Há dias fui questionado acerca de eventuais participações de um determinado instrumentista nas SERENATAS do antigo Emissor Regional de Coimbra. A nível de cantores e de instrumentistas não sei se o movimento arquivístico estará de acordo com o original. O motivo prende-se com o facto de alguns nomes terem sido propositadamente alterados pelos próprios para poderem gravar no Emissor Regional. A censura, sempre caninamente atenta, não permitia que A ou B entrasse na programação. Para que os grupos não se desfizessem, e embora assumissem, por norma, o nome dos principais instrumentistas, acabavam por indicar para a ficha técnica outros nomes que não os dos visados pela perseguição do antigo regime. Após ABRIL deixou de haver esse problema, como é óbvio, porém ainda se reproduziram na contemporaneidade algumas Serenatas antigas com nomes, embora poucos, que sempre foram motivo de estranheza. Sinais sonoros de tempos antigos em que foi preciso mascarar grandes protagonistas do Fado e da Canção de Coimbra. Depois demos continuação, em tempos de liberdade, ao programa DO CHOUPAL ATÉ À LAPA com o objetivo de divulgar e promover um bem imaterial com forte identidade coimbrã: estes fados e estas nossas Canções coimbrãs ou de matriz coimbrã como gostava de dizer o inesquecível Luís Goes. Houve um outro objetivo: manter no ar aquele que era, efetivamente, o programa mais antigo da rádio portuguesa. E saía de Coimbra. Antes de Abril deram voz às vozes de Coimbra os locutores e radialistas Guimarães Amora, Pinho Simões e Álvaro Perdigão com gravações em estúdio e o apoio de prestigiados técnicos de som. DO CHOUPAL ATÉ À LAPA, de Montarroio até ao edifício atual da RTP/RDP/Antigo Emissor Regional, na Rua José Alberto Reis, em Celas/Olivais.
AS CAMÉLIAS DE SÃO JOÃO DO VALE
Tive o gosto de assistir a um ensaio do novo grupo ou refundado Rancho Folclórico das CAMÉLIAS DE SÃO JOÃO DO VALE, na Figueira da Foz. Foi interessante verificar algumas aproximações, no repertório, a grupos de Coimbra, em especial ao histórico e aplaudido RACHO FOLCLÓRICO DAS TRICANAS DE COIMBRA. Este novo ou refundado grupo folclórico vai estrear na Noite de São João, na Figueira da Foz, cidade que festeja sempre em grande e com direito a feriado municipal este Santo popular. A estreia será às 9 da noite, no Largo de São João do Vale, e admito que uma grande parte da Figueira vá assistir à exibição deste Rancho que une um passado, musicalmente glorioso, com a atualidade. Escutei e vi AS CAMÉLIAS dançarem AS CARVOEIRAS, uma peça emblemática do cancioneiro figueirense apesar de a canção andar há anos e anos nas bocas do mundo. Até o Teatro de Revista e consagrados cantores do espetáculo nacional pegaram no tema. Já NOITE SERENA, ao escutá-la e ao ver como a dançavam, trouxe-me à memória o RANCHO DE COIMBRA. Tenho uma ternura especial por este Rancho um representante do Folclore Urbano, até do que acontecia nos palanques das Fogueiras de São João e dos outros Santos Populares pela nossa Coimbra. Nem sempre estiveram nas boas graças da Federação de Folclore que “forçou” este grupo (recordam-se?) a por de parte as pandeiretas com justificação de que não era folclore. Na realidade o RANCHO DE COIMBRA com sede na Rua do Moreno tem um estatuto quase único no país pois representa o URBANO e as pandeiretas foram encaixadas neste Rancho, logo no seu início, após viagens realizadas por conimbricenses à Galiza. Com esta faceta histórica de que se é galego até ao Mondego, as pandeiretas foram um elemento definidor da urbanidade e multiculturalidade do Rancho de Coimbra que contou, no seu seio, com prestigiados nomes da Academia de Coimbra. Recebam o meu abraço e vai de roda… entrámos no mês dos SANTOS POPULARES.