Lá pela década de 60 do século passado, no decorrer de tertúlias entre amigos, mas com opiniões políticas nem sempre convergentes, sendo o articulista um pouco mais do que agora profano nessa matéria, ouviu citar uma obra de um então “conceituado autor”, dissidente e refugiado russo que, por curiosidade o leu, mas cujos nome e título já não lhe ocorrem pois, com alguma curiosidade o relia, e cujo tema tinha a ver com uma inusitada “coletivização forçada na URSS”, decretada por Stalin em 1929.
Tal, consistia no agrupamento de famílias no tipo de cooperativas (Kolkoses), cujo leitmotiv era “a exploração dos agricultores cooperantes”, na base da apropriação pelo Estado da parte de leão da produção; e, no tipo estatal (Sovkoses), também cooperativo, em que os cooperantes eram sobrecarregados com impostos, quase até à exaustão.
Mas, e continuando a citar, esta forma de exação, associada à deficiente acomodação das famílias cooperantes, em termos de privacidade; de uma alimentação racionada e pobre e de um salário paupérrimo, gerou a sua desmotivação e a consequente redução da produção de grãos e de quase para metade o número de cabeças de gado, e eis o prelúdio de uma grave crise de fome em toda a Rússia, na década de 1930, cifrando-se na morte de 11 milhões de pessoas e de 3 a 7 milhões na Ucrânia
E porque o acontecimento político mais relevante nesta opotunidade é o conflito armado que envolve a Ucrânia e a Rússia, não será despissiendo descrever, grosso modo, a génese das duas repúblicas, para formular um juízo de valor de qual o substrato que enformou esta invasão. Genericamente, a formação da Rússia é historicamente milenar, descendendo dos povos eslavos que, em conjunção com outras tribos coevas, tais como os varegos, fundaram a Rus, reino dos mais poderosos de então e que, segundo alguns historiadores, foi a base da sua criação. Seguiu-se a época do império dos czares, caraterizado pelo despotismo e pelo despesismo exacerbado da corte, para compensação do que impôs à sociedade o pagamento de altas taxas de impostos para manutenção da nobreza falida, enquanto a pobreza grassava entre os seus súbditos, e cujo descontentamento foi germinando até que despoletou a revolução de 2/1917, na qual os bolcheviques (membros da ala radical social-democrata) sairam vencedores, destruindo a monarquia Romanov.

(Continua na próxima edição)