Por Jorge Gouveia Monteiro
Antevejo a época em que todo o planeta terra possa corresponder a esta designação: a Casa dos Pobres. O pequeno planeta azulado onde se foram explorando uns aos outros, até que um pequeníssimo reduto de opulentos decidiu partir e deixar todos os outros para trás. O pequeno planeta em que os pobres de um lado do mar deixaram morrer os pobres da outra margem, porque acreditaram que eram pobres de outra cor e se deixaram cegar pelo medo. O pequeno planeta sufocado de calor e gases, florestas dizimadas e desertos no seu lugar, todos os animais e folhas triturados e consumidos, as belas cidades submersas e milhares de pobres nos morros, olhando o nada.
Terrível, não é?
Então, é melhor começarmos a agir, continuarmos a agir, reorientarmos a nossa ação. Aqui, em Coimbra, pode ser. Com pequenos, médios e grandes gestos, tudo o que vai no bom caminho ajuda a chegar lá.
Olhar à volta: o pequeno número de pessoas que pedem ajuda são apenas a ponta visível da pobreza muito mais vasta. E não, não, não são todos oportunistas. Distinguir obriga a conhecer, falar, ouvir, perceber.
Organizar recursos: muita boa gente já recolhe e oferece roupa, livros, móveis, que de outra forma iriam parar ao desperdício inútil. A Junta de Freguesia não liga? Vamos à reunião pública e falamos.
Exigir casas, nomeadamente casas devolutas no centro da Cidade. Os mais pobres precisam de viver, não nas periferias, mas no centro de Coimbra, onde há mais transportes e oportunidades. A própria Casa dos Pobres estava no centro, hoje tem muito melhores condições, certo, mas está fora das vistas. Centenas de casas na Baixa e em toda a zona central podem ainda ser reabilitadas para esse efeito. A Câmara só seguirá por esse caminho se a pressão for muita, de contrário assistirá passiva ao pulular de alojamentos para turistas. Mande mails para a Câmara, escreva nos jornais, exija. Casas para quem precisa.
Música, teatro, dança, artes plásticas. Organizar transportes para pessoas que vivem mais longe. Há muitos pobres em zonas do Campo e da Serra à volta de Coimbra. Para poderem vir. Não estão condenados só às festinhas lá da terrinha no fim do verão. Queremos ou não ser capital europeia da cultura? Que tal começarmos pela nossa gente? Quantos conhecem o Convento de S. Francisco?
E por aí fora. Emprego. Alimentação. Saúde.
E ajudar a Casa dos Pobres, a que existe, para que cada vez menos gente precise dela.