É a partir deste aforismo popular que vamos falar de uma realidade que em tempos acontecia por estas alturas. Todos sabemos que outrora, sobretudo quem trabalhava e vivia da terra, carecia de respostas, que se não fossem as mais fiáveis eram em tudo as possíveis. E a necessidade levou o homem, através de gerações, a observar a natureza e a tirar dela os ensinamentos que lhe davam a sobrevivência e a vida. De entre eles há este, que agora tomámos como tema, conhecido por arremedas, (de arremedar/imitar/repetir) e que se baseia numa crença que as pessoas ligadas à agricultura mantiveram por necessidade de soluções para os seus trabalhos, a partir do começo de cada ano.
Observavam então os nossos avós o estado atmosférico que acontecia nos primeiros doze dias de janeiro, acreditando que, por ordem, cada um deles correspondia ao mês sequencial. Quer dizer, o tempo que fizesse no dia um era arremedado pelo mês de janeiro, o que fizesse no dia dois por fevereiro, no dia três por março, e assim sucessivamente, pois tal dia, tal mês! Tomemos como exemplo a época em curso, numa observação localizada na Caniceira, ali bem no coração da Gândara, aquela terra de onde em tempos saíram os ranchos de gente que uma vez semearam a floresta. O dia primeiro foi quente e com sol, mas já o dia dois, apesar do sol, teve por ali geada, e ao fim da tarde vento frio. E no dia três, pela manhã estava tudo branquinho, e só depois do meio-dia é que veio o quente! E a tia Maria do Finfas, que era quem ali nos contava tudo isto, logo remata: – Janeiro vê-se bem que está a arremedar o dia de ano bom. Fevereiro, que vai matar a mãe ao soalheiro há-de arremedar o dia dois daquela maneira, e março, o marçagão, que de manhã dá frio e à tarde verão arremedará da mesma maneira o dia três. E concluiu que era assim que as pessoas do campo planeavam as suas vidas, quando tinham que lidar, semear e colher, pois então não havia as notícias que há hoje! Disse ela ainda, que para ter a certeza se batiam certas as previsões, o que era fundamental que acontecesse, tomava-se de novo em conta os doze dias seguintes, entre treze e vinte e quatro de janeiro, onde outra vez o tempo do dia 13 havia de corresponder a janeiro, a catorze o fevereiro, e por aí fora. – Era àquilo a que o povo chamava as desarremedas, que consistiam em desfazer o que antes havia sido feito, repetindo por isso esta outra operação de arremedo, por forma a terem-se as confirmações possíveis. Porém, se o tempo estava manhoso e havia dúvidas, era às primeiras arremedas a que se recorria, pois elas tinham acontecido antes destas outras, completa a nossa interlocutora. Num preito de agradecimento a quantos como a tia Maria tanto sabem e tanto nos ensinam, permito-me, com um mesmo sentimento, evocar aqui Leopold Senghor e aquele seu pensamento, ao dizer que um velho que morre é uma biblioteca que arde!