12 de Dezembro de 2024 | Coimbra
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Associação Cultural e Recreativa de Coimbra sonha com novas instalações

12 de Outubro 2018

A Associação Cultural e Recreativa de Coimbra continua a sonhar com umas novas instalações que lhe permitam garantir a continuidade e a qualidade do trabalho que tem vindo a desenvolver há quase quatro décadas. O terreno existe, o projeto também mas continua a faltar o aval da Câmara para que a obra possa avançar. À espera há largos anos, a direção leva longe o nome da cidade, nas muitas atuações que faz em todo o país, e continua a acreditar na importância que um movimento associativo forte tem tanto para os elementos que o integram como para as sociedades onde se insere.

Fundada a 6 de dezembro de 1979, a Associação Cultural e Recreativa de Coimbra (ACRC) continua à espera das tão ambicionadas instalações que lhe permitam reunir todas as suas atividades num só espaço e olhar para o futuro com outra ambição.

Apesar do trabalho notável que realiza, envolvendo mais de uma centena de pessoas, de todas as faixas etárias, a associação do Areeiro podia “fazer muito mais”. Ao contrário do que tantas vezes se ouve, neste caso não faltam voluntários que se queiram dedicar ao associativismo e a associação mantém uma dinâmica que tem vindo a crescer, com espetáculos regulares um pouco por todo o país.

Afonso Lázaro Pires, presidente da coletividade desde a sua fundação, há quase 39 anos, assume que “há vontade para fazer mais” mas, para tal, é preciso “resolver um dos problemas graves que temos, que é não ter um espaço físico onde desenvolver as nossas atividades”.

“Se tivéssemos as desejadas instalações, hoje a associação teria uma ação muito maior. Felizmente temos pessoas disponíveis para assumir a participação nestas atividades mas não temos condições para avançar com mais projetos do que aqueles que temos atualmente”, explica.

Afonso Lázaro Pires lembra que este é um sonho antigo e muito ambicionado. “Temos o terreno, temos o projeto mas a Câmara de Coimbra tarda em despertar para a importância desta estrutura”, realça, dando conta que se trata de um projeto “muito simples, para desenvolver trabalho, e que precisa da ajuda da autarquia”, de quem esperam “uma resposta há muitos anos”.

A obra está prevista para a Urbanização da Quinta da Fonte e a ACRC pretendia fazer deste equipamento o “Centro Cultural da Quinta da Fonte”, através de um projeto que, segundo Afonso Lázaro Pires, “permite ampliações à medida que fossem sendo necessárias”.

Continua a faltar, contudo, a “luz verde” da autarquia para que as novas instalações avancem, sob pena de, caso tal não suceda, poder “cair todo o trabalho de todos estes anos”.

“Não há condições físicas para continuar com tudo isto. Temos condições humanas, temos jovens que têm sido aqui formados disponíveis para colaborar e para dar continuidade ao projeto, mas continuamos sem o necessário espaço para crescermos e para podermos mesmo responder a outros grupos que nos contactam”, sublinha o presidente.

Atividades espalham-se por vários espaços de Coimbra

A conhecida associação do Areeiro, que nasceu precisamente na zona habitacional do Areeiro e Alto de S. João, na Freguesia de Santo António dos Olivais, realiza atualmente as suas atividades em vários espaços da cidade. No Areeiro dispõe de uma sala que já é pequena para a Tuna; na Escola Básica 2,3 Dr.ª Maria Alice Gouveia, na Casa Branca, decorrem os ensaios do grupo de dança; e na Conraria, no antigo Centro Popular do Trabalhador, está reunido todo o material (que é muito) que a ACRC utiliza.

Esta dispersão obriga a uma exigente organização e a uma logística que não seria necessária se tudo pudesse funcionar apenas numas instalações. Criada para desenvolver atividades culturais, na área da música, dança, teatro, entre outros, a ACRC envolve mais de uma centena de participantes nas suas várias atividades, onde se destaca a Tuna com mais de 40 elementos e que continua a crescer, o grupo de concertinas com cerca de 15 e o grupo de dança moderna com aproximadamente 20.

As atividades contam com pessoas de todas as faixas etárias e com formações muito diversificadas, o que cria um envolvimento e uma partilha muito enriquecedora, o que reflete a verdadeira filosofia do movimento associativo.

