Sou daqueles que pensam que a verdade desportiva deve sempre prevalecer. Era daqueles que julgava que as novas tecnologias iriam trazer paz ao futebol. Não compreendo por isso como é que os jogos de apuramento para a principal competição internacional de seleções – o mundial – se realizam prescindindo do Var e da tecnologia de golo.
Pelo que tenho visto por cá, mas também lá fora, noutros campeonatos, o Var nem sempre ajuda a esclarecer e por vezes é ele próprio motivo de polémica. Ainda há 15 dias tivemos o caso do penalti a favor do Braga, um lance que se junta a tantos outros e que me têm feito pensar se, na realidade, com tanta tecnologia não estamos a querer “matar” a substância do futebol, onde o erro e o acerto sempre coexistiram.
Quando o árbitro não viu o golo claríssimo e legal de Ronaldo frente à Sérvia, esperei que o Var ou a tecnologia de golo agissem e nos devolvessem a vitória. Mas, surpreendentemente, não havia nem uma coisa nem outra disponível, pelo que o erro deixou de ser pequeno e as suas consequências ampliadas para o campo do imprevisível, em termos de qualificação.
Assim, ou rema tudo para o mesmo lado, e o exemplo vem de cima, das instâncias que tutelam o futebol mundial, ou então andamos a brincar com o futebol, isto é; ou as novas tecnologias passam a ser obrigatórias em todas as competições ou o melhor é regressar ao passado. Não se pode querer passar para um novo mundo levando nas costas o peso do anterior. Pode ser penoso quando não mesmo desastroso se teimarmos na questão.
Não, Ronaldo não fez bem em atirar a braçadeira pelo ar. Tinha todas as razões para explodir, num momento decisivo do jogo, na derradeira jogada de perigo, no lance crucial. Consciente do golo, à semelhança de milhões que assistiam ao desafio beneficiando das novas tecnologias, CR7 agiu como homem e jogador traído por uma decisão absurda – só tornada ainda mais absurda pelo facto de arremessar com o símbolo de capitão, suscitando múltiplas interpretações.
O que levou o melhor jogador português de futebol de todos os tempos a proceder de tal forma? Só ele poderá responder, mas creio não errar muito se afirmar que sentiu uma injustiça do tamanho da nação que tem defendido pelo mundo fora. Talvez tenha querido, tão somente, dizer por gestos aquilo que por palavras não se lembrou de gritar: «esta braçadeira é demasiado importante para ser usada sem Var». E assim a atirou ao chão, como quem desiste e se sente impotente perante forças superiores, que teimam em reduzir a força de um povo à escala de um pequeno território.