Coimbra vai celebrar, ao longo de 2020, o Jubileu dos 800 anos dos Mártires de Marrocos e de Santo António. Este será um marco único para Coimbra, que vai ligar a cidade ao mundo, através de um programa pastoral, científico e cultural que evoca a importância que o martírio dos primeiros frades franciscanos em Marrocos teve na vocação de Santo António.
Convocado pelo Papa Francisco para a diocese de Coimbra, o Jubileu, ou Ano Santo, vai ser celebrado de 12 de janeiro de 2020 a 17 de janeiro de 2021. As celebrações, promovidas pela Diocese de Coimbra, Igreja de Santo António dos Olivais e Mosteiro de Santa Cruz e que contam com a união de várias entidades e instituições da cidade – como a Câmara Municipal de Coimbra, o Turismo Centro de Portugal (TCP), a Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais, a União de Freguesias (UF) de Coimbra e a UF de Santa Clara e Castelo de Viegas –, estão ainda em aberto, podendo os diferentes agentes culturais e “forças vivas” da cidade associar-se a esta importante distinção que tem por base o facto de, a 16 de janeiro de 2020, se comemorarem os 800 anos do martírio dos primeiros frades franciscanos, em Marrocos, e a sua ligação a Coimbra e a Santo António.
Durante a apresentação deste evento inédito, que decorreu na segunda feira, no Mosteiro de Santa Cruz, o Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, destacou a importância daquele templo (onde se encontram as “Relíquias dos mártires”) e da Igreja de Santo António dos Olivais para “a história da nossa cidade, do país e do mundo” e, sobre Santo António, destacou a “sua humanidade” e a “ânsia que teve em superar os seus próprios limites”. Considera que foi a partir de São Francisco de Assis que se iniciou “uma das páginas mais belas de toda a História do cristianismo, em que encontramos um regresso àquilo que de mais profundo existe no Evangelho”. Espera, por isso, que esta seja “uma ocasião muito importante para Coimbra, para nos fortalecermos a partir de testemunhos de homens e mulheres ilustres do passado e que possa dar origem a projetarmos um futuro muito mais risonho e promissor para todos”. Deseja que estas celebrações promovam o “diálogo inter religioso” e espera que esta “seja uma ocasião muito importante para Coimbra”, que celebre “Santo António de Lisboa, de Coimbra, de Pádua e do mundo” e que permita a todos um “conhecimento mais adequado e profundo do significado do Mosteiro de Santa Cruz”, que encerra “uma parte significativa da História da cidade e do país”.
O presidente do TCP, Pedro Machado, enalteceu “o bom momento que a região e o país atravessam a nível do crescimento do turismo, tanto no mercado interno como externo”, e destacou a importância que o turismo religioso tem neste crescimento. “O turismo religioso é muito importante na estratégia do Centro de Portugal, não apenas o turismo religioso mariano ou aquele associado ao Caminho Português de Santiago, mas muito em particular pela sua dimensão mais global”, disse, acrescentando que hoje o turismo religioso atrai ao Centro “turistas de mercados pouco habituais”, como da América do Sul e da Ásia.
O presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, sublinhou a importância de preservarmos a memória para construirmos o futuro. “Perder a memória é perder o futuro. Ao estarmos aqui para celebrar o Jubileu, estamos a ganhar uma aposta no futuro, respeitando o que foi feito no passado”, disse o autarca, considerando que este Jubileu é “uma oportunidade para darmos a conhecer as nossas terras” e para preservar a “memória coletiva da cidade”. Recordou que foi em Coimbra que Fernando de Bulhões “adotou o nome de António e foi daqui que iniciou a sua caminhada pelo mundo”.
800 anos do martírio dos primeiros frades franciscanos
Recorde-se que foi precisamente há 800 anos, em 1219, que São Francisco de Assis enviou em missão para Marrocos cinco frades – Berardo, Otão, Pedro, Acúrsio e Adjuto. Em terras de África dedicaram-se à pregação, tendo sido perseguidos e martirizados. As “Relíquias dos Mártires” chegaram, nesse ano de 1220, ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde Fernando de Bulhões, jovem sacerdote, se dedicava arduamente aos estudos, tornando-se um dos homens mais cultos do seu tempo, pelo que viria mais tarde a ser consagrado como um dos poucos Doutores da Igreja.