Apesar dos seus grupos realizarem todos os anos largas dezenas de espetáculos em todo o país, o trabalho da associação ainda não é tão reconhecido em Coimbra como a direção gostaria. Os eventos que dinamiza – sendo de destacar os promovidos recentemente na Baixa -, mobilizam muita gente mas Afonso Lázaro Pires considera que ainda há muito trabalho a fazer na promoção das coletividades e da cultura na cidade. “Precisávamos de ter uma associação das coletividades de cultura e recreio do concelho de Coimbra, que seria o interlocutor extremamente interessante com a Câmara e com o Departamento de Cultura e através do qual se poderia potenciar e desenvolver um conjunto de atividades, nomeadamente esta de divulgar os grupos junto das autarquias locais e das juntas de freguesia. Isso iria facilitar também o trabalho da Câmara nessa área, permitindo a gestão e a discussão dos problemas do movimento associativo”, realça.

Cultura tem que estar acessível a todos

O acesso às atividades culturais tem que ser uma garantia de todos. Afonso Lázaro Pires realça que “não faltam pessoas que queiram participar nas nossas iniciativas, mesmo jovens”, e considera que este número só não é mais expressivo porque “não há em Coimbra um movimento associativo forte”, o que faz com que as pessoas tenham que “comprar tudo”.

Se esse movimento existisse, para além de criar emprego, possibilitaria também, no seu entender, que todos, “mesmo aqueles que têm menor capacidade económica, pudessem frequentar essas atividades”.

Afonso Lázaro Pires defende que esse é um assunto que tem que ser “aprofundado e discutido, porque a cultura não pode ser só para aqueles que têm dinheiro, assim como a participação numa atividade organizada não pode depender da condição económica de cada um e é isso que está a acontecer neste momento”.

O presidente da ACRC ressalva também a importância que estas atividades têm para a formação dos jovens, que ficam com outras vivências e espírito de grupo que serão enriquecedores para o seu futuro.

“Qualquer sociedade precisa de um movimento associativo forte para se poder desenvolver de uma forma mais harmoniosa”, sublinha.

No caso da ACRC as portas estão permanentemente abertas a todos, sendo a frequência de todas as atividades gratuita. Apesar do planeamento ser feito no início do ano escolar – época ideal para as pessoas se inscreverem -, podem integrar a associação em qualquer altura e participar nas atividades, que são orientadas por pessoas com formação, de forma a garantir um trabalho de qualidade.

A ACRC tem atuações ao longo de todo o ano, em vários pontos do país. Neste momento está a preparar já o espetáculo comemorativo dos seus 39 anos, previsto para 9 de dezembro, no Centro Cultural da Pedrulha.

É preciso repensar o movimento associativo

A sociedade atual exige que se repense o movimento associativo. As múltiplas exigências do dia a dia, bem como a oferta diversificada, fazem com que cada vez menos pessoas estejam disponíveis para se dedicarem ao associativismo.

Afonso Lázaro Pire entende que aquele associativismo que se criou em Portugal, que resulta ainda da “carolice” das pessoas, tem “tendência a acabar”.

“Não podemos perder tempo. Temos que repensar este modelo”, defende, considerando que Portugal pode inspirar-se em alguns modelos já adotados noutros países, dando um exemplo que conheceu em França, há cerca de 40 anos, em que “as atividades já eram asseguradas com a participação da área cultural de uma autarquia, em conjugação com a população local”. Nesse caso, a Câmara construiu as infraestruturas necessárias para o desenvolvimento das atividades culturais e associativas e depois, através do pessoal do seu departamento de cultura, assegurava o funcionamento e a eficiência de todas essas áreas de formação e de aglutinação.

Afonso Lázaro Pires entende que, quando as desejadas instalações forem construídas, a ACRC pode também fazer “uma experiência extremamente interessante em Coimbra, pioneira no país, e que pode trazer resultados muito proveitosos para o desenvolvimento do associativismo cultural em Coimbra”.

A questão das instalações continua a ser um problema para vários grupos, que sentem falta de um espaço que possam utilizar. “A Câmara precisava de ter um espaço onde as associações pudessem desenvolver as suas atividades, de uma forma programada”, realça.

Destaca também que essa é já uma realidade noutras autarquias do distrito, que dispõem de auditórios e outras infraestruturas físicas, onde as associações desenvolvem as suas atividades. “Em Coimbra não temos e não se percebe porquê. Tudo o que apareceu foi distribuído, hoje estão lá grupos instalados quando esses espaços podiam ser partilhados. Uma cidade não se pode dar ao luxo de ter um auditório para cada grupo mas pode ter um espaço onde todos possam desenvolver atividades de uma forma programada”, alerta.


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