A Câmara de Coimbra aprovou a reversão de abate de 83 árvores previsto na empreitada do “MetroBus”, na zona urbana da cidade. A proposta surge depois desta obra, a cargo da Infraestruturas de Portugal, ter sido alvo de várias críticas pela sua política de abate de árvores adultas no perímetro urbano de Coimbra, nomeadamente o corte dos plátanos na Avenida Emídio Navarro.
Segundo nota de imprensa, o projeto do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) previa o abate de 46 árvores na rua D. João III, 53 na zona verde entre o Estádio Cidade de Coimbra e o centro comercial Girassolum, onde atualmente só existem 29, e 43 na rua Lourenço de Almeida Azevedo.
“Foram revistos os projetos elaborados para estas zonas, o que permitirá evitar o corte de 83 exemplares”, salientou a autarquia.
O acompanhamento à empreitada está a ser feito pelo Departamento de Espaço Público do Município, que “tem vindo a procurar maximizar a manutenção de árvores ao longo do traçado, nos locais onde estas não coincidem com o canal de circulação”.
Na rua D. João III, o abate passa de 46 árvores para 24. “Apenas se deverão manter os abates indispensáveis à construção do canal, mantendo-se os restantes que não sejam afetados pelo canal ou por infraestrutura enterrada cujo traçado não possa ser ajustado”, reforçou o Município.
Entre o Estádio e o Girassolum, as 29 árvores existentes serão mantidas, sendo também plantados “novos exemplares”, acrescentou a Câmara Municipal, recordando um projeto anteriormente aprovado pelo executivo, que reduziu “ao mínimo indispensável” o parque de estacionamento previsto.
Já das 43 árvores que seriam abatidas na rua Lourenço de Almeida Azevedo serão preservadas 32. “Desta forma, mantém-se o abate de 11 exemplares por imperativos fitossanitários ou por incompatibilidade com o traçado do ‘MetroBus'”, referiu a autarquia.
A proposta de reversão do projeto, aprovado em 2017, considera “a recente legislação que estabelece o regime jurídico de gestão do arvoredo urbano”, assim como “o contexto de alterações climáticas”, realçou a Câmara de Coimbra.
O ‘MetroBus’ deve arrancar na zona urbana de Coimbra no final de 2024, prevendo também o SMM uma ligação à Lousã e a Miranda do Corvo.
ClimAção Centro saúda reversão, mas “sabe a pouco”
O movimento ambientalista ClimAção Centro saudou na terça-feira (14) a reversão do abate de 83 árvores previsto na empreitada do ‘MetroBus’, mas considerou que a medida “sabe a pouco”.
“A reversão do abate de 83 árvores no centro de Coimbra sabe a pouco”, afirmou o membro do ClimAção Centro, Miguel Dias, numa conferência de imprensa conjunta do movimento ambientalista com a Interdito, grupo de expressão dramática da Faculdade de Psicologia, que já organizou no passado uma manifestação contra o abate de árvores na cidade.
No fundo, a reversão destas árvores “mostra que havia abates desnecessários, feitos fora do canal”. “Fez-se o lógico e o óbvio, mas, se tivesse havido esta postura mais cedo, mais árvores teriam sido poupadas ao abate”, disse Miguel Dias.
O ativista recordou que no decorrer da empreitada do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) aconteceu recentemente um “massacre” de árvores na zona do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). “Ficamos satisfeitos com qualquer salva, mas sabe a pouco”, reforçou.
Num comunicado distribuído na conferência de imprensa, os dois grupos criticam o avanço, mesmo assim, do corte de 11 árvores na Rua Lourenço Almeida de Azevedo, uma via “icónica” da cidade, junto à Praça da República, e conhecida pelas cores das flores das suas árvores – amarelo e roxo (as cores da cidade).
“A rua ficará sem 15% do total das suas árvores”, concluem, questionando a ideia de que haverá espécimes abatidos por motivos de doença, quando as árvores sobreviveram “à tempestade Leslie” e à intervenção urbanística ali realizada em 2020.
Para os grupos, o plano de reversão do Município “não teve a ousadia de ir além do óbvio e elementar”.
Miguel Dias considerou que se devia “pelo menos propor uma alteração dos locais de embarque” do SMM para procurar poupar mais algumas árvores, considerando que alguns abates serão também provocados pelas obras relacionadas com infraestruturas de saneamento e água.
Os grupos constataram ainda que o número de abates revertidos, agora revelado pela Câmara, estará “inflacionado”, desafiando o executivo a divulgar os planos originais de abates. “É preciso salvaguardar o património lindíssimo que temos em Coimbra, neste caso as árvores”, defendeu Margarida Pedroso Lima, da Interdito, defendendo que o trajeto do SMM fosse alterado para salvar o máximo de árvores possível.
A 21 de março, Dia Internacional da Árvore, pelas 18h00, os dois grupos vão dinamizar um “abraço às árvores” da Rua Lourenço Almeida de Azevedo e sensibilizar a população para o “atentado à estrutura ecológica urbana da cidade”.