Este martírio dos frades impressionou de tal forma Fernando que decidiu fazer-se Frade Menor, seguindo o seu exemplo missionário. Assumindo o nome de António, foi recebido no convento de Santo António Abade dos Olivais. E foi como franciscano que partiu de Coimbra para o mundo, numa missão que o tornará num dos santos mais notáveis da cristandade.
É este percurso que vai ser assinalado no próximo ano, durante o Ano Jubilar dos Mártires de Marrocos e de Santo António, através de um programa que, como referiu Frei Severino Centomo, Guardião do Convento Franciscano de Santo António dos Olivais, pretende “fazer memória dos feitos daquelas pessoas que marcaram admiravelmente a história para renovarmos a nossa vida e o nosso tempo”.
O Vigário Paroquial de Santa Cruz de Coimbra, padre Francisco Claro, destacou, por sua vez, “a abrangência, riqueza e diversidade” do programa que se encontra ainda em aberto e que aposta, sobretudo, em três áreas – pastoral, cultural e científica.
Um ano de intensa celebração
As comemorações do Jubileu começam a 12 de janeiro, com a celebração de abertura da Porta Santa na Igreja de Santa Cruz, pelas 16h00, e só vão terminar no ano seguinte, a 17 de janeiro, com o encerramento do Ano Santo. Este arco temporal inscreve-se entre a celebração litúrgica dos Mártires de Marrocos, que tem lugar cada ano a 16 de janeiro.
Ainda em aberto a propostas que possam surgir, o programa assenta nas áreas pastoral, cultural e científica. A nível pastoral destaque para a peregrinação jubilar, constituída por um “Itinerário do Peregrino”, que ajudará as paróquias, grupos e peregrinos individuais a visitar os lugares jubilares, partindo da Igreja de Santa Cruz até à Igreja de Santo António dos Olivais. Pelo interior do Mosteiro de Santa Cruz é oferecida a cada participante a possibilidade de visitar a “Exposição Jubilar”, bem como assistir a um documentário sobre a vida de Santo António. Nos primeiros domingos de cada mês, as tardes dos chamados “Domingos Jubilares” serão enriquecidas com um vasto programa que culmina com a celebração eucarística. A fim de ajudar as comunidades e grupos eclesiais a preparar e viver este Ano Santo será publicado em breve o “Guião Pastoral Jubilar”.
Na área cultural um dos destaques será a estreia mundial da “Missa de São Francisco” e “Missa de Santo António”, da autoria do maestro António Vitorino de Almeida. Esta estreia, com coros e orquestra de Coimbra, vai decorrer no Convento São Francisco, que será também palco de um concerto de encerramento do Jubileu, com a Oratória “De Fernão se fez António”. A encomenda de uma tela, “Paixão dos Mártires de Marrocos, Paixão de António”, integra igualmente a programação cultural.
Algumas das tradicionais iniciativas promovidas pela Câmara Municipal de Coimbra, como a Festa da Flor e da Planta e a Mostra de Doçaria Conventual e Regional de Coimbra vão inspirar-se também na figura de Santo António e dos Mártires de Marrocos.
A criação de um roteiro turístico antoniano será outra das iniciativas a realizar, em colaboração com o Turismo Centro de Portugal, bem como a “Corrida de Santo António” de Santa Cruz a Santo António dos Olivais, organizada pela Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais, pela União de Freguesias (UF) de Coimbra e UF de Santa Clara e Castelo Viegas.
O programa integra, ainda, a realização de duas peregrinações que irão possibilitar o contacto “in loco” com os lugares associados aos Mártires de Marrocos e Santo António. A primeira está marcada para abril, em Itália, pelo local do nascimento dos Mártires e pelos caminhos antonianos; e a segunda para setembro, por Marrocos, visitando o local do martírio dos primeiros frades franciscanos.
No campo científico vai realizar-se um congresso, em colaboração com investigadores da Universidade de Coimbra, sobre a História e Culto dos Mártires de Marrocos e de Santo António em Coimbra, o carisma e herança Antoniana e o diálogo intercultural, inculturação e missão. Vão realizar-se, ainda, as Jornadas Pastorais Diocesanas, um ciclo de conferências e testemunhos sobre a perseguição aos cristãos nos nossos dias e um ciclo de “Diálogos com António”, organizados pela revista “Mensageiro de Santo António”, com a participação de especialistas em temáticas tão diversas como a Bíblia, a Europa, a Economia, a Família ou a Vida.