Rodrigues Costa
Quando, em 8 de maio de 1935, a Casa dos Pobres foi inaugurada passou a ocupar instalações adaptadas que se situavam nos andares altos do edifício outrora a servir de sede à Inquisição; nessa altura, tinha por missão “erradicar (…) a mendicidade [face à] necessidade de acabar com o cenário que se vivia naquele tempo nas ruas da cidade de Coimbra”.
Desde o primeiro momento se reconheceu a necessidade de mobilizar a Cidade em torno desta obra tendo conseguido então, para além do apoio das entidades públicas, a participação de diversas organizações, nomeadamente, as “Comissão de Iniciativa e Turismo, Associação Industrial e Comercial, Associação Académica, Associação dos Artistas, Liga dos Combatentes da Grande Guerra, Correios e Telégrafos, Centros Recreativos e Casas Bancárias”. Nesta mobilização a Imprensa desempenhou um papel fundamental.
O envolvimento então gerado desaguou numa motivação geral na medida em que levou todos os conimbricenses a olharem para a Instituição como um projeto seu, traduzido na existência de milhares de associados; estamos perante uma demonstração de solidariedade que diz bem das capacidades de reação geradas na cidade, quando esta se reconhece numa proposta e a abraça como sua.
Recordo que, quando nos finais da década de 50 do século passado iniciei a minha carreira profissional na Biblioteca Municipal de Coimbra todos os que ali trabalhavam eram sócios da “Casa dos Pobres”, contribuindo, dessa forma e na medida das suas posses, para custear a sua manutenção. E a Biblioteca Municipal, pode bem afirmar-se, não era um caso isolado, mas só mais um exemplo do apoio da Cidade a esta Casa que entendia como uma causa e, simultaneamente, uma Casa da Solidariedade de Coimbra.
Face a esta situação não deixa de ser pertinente questionarmo-nos ao que aconteceu com a Casa dos Pobres ao longo dos seus quase 84 anos de vida.
Naturalmente a Obra conheceu momentos de alta e outros, menos bons, de baixa, mas importa recordar que, arrancando sob a presidência do Eng.º Augusto Correia o projeto das novas instalações, após a sua partida súbita, teve em Aníbal Duarte de Almeida um bom e empenhado continuador. Com o início da utilização das novas instalações em 28 junho de 2011, arrancou uma nova etapa que dignifica Coimbra e quantos ajudaram à sua viabilização.
Estamos perante uma Obra de que os conimbricenses se podem orgulhar, até porque todos os que necessitam e a ela recorrem, encontram como resposta um porto de abrigo seguro onde desfrutam de uma vida com qualidade e dignidade.
Atualmente, a missão da Casa passa pela “promoção da dignidade da vida Humana, colmatando situações de carência e contribuindo para o bem-estar dos mais desprotegidos”.
Para melhor poder corresponder a este objetivo, a atual Direção – presidida por Luísa Carvalho, uma Mulher de grande capacidade e determinação – pretende ampliar e melhorar as instalações, face à existência de uma longa lista de espera, daqueles que a ela se pretendem acolher.
Coimbra está de novo perante um enorme desafio na medida em que lhe é colocada a necessidade de responder de forma afirmativa e convincente, voltando a assumir o Obra como sua (tal como outrora o fez), a fim de tornar exequível essa ampliação.
Nesse contexto deixo um apelo, pedindo aos Conimbricenses que se desloquem a S. Martinho do Bispo, para constatarem in loco o que está feito e o que se pretende fazer e para que, ao tornarem-se sócios, tragam um Amigo consigo.
Tenho para mim que é tempo de ajudar. Ajudar, na medida das possibilidades de cada um, para que o projeto volte a ser sentido e vivido como de todos e não apenas de alguns.
Por último, e face à mudança (compreensível no contexto atual) de objetivo da Casa, tal como atrás referi, atrevo-me a sugerir que se pondere alterar o nome da Instituição e que “Casa dos Pobres” se substitua por “Casa da Solidariedade de Coimbra”. Isto porque o que considero mais relevante é mesmo a solidariedade dos conimbricenses em torno de uma obra que nasceu e deve continuar a ser sua.