Quando o Despertar veio a lume, no longínquo ano de 1917, o mundo experienciava os terríveis efeitos da Iª Guerra Mundial. As suas páginas primevas guardam passagens diversas sobre o conflito, que provocou perdas humanas ainda hoje difíceis de calcular, uns milhares delas portuguesas, nos campos de batalha das nossas colónias e, posteriormente, na Flandres, através do Corpo Expedicionário.
Foi, pois, com alegria, que a notícia do Armistício foi recebida na redação, e se lançaram vivas à paz e à liberdade. Porém, os fundadores e colaboradores deste jornal não imaginaram, decerto, que outra Guerra Mundial estaria para surgir, poucos anos depois, nem que o mundo se viesse a tornar refém do poderio nuclear, do terrorismo, de genocídios, ou dos interesses económicos veiculados por lobismos que dilaceram a democracia – a pior forma de governo, se excluirmos todas as outras!
Na verdade, fruto de 106 anos de existência, caso raro no panorama nacional do periodismo, o Despertar tornou-se uma fonte de estudo e de consulta, um repositório de artigos diversos, da lavra de colaboradores multifacetados, que testemunham a evolução da sociedade contemporânea, do local ao regional, do regional ao nacional e do nacional ao internacional.
Esta atividade comunicacional impressa manteve-se, de forma ininterrupta, superando dificuldades e necessidades, contornando obstáculos inimagináveis ao tempo da sua fundação, como os longínquos anos de ditadura que teve de suportar, com o peso da censura a cair sobre a política editorial há muito definida: republicana, laica, pró-democrática e regionalista.
Um pouco da sua história pode ser consultado no livro que, em 2017, tive o grato prazer de redigir, no âmbito das comemorações do centenário, editado pela Câmara Municipal de Coimbra. Um testemunho e homenagem a todos aqueles que tornaram possível esta aventura extraordinária, de permanecer vigilante e atuante na defesa dos interesses, valores e princípios da nossa cidade e região, com especial destaque para as freguesias.
Ao dobrar mais um ano de existência o Despertar, tal como no tempo da sua fundação, assiste ao terror e flagelo da guerra. Um conflito armado regional que, a qualquer instante, pode evoluir para uma escalada mundial sem precedentes, com resultados catastróficos para o futuro da humanidade. Os senhores do mundo parecem não querer aprender com as lições do passado, preferindo reescrever, a todo o custo, uma história incerta e triste lavrada sobre manuais de guerra, esquecendo os mais exemplares e inspiradores tratados de paz.
Apesar de antigo, nunca um título de jornal fez tanto sentido, provando o acerto de quem o escolheu em 1917: urge que a comunidade desperte para a paz, que se promova uma cimeira mundial, que cessem as hostilidades, baixem as armas e se procurem os consensos possíveis.
Despertar, Despertar, Despertar! Para aquilo que vale a pena! Hoje e sempre! Parabéns a toda a equipa que, diariamente, e fruto de muito labor, mantém acesa a chama da opinião credível, livre e isenta.