15 de Junho de 2025 | Coimbra
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Associação Catrapum: a arte vista pelos olhos das crianças

31 de Março 2023

Para as crianças. Para os adultos. Para toda a comunidade “sem exceção, de forma inclusiva e acessível”. É assim a Catrapum Catrapeia. Com sede em Penela, nasceu há 10 anos esta associação sem fins lucrativos que leva a arte como uma forma de aprendizagem, tendo como base a pedagogia moderna, a música, o teatro, numa convergência com todas as vertentes artísticas, assente na educação pela arte, cultural e intervenção psicossocial.

“Durante alguns anos fui professora na área das artes e percebi que havia um conjunto de situações com as quais não me identificava e procurei por outras respostas, daí ter descoberto a pedagogia moderna. Percebi que as crianças precisam de algo mais”, começou por dizer a fundadora da Catrapum, Vânia Couto.

Bianca de Matos

A ideia é bem simples: “criar espetáculos que aliem as componentes lúdicas e educativas, explorando diversas temáticas”. “As crianças querem estar incluídas, querem fazer, decidir, pelo que tudo o que fazemos aqui é o resultado que vem do trabalho delas, até mesmo os espetáculos”, explicou Vânia Couto, fundadora da Associação Catrapum.

A Catrapum considera que o teatro para crianças não só serve para divertir os mais novos, mas também como um mecanismo de aprender, educar, intervir, sentir e fazer pensar. Aqui, os espetáculos são lúdico-pedagógicos e, mais uma vez, inclusivos. Com olhos postos na sua missão, “em chegar a todos sem exceção”, os espetáculos não recorrem ao uso da palavra, sendo uma forma de as atuações “poderem ser compreendidas por outras línguas, comunidades, surdos-mudos, pessoas portadoras de outras deficiências, por exemplo”.

Ao longo de 10 anos, foram já milhares de crianças. Milhares de histórias para contar. Cada criança com a sua. Todas especiais, mas algumas acabam por marcar e ficar na memória desta equipa composta por Vânia Couto,
Alexander Lima, Nilce Carvalho, Malu Patury, Luísa Levi, Constança, Cristiana Martinho e Paulo Costa.

“Tínhamos uma criança que era autista e que olhava sempre para o chão e não tinha capacidade de olhar para a frente, o que fazia com que não conseguisse ver o mundo. Num dos exercícios que estávamos a fazer, se em algum momento essa criança olhasse para baixo, toda a gente caía ao chão e não avançávamos enquanto ela não olhasse para a frente. Isso fazia com que os outros tivessem a noção daquela criança. Passado um mês, a criança começou a olhar para cima e hoje é diferente”, partilhou, ao afirmar que é esta uma das missões da Catrapum: “ir sempre para este lugar mágico que são as crianças, com quem aprendemos e estamos sempre a descobrir coisas novas”.

Teatro e música para bebés – “Malas e Fraldas”

Malas, muitas malas e dentro delas muitas músicas. Músicas de colo, de embalar, músicas que nascem da raiz: África, Brasil, Japão, India, Portugal. Malas, muitas malas e dentro delas muitas coisas, carpas e outros peixes do mar, bolas, fitas, guarda-chuvas cantantes, instrumentos que embalam os ritmos dos bebés ao colo das mães e dos pais. Malas, muitas malas e dentro delas muita magia: carinhos, sorrisos, abraços entre música, ritmos entre pai, mãe e bebé, palavras e gestos que se confundem, estrelas a dançar com a música. Uma atividade artística com música ao vivo para bebés, famílias e creches, “onde não é preciso levar mala, apenas a fralda”, disse Vânia Couto.

E o Catra…Pum?

O Catrapum é nada mais, nada menos do que uma personagem que viaja pelo mundo real e imaginário. Um verdadeiro hospital de instrumentos que se transforma numa casa de fados, uma vela de um barco que não é um barco, mas que vai navegar, um mar que se move e que soa dentro do público, por entre o público. “No fundo, uma viagem pelos sons, através de paisagens sonoras, músicas tradicionais do mundo, misturando a eletrónica e os sons acústicos, entre um cenário que se move e se multiplica”, explicou.

Foi neste momento que Vânia Couto recordou este espetáculo, que foi o primeiro da associação. “Tínhamos seis meninos surdos-mudos dentro de uma sala com cerca de 300 crianças. Na altura, fiquei preocupada no que fazer com as crianças que não conseguiam ouvir e foi aí que percebi que o facto de não utilizar a palavra foi fundamental, porque no final do espetáculo essas crianças perguntaram à professora se aquela personagem era como elas (surda-muda). Foi algo que me marcou”, recordou em tom emotivo.

As artes aprendem-se (quase) a brincar

A Catrapum Catrapeia é tudo isto: “um espaço de abrigo”. É aquela que educa. É um meio de descobrir, aprender, brincar, criar laços, pensar, expressar emoções, rir e cantar muito. É aquela que mistura o teatro, a música e outras tantas artes num ambiente criativo, “onde qualquer pessoa, de qualquer idade e de qualquer lugar pode entrar e sentir-se incluída num mundo único e acolhedor”.
“Realizamos atividades educativas e culturais para miúdos e graúdos, comunidades e pessoas com dificuldades, numa participação inclusiva, ativa e didática”, reforçou Vânia Couto.

Aqui, na Catrapum, o público participa, compõe, trabalha em conjunto, executa e experimenta, inventa e torna-se um elemento ativo e inclusivo do próprio espetáculo, oficina, curso. “O público também faz ‘catrapum” neste mundo ‘catrapeia’ pelo mundo e arredores”.

São, assim, muitos os serviços que a Catrapum disponibiliza com impacto a nível nacional, sendo intenção da associação internacionalizar o projeto. “O mais recente é o “Coro Das Mulheres da Fábrica”, intergeracional e multicultural (dos seis aos 80 anos), que trabalha a cultura tradicional portuguesa em todo o seu património: música, teatro e tradições”, destacou Vânia Couto.

Outro dos projetos da Catrapum é o “Festival Género ao Centro” para crianças. Aqui realizam-se atividades sobre igualdade de género para públicos dos cinco aos 18 anos, com recurso a debates e podcast’s. Todos os anos, este festival é realizado em novas localidades da região Centro. Este ano, será a sua terceira edição.

O Turismo Criativo é uma das mais recentes apostas da associação. Performances e intervenções artísticas de património, envolvendo os espaços e a comunidade: museus, mosteiros, conventos, moinhos, salinas, entre outros locais, em que é criado um espetáculo para cada um, fazendo recolhas e documentários com a comunidade sobre a história e o património da localidade. “É sempre uma performance itinerante onde se exploram os espaços arquitetónicos, o seu som e a sua história, para públicos infantis e famílias, bem como para população geral”, referiu a fundadora.

“A cultura é fundamental”

Seja para quem for, “a cultura é fundamental, é o que nos permite evoluir nos comportamentos, ser capaz de pensar”. “Aquilo que sinto é que muitas vezes a cultura é posta de lado. Há esta dificuldade em aceitar que a cultura não é um hobby, mas uma necessidade”, refletiu Vânia Couto.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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