O maior feito da natação portuguesa
O resultado conseguido por Diogo Ribeiro, o jovem de 19 anos natural de Coimbra que ganhou há dias a medalha de ouro nos 50 metros mariposa nos mundiais de natação decorridos no Qatar, é considerado o maior feito de sempre da natação portuguesa, por ter atingido um tempo de prova nunca conseguido até agora. Não sendo um resultado surpresa, porque deste jovem espera-se sempre que consiga superar-se a si próprio, o feito ganha ainda maior relevo por revelar uma vontade férrea deste jovem que não se deixou abater pelos percalços que o destino colocou no seu percurso, curto de 19 anos. Aos 4 anos perdeu o pai que morreu de enfarte do miocárdio quando participava num jogo de futebol com uns amigos e aos 16 anos teve um acidente de moto que lhe causou graves lesões, atirando-o para o hospital onde levou vários meses a recuperar.
A morte do pai afetou muito o Diogo, apesar dos seus 4 anitos. A perda do marido e sentindo o filho a ressentir-se, sobretudo em termos de concentração, de deixar de ter o pai a seu lado, como estava habituado, à mente da mãe ocorreu a ideia de o mandar para a natação, não só para ocupar parte dos seus tempos livres mas também e sobretudo para fortalecer a sua capacidade de concentração. Em boa hora o fez, porque o miúdo não levou muito tempo a mostrar o gosto de tal prática, a forma empenhada como se dedicava aos treinos a que não faltava nem chegava atrasado, revelando-se aos poucos possuir uma personalidade muito própria e dando sinais claros de um especial jeito e capacidade para vir a ser um bom atleta de natação, sem com isso prejudicar a sua aprendizagem na escola. O jovem Diogo, apesar da sua tenra idade, revelava, tempo atrás de tempo, o seu amor à natação e à medida que apresentava melhores índices de melhoria nos diversos treinos, o seu entusiasmo crescia também e aos 15 anos começou seriamente a dar sinais da sua estatura invulgar como atleta da modalidade. Frequentava então o Colégio de Coimbra (sob a gestão da Fundação Beatriz dos Santos), unidade escolar que integrava – e continua a integrar – a natação no seu curriculum escolar, assumindo – no dizer do seu líder Dr. Paulo Santos – “uma forte relação entre a escola e o desporto”. Esta unidade escolar é o único Colégio/Clube a ter piscina nas suas instalações e — citando de novo Paulo Santos— “sempre acreditou que a metodologia de treino do técnico olímpico russo que contratara acabaria por dar os seus frutos”, acreditando que a metodologia de treinos durante a semana, as horas de estudo devidamente programadas e respeitadas e o descanso dos atletas acabariam por se refletir nos resultados finais, fosse a nível de estudos fosse a nível da capacidade atlética dos alunos/atletas. Foi no seguimento desta prática, no cumprimento destas regras e no respeito destes valores, de que o rigor, a resiliência e a auto-estima são fundamentais, que o jovem Diogo Ribeiro foi firmando o seu caráter, moldando a sua vontade de ser cada vez melhor, alimentando em si, de forma recatada e muito humilde, uma férrea vontade de vir a ser um atleta de nível invulgar, à dimensão mundial se possível.
O acidente de moto aos 16 anos foi um grave revés. Muito ferido mas sem lesões de gravidade impeditiva fosse para o que fosse, momentos houve em que o Diogo julgava ter terminado por ali a sua carreira de atleta de natação, em que tanto apostara e acreditara. Mas ao invés de se deixar abater, saído do hospital e iniciando uma fase de recuperação, acreditou que a sua carreira não ficara definitivamente comprometida, circunstância que não só lhe renovou o ânimo como lhe trouxe mais força, mais entusiasmo, mais certeza de que iria conseguir. Alguns dos seus orientadores não esconderam em conversa com o “Despertar” a sua convicção de que o Diogo tinha um objetivo longínquo mas atingível com trabalho, muito esforço e outro tanto de convicção: mostrar ao pai, se possível for, que se não deixara vencer pelo desgosto de criança nunca desaparecido e tudo continuaria a fazer para ser, para o seu pai tão cedo desaparecido, um motivo de orgulho, como que ajustando contas com o destino que tão ingrato lhe fora na sua meninice.
Se o resultado agora conseguido no Qatar é visto pelos especialistas da modalidade como algo “do outro mundo”, já antes outros belíssimos resultados havia conseguido e nos últimos dois/três anos a modalidade Natação tem os olhos postos neste jovem. Em julho de 2023, já atleta do Benfica para onde se mudara entretanto para prosseguir ambições assumidamente competitivas, passando a residir em Lisboa, deu nas vistas em Coimbra onde decorriam os campeonatos nacionais, onde bateu 19 recordes nacionais. Em julho de 2023 conquistou a medalha de prata nos 50 metros mariposa no Japão, e agora, no Qatar conseguiu este resultado considerado verdadeiramente invulgar pelos especialistas da modalidade, não só o melhor de sempre da natação portuguesa como o maior feito da modalidade.
Vêm aí, para o Verão do próximo ano, os Jogos Olímpicos de Verão. Diogo Ribeiro fez desta prova o seu foco principal para o ano e tal de preparação a que se vai dedicar de alma e coração. Mas o foco não é apenas do atleta. É também de toda a natação portuguesa e internacional.