A sociedade tem um papel muito importante no apoio à população mais fragilizada, onde se incluem os idosos que vivem sozinhos. Os vizinhos acabam por ser, em tantos casos, o maior suporte destas pessoas que, não tendo família, não têm a quem recorrer para pedir ajuda ou mesmo para conversar e desabafar.
São estas pessoas que vivem sós que se podem tornar vítimas “fáceis” de burlões, deixando-se envolver numa teia de mentiras que acaba por lhes sair cara em termos financeiros.
Um exemplo destes foi denunciado recentemente por uma vizinha ao Gabinete de Apoio Social da União de Freguesias (UF) de Coimbra que atuou de imediato, começando por fazer queixa junto da Polícia de Segurança Pública (PSP), com quem acabou por trabalhar em parceria até à situação estar resolvida.
Teresa Arsénio, do Gabinete de Apoio Social, explicou a “O Despertar” que foi precisamente uma vizinha que, preocupada, alertou a UF para a situação de uma idosa que não tinha família e vivia sozinha e poderia estar a ter “algumas dificuldades em assegurar a sua sustentabilidade”. Após o alerta, a equipa da UF fez uma visita domiciliária à idosa. Para além de lhe levar um cabaz com bens alimentares, procurou perceber a sua real situação financeira e, analisando o valor da reforma e as despesas mensais, apercebeu-se que, “apesar da reforma não ser grande, seria suficiente para fazer face às despesas, havendo portanto algo que não batia certo”.
Conquistando a confiança da idosa, a equipa do Gabinete de Ação Social da UF percebeu então, como conta Teresa Arsénio, que “havia um senhor que há 10 anos lhe extorquia dinheiro”, aproveitando-se do amor que a senhora tinha pelos gatos. Tendo como única companhia uma gata, esta idosa alimentava também alguns animais de rua. Tendo-se apercebido deste afeto, o senhor ter-se-á aproximado da idosa, passando a pedir-lhe dinheiro com regularidade para comprar comida para os animais. Conquistada a sua confiança, acabou por lhe extorquir mais dinheiro. Teresa Arsénio conta que o “burlão” passou a pedir-lhe todos os meses mais de 100 euros para medicação que dizia não ser comparticipada, alegando que “esta senhora era a sua única amiga e que não tinha mais ninguém que o pudesse ajudar”.
Como o senhor acabava por ser também “o seu único apoio” – ajudando-a com os animais, nas compras e noutros “recados” que dada a dificuldade que tinha em sair de casa não conseguia fazer –, a idosa há 10 anos que “alimentava” esta situação. O próprio senhor fazia questão de a acompanhar à agência bancária no dia 8 de cada mês, quando a idosa recebia a sua reforma, extorquindo-lhe logo nesse dia os cerca de 100 euros. Depois, pouco a pouco, ia pedindo mais, para fins vários.
Apesar disto, a senhora conseguiu ir mantendo as suas contas, até que em abril/maio a gata ficou doente. O sempre prestável senhor disponibilizou-se para a levar à clínica e, após os tratamentos feitos, apresentou-lhe uma conta de 230 euros que, segundo terá explicado, só não era maior “por especial favor, porque a clínica o conhecia bem e não pediu recibo”. Teresa Arsénio realça que “foi aí que a situação financeira da senhora descambou completamente” e foi essa situação que levou a que o Gabinete de Ação Social da UF tivesse a certeza de que a senhora estava a ser burlada, já que contactou a clínica e soube que, de facto, o tratamento não ultrapassou os 50 euros.
“Perante este facto, e tratando-se de um crime de extorsão de dinheiro a um idoso, de forma continuada, considerámos que era um caso de polícia e contactámos a PSP, que tem um departamento de sinalização de idosos em risco”, explica.
Os agentes agiram de imediato, em articulação com a equipa da UF de Coimbra e com a vítima, e a 8 de agosto, dia em que era habitual irem ao banco levantarem a reforma, detiveram o burlão para interrogatório, tendo sido advertido para se afastar da casa da respetiva senhora, continuando esta a ser acompanhada pelo Gabinete de Ação Social da Junta e continuando também a PSP a vigiar frequentemente a sua residência.
Este é, portanto, um exemplo de como a sociedade e as várias entidades podem trabalhar bem em conjunto, salvaguardando o bem estar dos idosos. Teresa Arsénio sublinha que “é nossa obrigação denunciar”, até porque há muitos idosos que se encontram em situações semelhantes, em que há alguém que “se aproveita das suas fragilidades para lhes poder extorquir dinheiro”.
Num país como o nosso, com uma população tão envelhecida, é importante que todos estejam alerta e que denunciem quando suspeitarem de que algo não está bem. Importa também fazer chegar aos idosos esta mensagem de que não estão sós e de que há várias entidades prontas para os ajudar.