O objetivo era claro, criar um grupo que permitisse dar aos jovens oportunidades que na altura não eram fáceis de conceber. Foi sobre este princípio que Afonso Pires decidiu avançar com a ideia de criar uma associação juvenil, ainda antes do 25 de Abril, tendo sido, uns anos depois da Revolução dos Cravos, inaugurada oficialmente a então Associação Cultural e Recreativa de Coimbra (ACRC).
“A ACRC surgiu na época, aqui no Areeiro (Coimbra), porque não havia nada. Surgiu muito antes do 25 de Abril e criou-se um grupo para fazer animações frequentes na região toda, tendo sido fundada oficialmente em Dezembro de 1979”, começou por dizer o fundador.
Vindos de uma época de grandes contestações e dificuldades económicas e sociais, o bem-estar dos jovens era assim a prioridade. “Na altura éramos todos mais jovens e um dos fatores que contribuiu para a criação foi sentir que podíamos fazer muito mais para a melhoria de condição deles, pela sua integração na sociedade e sobretudo dar a oportunidade de lhes dar aquilo que nós não tínhamos a possibilidade de fazer”, recorda Afonso Pires que tem dedicado grande parte da sua vida ao associativismo, tendo estado mais de 40 anos à frente da Associação e sendo hoje presidente do Conselho Fiscal.
Na altura, a Associação surgiu com apenas dois grupos, um de tuna e outro de dança moderna. Hoje abrange mais duas áreas, o grupo de cavaquinhos e o grupo de concertinas, e tem cerca de 150 pessoas, distribuídas pelas quatro atividades.
Com alunos desde, literalmente, dos 8 aos 80, Afonso Pires admite que é um desafio continuar a atrair jovens, bem diferente dos tempos da criação da ACRC. “Na altura havia muita adesão porque era uma iniciativa nova que vinha ao encontro daquilo que os jovens queriam. O poder económico era muito baixo, as pessoas não tinham capacidade como hoje têm de ir para academias de música e dança. Tudo mudou e, felizmente, para melhor em termos económicos, mas perdeu-se um pouco desse sentimento ou sentido que o associativismo tem para as pessoas. Antes procuravam as associações para desenvolver atividades, mas hoje em dia é diferente. Há mais dificuldade em captar os jovens para estas atividades porque os pais têm condições económicas muito superiores àquelas que haviam na altura”, sublinha.
Espera por novas instalações já vai longa
Com quase 45 anos de história, a Associação já viveu altos e baixos, e vai sobrevivendo com os apoios de várias entidades regionais.
Contudo, espera há 17 anos por uma nova sede. Com um terreno cedido na Urbanização Quinta da Fonte e com um projeto de arquitetura aprovado pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) não houve, durante todos estes anos, qualquer avanço, e mesmo sendo solicitadas respostas ao Departamento da Cultura da CMC estas não foram dadas.
“A Câmara não responde, a última resposta foi dada pelo vereador Carlos Cidade que enviou o projeto para o Departamento da Cultura e não nos foi dada resposta. Acho que 17 anos são mais do que suficientes para as pessoas verem o que têm lá pendurado para dar uma resposta capaz”, lamentou.
O fundador carrega consigo o sonho de ver a Associação com um novo espaço porque acredita que se tivessem as devidas condições teriam “o triplo de pessoas” que têm hoje.
“O projeto tem uma arquitetura muito simples, não tem auditórios que possam encarecer esse mesmo projeto, mas é um plano de trabalho. Com este espaço já conseguimos trabalhar com todas as atividades em simultâneo”, refere.
A ACRC está a equacionar pedir uma audiência ao presidente da CMC para esclarecer o assunto.
Agenda preenchida
Com os quatro grupos de modalidades ativos, sendo que o grupo de concertinas está semiparado, mas segundo a Direção espera “oportunamente que saia uma nova turma com características inovadoras”, a agenda começa a voltar à normalidade, depois de ter estagnado durante a pandemia.
No dia 4 de maio vai decorrer aquele que é “um dos maiores festivais de dança em Coimbra” do grupo de dança moderna. O “The Season Flowers” apresenta, no IPDJ Coimbra, o Festival de Dança Moderna e promete encantar o público. Com expetativas de, pelo menos, igualar a plateia do ano passado (estiveram presentes cerca de 300 pessoas), o encontro vai contar com cinco grupos convidados, vindos de Arganil, Casal do Lobo (Coimbra), Alqueidão (Figueira da Foz) , Miranda do Corvo e Castro Daire.
Também a tuna tem uma agenda preenchida de encontros. Durante os próximos meses vai passar por Óbidos, Póvoa da Lomba (Cantanhede), Vila Nova de Poiares, Coimbra, entre outras. Apesar de atuarem mais pela região Centro, a Associação Cultural e Recreativa de Coimbra percorre Portugal de norte a sul.
Impulsionar os jovens
Sendo uma associação juvenil, atualmente é liderada por Inês Dias que tem apenas 26 anos e já está na ACRC há cerca de oito, no grupo de dança moderna. Foi para a presidência no início do ano de 2024 e tem os objetivos bem delineados para o seu mandato. “Queremos continuar a fazer o trabalho que estamos a fazer, que é levar um bocado de cultura às pessoas que não têm acesso e queremos fazer crescer a Associação”, afirmou. Para isso, a jovem reforça que “é importante ter um espaço adequado” e que possa permitir crescer em número de associados.
Também André Rodrigues, vice-presidente e professor de música, afirma que a sede é uma prioridade, principalmente para realizar “o sonho de vida do senhor Afonso”. “Enquanto associação gostaríamos todos de lhe dar esse prémio de vida. Mas sabemos que não é fácil”, disse.
Afonso Pires enaltece o esforço dos jovens em manter viva a ACRC. “É gratificante e eu sinto uma satisfação muito grande de ver hoje jovens na Associação assumir responsabilidades para projetar o grupo. Tenho muita confiança neles para que a Associação continue a viver”.
Atento às mudanças dos tempos, o fundador da ACRC vê nos jovens novos horizontes. “Eles (jovens) têm uma predisposição e abertura de espírito completamente diferente da minha e quando se pensa em organizar alguma coisa eles surgem logo com ideias novas”.