Quem de longe a avista logo a reconhece pelos seus contornos. Uma cidade torneada de moldes góticos e românicos onde a contemporaneidade lhe dá o acabamento dos tempos. Coimbra, toponímia que respira ares frescos e sadios. Os seus jardins e o leito que a emolduram fazem desta antiga capital lusa uma autêntica cidade romântica, onde o romantismo é mais que tricanas e estudantes, mais que baladas e trovas passadas.
De todas as localidades temos um postal, sendo o mais conciso aquele que nos fica na memória depois de um deslumbramento in loco, que guardamos com a perspetiva que entendermos. Os miradouros, dos icónicos aos improváveis, são desses lugares onde focamos as melhores imagens. A esta cidade não lhe faltam belas varandas, de onde se pode avistar ou reavistar a singular geografia humana, urbana, histórica e natural da urbe, assim como dos seus arredores ou mesmo regiões por vezes distantes, onde com um esticão de olhares depressa voamos longe.
É do lado de Santa Clara que esses varandins nos fazem debruçar sobre a velha colina, erguida como quem escala o sucesso. Do afamado miradouro do Vale do Inferno são claras as vistas para norte e para o nascente. Daqui se assiste à evolução das margens do Mondego, aos seus extensos laranjais e às grandes quintas de solos férteis e fartos, restando baldios e ruínas, que foram dando lugar a uma parte da cidade que se construi à sua beira, sempre na azáfama dos invernos, ora não fossem as margens do Basófias. Dali embalamos os olhos numa navegação entre o Choupal e Lapa dos Esteios, passando a vista pelas várias pontes que ao longo dos tempos se foram impondo sobre as águas.
Do amplo terreiro do Mosteiro de Santa Clara à Nova temos a panorâmica mais contagiante sobre a cidade dos estudantes. Dali lhe contamos as cúpulas dos mosteiros e o topo das suas fachadas, mas esta terra é também colecionadora de torres (Universidade, SC Misericórdia, De Anto, etc.), sabendo que delas se podem ter as mais regaladas vistas sobre esta “IberAtenas”.
No largo da Portagem qualquer um é convidado a trepar “o monte da sapiência”. Já no alto, quem passa a porta férrea não ignorará a paisagem que se usufrui a partir do Pátio das Escolas. É nessa Real varanda que observamos o quadrante mais viçoso, estendendo a contemplação a um horizonte serrado de serras, uma linha fronteiriça entre o Portugal da moda e o Portugal profundo.
Na rua do Arco da Traição entre arvoredos centenários e o canto gritante das aves o cenário repete-se no alto do Botânico, no entanto este miradouro por poucos conhecido é subestimado pelo Penedo da Saudade. O Penedo dos amores e das baladas, o recanto dos poetas e da academia, sem mera dúvida o mais simbólico. A partir daquele morro da Pedra dos Ventos, tão natural e carregado de poesia, onde a própria água que ali corre e o vento que balouça as velhas oliveiras enaltecem um poema único e tão mítico daquele lugar. Dali se assiste a outra vertente da cidade.
Enquadrando o visitante num cenário mais gregoriano e de reflexão poucos dão importância ao alto da Igreja de Santo António dos Olivais. Estendendo o olhar não ficará descontente com o que alcançará. O mesmo se pode referir a partir do Seminário Maior de Coimbra, miradouro cativante e amplo para a margem esquerda do Mondego.
Bem sei que aqui não apresento todos esses miradouros desta velha cidade. Quem sabe não tenha também de sua casa, uma dessas belas Varandas de Coimbra…