14 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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Coimbra quer voltar a sentir o pulsar do turismo

31 de Julho 2020

Coimbra quer voltar a sentir o pulsar dos turistas que, nos últimos anos, têm invadido as ruas da Alta e da Baixa, num misto de culturas e línguas que evidenciava bem a forte atratividade que a cidade conquistou um pouco por todo o mundo. A Covid-19 deixou as ruas desertas durante mais de dois meses, com a grande maioria dos estabelecimentos a fechar portas, ansiando-se agora pelo retorno à normalidade, um processo que, perante as expectativas e anseios dos comerciantes, está a acontecer a um ritmo ainda demasiado lento, apesar de começarem a surgir já alguns sinais positivos.

Depois de meses de maior silêncio e desertificação, o “coração” de Coimbra começa, paulatinamente, a ganhar mais vida. A reabertura do comércio não correu como esperado mas há agora sinais que evidenciam melhorias, como o testemunham alguns empresários que operam naquela área e que se congratulam por verem os turistas a regressar.

Paula Mendes, do Café Central, assume que a pandemia provocou um “rombo tremendo” no negócio, com os estabelecimentos a permanecerem encerrados por perto de três longos meses. Mostra-se, contudo, confiante, sobretudo porque “nas últimas semanas se tem verificado já uma maior frequência de turistas, não em grupo mas em casais”. Apesar de ainda não ser na afluência esperada, são já sinais positivos uma vez que, como explica, “o consumo dos turistas é diferente”.

Orlanda Duarte, da Pastelaria Briosa, congratula-se também com este “aumento gradual do turismo na Baixa, embora sem paralelo com o que tínhamos, por exemplo, no ano passado”. Lamenta, contudo, que “este aumento dos turistas, que se nota dia após dia, coincida com a saída de residentes de Coimbra” que poderão estar a aproveitar este período de férias para sair da cidade. “Acabamos por não estar com uma faturação tão boa como desejaríamos mesmo para a época de Covid-19. Digamos que a vinda de mais turistas compensa a saída dos residentes”, explica.

Apesar de “a um nível bastante inferior do que nos anos anteriores, Orlanda Duarte diz que “já se ouvem novamente várias línguas ao longo do dia”, continuando os espanhóis em “grande maioria”, fruto provavelmente da proximidade e do facto de se deslocarem facilmente de carro. A gerente da Briosa lembra, também, que há “uma grande aprendizagem” que resulta desta situação – “cada um tem que se centrar em fazer cada trabalho bem e melhor, de forma a cativar as pessoas de Coimbra”. Importa, no fundo, trazer os conimbricenses à Baixa. “Queremos que os turistas regressem mas desejamos, acima de tudo, que os conimbricenses venham à Baixa com assiduidade”, sublinha, considerando que todas as iniciativas que sejam desenvolvidas com esse intuito “são importantes e bem vindas”.

Movimento muito aquém do expetável

Apesar de ser evidente o aumento do número de turistas, comparativamente a duas ou três semanas atrás, está longe daquilo que os empresários esperavam após meses de confinamento. Vítor Marques, do Café Santa Cruz, acredita que a normalidade está ainda longe e não será conquistada este ano.

“Vemos, de facto, alguns turistas e emigrantes mas se compararmos os números atuais com os do ano passado diria que não têm peso nenhum, que devem rondar apenas os 10 ou 20 por cento se comparados ao ano anterior”, frisa. Compara mesmo o movimento deste verão ao da “época baixa/intermédia” e, apesar de admitir que “há mais pessoas agora do que nas últimas semanas”, ainda lhe custa muito falar em retoma. “Ainda está muito longe das nossas expectativas. Nesta altura, mesmo com a Covid, estávamos à espera de mais pessoas. O ano de 2020 não será nada de especial, até porque ainda há muita gente em lay-off e muitas famílias continuam a sofrer com o corte dos rendimentos”, explica.

Vítor Marques acredita que o retorno à normalidade vai demorar mais tempo do que as pessoas pensam. “As próprias medidas que o Governo anunciou significam que estes dois meses de trabalho não estão a corresponder às expectativas. Se ainda continua a lançar medidas de apoio à economia significa que voltar à normalidade ainda está num horizonte longínquo. Esta é a minha leitura”, realça.

Na Tricots Brancal a reabertura foi promissora. Maria da Natividade Oliveira conta que, nos primeiros dias, “havia filas” para entrar na loja. Com as regras de segurança a permitirem apenas duas pessoas de cada vez no interior do estabelecimento, os clientes aguardavam na rua pela sua vez de poderem escolher as lãs para continuarem a executar os seus trabalhos. “Tinham gasto todo o stock de lãs que tinham em casa e estavam ansiosas para começar novamente a fazer os seus trabalhos. Foi um bom regresso, em que trabalhámos muito bem”, realça.

Entretanto, depois desse entusiasmo inicial, o negócio “quebrou” e verifica-se mesmo, como explica Maria da Natividade Oliveira, que “algumas pessoas têm medo de entrar e querem ser atendidas à porta”. Por outro lado, faltam também os emigrantes que, todos os anos, compravam vários quilos de lã para levarem. “Iam carregados de lãs. Levavam quilos e quilos para França, Suíça, Bélgica, Inglaterra, entre outros países. Este ano já sabemos que a maior parte não vem”, lamenta.

Na Ale Hop, loja de diversidades que abriu em dezembro na Baixa, o movimento tem sido bom. Stephanie Oliveira diz que “o arrancar, depois do confinamento, foi mais complicado”, mas nesta fase estão já a trabalhar bem, com a loja no limite da lotação e, muitas vezes, pessoa à espera para entrar. “A oferta atrativa, com produtos para todas as idades e a preços diversificados, chama a atenção das pessoas e, neste momento, está a correr muito bem”, frisa.

Na Retrosaria Casa das Rendas o movimento ainda está muito aquém do habitual. Helena Pereira assume que “está muito parado”, tendo havido apenas uma grande procura de “linhas e elásticos para fazer máscaras”. Apesar do maior movimento nas ruas, este ainda não se traduz em mais faturação.

Este retorno lento está a ter também efeitos muito negativos na hotelaria. De acordo com o presidente da delegação de Coimbra da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, José Madeira, a ocupação hoteleira não chegou neste mês de julho aos 20 por cento, quando nos anos anteriores o habitual era “nunca ficar aquém dos 80 a 85 por cento”. Com a exceção do Astória e do Tivoli, todo o parque hoteleiro já reabriu mas, segundo este responsável, o setor vive “dias aflitivos, não se antevendo quaisquer melhorias em agosto que é sempre o melhor mês do ano”.


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