Ilusões eu já tivera
De gaivotas sobre o mar,
Mas agora estou à espera
De outra Luz: a do Luar.
Burilei o sal e o peixe
Com o afã dos próprios versos.
Quero, apenas, que a Voz deixe
Cantar noutros Universos.
Que, d’ Aqui, já pouco resta
Sob escombros do Passado.
O meu bico fora testa
De Homem-Vate, bem alado.
Oxalá na Lua vibre
Outro timbre mais agudo,
Cristalino e com calibre
De haver Nada em quase Tudo.
Que ninguém me enxergue, pois,
Se eu alegre sou mais triste.
Há em mim um eu em dois
Que da Verve não desiste.
E, se um dia, uma criança
Alcançar tal Luz, qual Deus,
É porque eu espetei a lança
P’ra morrer nos versos meus.
Mesmo assim, se eu não tiver
O Silêncio da Loucura,
Que a Luz grave o dom que houver
Sobre a minha sepultura!