Há em Vasco Francisco por natureza uma disposição social na sua arte ou uma preparação intelectual que lhe confere uma especialíssima universalidade nas suas crónicas, nos artigos mais burilados e no desejo de se “lançar” no conto ou romance, no fundo a liberdade própria dos seres singulares.
Por outro lado existe no trabalho jornalístico uma voz irrevogável que não precisa de se colocar em bicos dos pés para ser lido, ouvido, apreciado nos temas de fundo panteísta, outros de ideias originais e, esporadicamente, congrega ideias estéticas e filosóficas nas paisagens rurais num formalismo que lembra grandes escritores.
Sabemos que a sua consciência ou sonho empurrou-o na preparação do seu primeiro livro: um romance!
O seu simbolismo e o misticismo individual leva ao romance numa intervenção sentenciosa apanágio deste académico das ciências agronómicas e zootécnicas numa idade em que todos os sonhos são a mediatidade útil, expectante.
Embora jovem fala por memória das velhas tertúlias de Coimbra, na sua substância anímica na descoberta que faz da decifração psicológica do Homem da Cidade que se funda numa esclarecida sabedoria ou a denúncia dum velho humanismo que vinha de Antero de Quental e de um racionalismo clássico. E irreverente!
A heterogeneidade dos bens culturais, a criação bem vistas as coisas, é em Vasco Francisco uma atitude social como traça formal dum triplo critério: o simbolismo partilhado pela lógica, as imagens rurais dadas pelo rigor germânico e o descritivo latino a lembrar Aquilino Ribeiro, Alves Redol, o nosso Miguel Torga ou Trindade Coelho e o próprio Saramago…
A nosso ver a sua relevante colaboração é um juízo estético que propõe este valioso literato, no prolongamento do seu largo senso artístico, da sua ânsia cultural de explicitar o seu eu-sociedade, dando-nos trechos de valia numa colaboração já significativa, mesmo brilhante, ou seja, o seu subconsciente, do seu eu reconstruido, numa literatura apetecível e que se mantém virtual, mas cheia de inatas virtudes.
Há no trabalho literário deste jovem académico uma inteligibilidade subjetiva (no eu e no não eu) que o aproxima da poesia.
Talvez já não ande neste mundo azedo e hipócrita quando o romance de Vasco Francisco sair.
A doença implacável não me dispensa largos tempos para viver!
Mas vamos o isso. Eu sei o que é publicar o primeiro livro.
É um gozo indescritível e é isso que tem de sentir.
Obrigado pela sua longa carta, o amigo,
MANUEL BONTEMPO