O Hotel Metropole situa-se na baixa pombalina de Lisboa, mais concretamente no n.º 30 da Praça D. Pedro IV. Trata-se de uma unidade hoteleira clássica, com origens em 1917, mas que apresenta mais valias do ponto de vista artístico: revivalismos dos anos 20 do séc. XX, ao nível do mobiliário; ou as pinturas de Almada Negreiros.
A sua localização geográfica privilegiada, associada às belas panorâmicas para o Castelo de S. Jorge, Bairro Alto e Baixa popular lisboeta, foram determinantes na escolha do espaço por muitos vultos da nossa História Contemporânea.
Foi, por exemplo, o caso de Bissaya-Barreto. Ali terá encerrado, adiado e principiado muitos ciclos da sua multifacetada vida, que teve no eixo Lisboa-Coimbra uma contínua corrente de múltiplos interesses que ultrapassava, em muito, a conhecida amizade e proximidade a Salazar. Foi aqui, no Hotel Metropole, que numa madrugada quente de Setembro de 1974 adormeceu para não mais acordar. Contava, então, 87 anos de vida, numa existência plena, feita de muita montanha e pouca planície.
Ao longo da sua vida, um conjunto de circunstâncias o levavam a Lisboa, regularmente, tornando-se num dos frequentadores mais conhecidos do hotel, ao qual estava ligado pela amizade ao seu proprietário, Alexandre de Almeida – precursor do Turismo e primeiro grande industrial hoteleiro português – que em 1920 ergueu em Coimbra outra bem conhecida unidade hoteleira; o Hotel Astória.
Na realidade, foi na capital que Bissaya-Barreto aprendeu parte da técnica da cirurgia, se afirmou como deputado à Constituinte e, mais tarde, Procurador à Câmara Corporativa, além de assíduo dos principais estabelecimentos de arte, decoração e leiloeiras. E, como é sabido, era em Lisboa que se encontrava com ministros e outras figuras do Estado, incluindo Salazar, no sentido de alavancar ou desbloquear apoios para a sua Obra de Medicina Social.
No rescaldo da crise revolucionária de Abril, encontrava-se, então, profundamente, desgostoso com o princípio da destruição do projeto social que conduzira com inteiro sucesso, a partir da Junta Geral do Distrito, e que teve no Hospital dos Covões a jóia da coroa. Bissaya-Barreto levou consigo muitos segredos, pessoais, familiares e de Estado, permanecendo como uma das mais complexas e intrigantes figuras da nossa História Contemporânea.
Hoje, fruto de muito trabalho, tenho poucas dúvidas de natureza política, ideológica, técnica ou científica sobre Bissaya-Barreto. Sinto sim uma profunda admiração que extravasa o mundo material. Visitar o Hotel Metropole, demoradamente, era um desejo antigo, permitindo situar-me no tempo e no espaço daquela fatídica, mas não inesperada madrugada.