas. Coimbra apresenta-se nas palavras de Eurico de uma forma eterna e memorável, sendo esta sua obra merecedora de uma leitura “quase obrigatória” de qualquer amante de Coimbra que com ele acaba por percorrer as artérias da baixa e da velha Alta, as margens e os areais do Mondego, acaba por vivenciar e desejar o romantismo da Coimbra boémia e das paixões.
Com o “Filho do Marquês” juntam-se novos quadros à sua obra, começando esta segunda “viagem” no arquipélago dos Açores. Uma história de sentimentos, um cruzamento entre o Atlântico e o continente num enredo que nos prende ao livro. O detalhe histórico e social salienta-se de novo num romance de excelência.
Começa a não fazer sentido referir Eurico Machado Costa apenas como um escritor regionalista. Os seus romances provam-nos cada vez mais o enaltecer de um romancista sem fronteiras geográficas ou literárias. Continuemos a viajar na sua obra, aguardando para breve uma viagem até África.