Na Rua Direita, na Baixa de Coimbra, reside a Barbearia Irmãos, com quase 50 anos de portas abertas.
Quem passa por aquela rua, seja em direção à Praça 8 de Maio ou à Avenida Fernão Magalhães, repara que é dos poucos estabelecimentos abertos e que vai ainda resistindo às dificuldades que a Baixa e o comércio local vão enfrentando nos dias de hoje. As duas fachadas bem em destaque, com o respetivo nome, e a bandeira de Portugal, agora bem evidente, vão colorindo o espaço e chamam a atenção no meio de tanta parede fria e desnutrida.
Tal como o próprio nome indica, a Barbearia Irmãos foi criada pelas mãos de dois irmãos. António Paredes é agora o único proprietário do estabelecimento, depois do seu irmão se ter aposentado. Afirma que sempre trabalharam juntos, mas colocaram um funcionário quando o negócio ia de vento em pompa e que ainda se mantém hoje, há já 38 anos. Com a ausência do seu irmão, António Paredes colocou o seu filho no negócio, passando assim a sua arte de geração em geração.
Criado o espaço em 1977, o barbeiro diz que hoje a profissão é bem diferente de há 50 anos. “Quando abri a loja já havia salários para os barbeiros porque antes do 25 de Abril não havia e por isso cada patrão pagava como queria. Cada um dava o salário ao empregado conforme ele merecia e ainda dizia que o resto do salário era pago com as gratificações dos clientes”, começou por referir. No entanto, António Paredes conta que tudo melhorou depois do 25 de Abril, seja em qualidade ou em peças para trabalhar e afirma que trabalham muito mais facilmente uma vez que o material é muito melhor.
Com 63 anos de profissão, o empresário garante que não está arrependido do caminho que escolheu. “Temos feito assim a vida e não estou arrependido”, sublinha.
Levando sempre uma vida entre as tesouras e pentes, António Paredes começou desde muito novo com esta arte e por isso tem consigo uma boa lista de clientes. “Temos uma boa clientela. Os clientes já são os habituais. Tenho alguns que vêm da Figueira da Foz e com tantos anos quantos os que eu tenho de profissão e continuam a procurar-me”, disse, mostrando-se satisfeito por esse reconhecimento.
Consciente dos inúmeros espaços que a Baixa e a cidade de Coimbra têm nesta área, António Paredes não teme a concorrência, pois garante que cada um tem bem definido o seu trabalho. “Há imensas casas de cabeleireiros o que provoca uma concorrência, mas são muito diferentes da nossa a nível de trabalhos, trabalhos esses que eu também não sei fazer”, como cortes mais elaborados com desenhos. Por essa razão, a Barbearia Irmãos prima-se por ser um espaço diferente e sobretudo tradicional.
“É preciso dar condições aos clientes para virem até à Baixa”
Apesar de sentir melhorias na Rua Direita, o proprietário da porta 86 e 88 sublinha que é preciso fazer mais para chamar os clientes à Baixa de Coimbra. “Para ter clientes é preciso que haja condições para as pessoas virem à cidade e o que a Baixa precisava era reconstruir todas as casas velhas que estão a cair e que fossem dados estacionamentos”, mencionou António Paredes.
O barbeiro destaca que seria importante permitir às pessoas circularem pela Baixa sem a preocupação de onde deixarem o carro. “Estacionar o carro com duas horas de estacionamento gratuito para as pessoas virem e fazerem as suas compras poderia ser uma opção, porque afinal as pessoas vão aos supermercados e têm tudo e não pagam estacionamento nenhum”, disse, reforçando que “desviam os clientes da cidade para essas grandes superfícies onde pagam mais em tudo e onde o preço de um corte de cabelo é bem mais caro”. Para além disso, António Paredes afirma que há “agora uma grande caça à multa e ao dinheiro” e por isso as pessoas não arriscam a ir para o centro da cidade. “Estão a sacudir o cliente da Baixa por isso mesmo, porque qualquer cliente tem de vir e pagar bastante dinheiro num parque”.
Dar luz às várias artérias da Baixa seria outra medida a ter em conta, uma vez que há ruas sem qualquer iluminação e que se tornam perigosas, sobretudo à noite. “Se houvessem todas estas condições, sobretudo o estacionamento, ajudava muito a dar movimento à Baixa”, garante o proprietário da barbearia.
António Paredes considera que a abertura do MetroBus poderá ajudar a dar movimento à Baixa futuramente, mas até lá é preciso fazer algo.