Quando refletimos sobre o que se passa nas nossas vidas e na nossa responsabilidade por tudo o que nos diz respeito, até pelo mínimo pensamento, onde tudo começa, há coisas que já não nos passam ao lado.
Senão vejamos: Por que razão oferecemos o que quer que seja, aos outros? Manifestar gratidão? (“A mente se enriquece com aquilo que recebe, o coração com aquilo que dá.” – Victor Hugo). Simples gentileza ou “bondade”? (Carlos Ruiz Zafón diz que “Os presentes dão-se por prazer de quem oferece, não por mérito de quem recebe.”)
Aqui começa a questão… Quem dá, quer agradar. Está no comando. Numa situação de cima. Não quer ser rejeitado… A pessoa que dá controla eventos e aqueles a quem está a dar, sobretudo os afetos e isto é mau, pois está a criar o bloqueio daquele que confere a dádiva. Bloqueia. Não relaxa. Não entrega. Não recebe. Não agradece.
Ora, quando se recebe, prescinde-se dessa atitude de dominação.Receber é aceitar, embora haja pessoas que aceitam, para depois devolver…Ofender o outro! Aceitar é ficar dependente. E pode-se precisar e não haver nunca mais nada para receber…
Aceitar. Sentir-se fraco, e até em caso extremo, sentir-se indevidamente “humilhado”, pelo seu orgulho ofendido, embora necessite do que quer que alguém lhe ofereceu.
Se mergulharmos no mecanismo da alma, verificamos que oferecemos, para não sermos rejeitados e não sofrermos, mas percebe que se não receberes, também sofres, do mesmo modo, a rejeição do ofertante. Se não queremos isso, temos que arriscar e abrirmo-nos para a vida, para não nos sentirmos ainda mais, carentes! Correr todos os riscos. Parar de querer dar, sem receber. Receber com alegria, gratidão, nem que seja uma simples flor ou a carícia sincera do seu animal de estimação.
No fundo, é prescindir de dar, para não sofrer?! Não recear ser incompreendido… Abrir para se sentir vivo. Deixar a vida fluir, com coragem. Inicialmente, pode não ser fácil, mas aceitar que viver é esta coisa divina de dar e receber, faz com que a vida circule entre os humanos. Sintamos que estamos vivos. Que não alastre mais o egoísmo feroz de se fechar. Abrir generosamente, num sorriso de acolhimento. Num gesto simples de reconhecimento da gentileza de alguém para connosco, sem ficar na defesa, num gesto de desconfiança, como se vê cada vez mais.
Fechamento que é a negação da vida. Olhai os lírios do campo que abrem teimosamente, sem porquê, enchendo de beleza os prados! O sol que nasce sobre bons e menos bons, todas as manhãs! A sombra nos dias abrasadores e a água fresca que nos sacia e traz saúde para nosso corpos! O ar puro da montanha, pois sem respirar, jamais poderemos viver!
Saber receber é hoje, a nossa lição de vida para mim e para todos os meus amigos que me buscam e quem estou profundamente grata! Será que recebemos tantas maravilhas, com reverência? Alegria? Gratidão? É o desafio que deixo. Saber que chegámos a este Planeta de mãos vazias e tão dependentes. Recebendo! Recebendo de tudo e de todos! E que partimos de mãos vazias, gratos ou não por tanto que a vida nos concedeu e emprestou!E nós só temos que ser felizes. Gratos por tantas dádivas. Vendo bem, que damos nós, comparado com o dom da vida?! Nada. Então, para quê o controlo? E fecho com a chave de ouro… “Para os homens, aceitar é dar; para as mulheres, dar é receber” – Rabindranath Tagore.