Não tenho uma visão clara mas uma visão agónica sobre Deus e goteja em mim um profundo e longo desespero de não possuir a religiosidade necessária, viva, para Ele aceitar as minhas interrogações, as minhas súplicas, a clareza de quem necessita de aceitar a existência de Deus, sem dogma, como um santo irmão ouvinte e não equidistante.
Parece que tenho o coração degenerido pela dúvida e, assim, Deus não aceita o meu “diálogo”, a minha prece diária, sentida, mas paradoxalmente não ouvida pelo criador do universo no conceito de todas as religiões e no conceito dos homens de boa vontade.
E assim carrego a cruz do ceticismo infinitamente trágico que me afunda tantas vezes no abismo da tristeza sem fim!
Este pensamento é racional porque não gosto de escrever sem assunto ditado pelo espírito.
A fidelidade à arte literária não me seduz na sua intimidade displicente, pois tenho de versar o significado do texto, do artigo ou crónica. Tenho de ser fiel a mim mesmo.
Não gosto de escrever no conforto da fantasia. As palavras vazias ou ao acaso, as palavras mortas ou simplesmente vencidas, inertes ou desvirtuadas, nunca me seduziram nestes longos anos de mero obreiro da imprensa escrita.
Tenho de assumir sempre a minha condição humana em tudo que escrevo.
E o Natal derrama confluências especiais no meu espírito. É uma data sentimental do meu coração. E agora que perdi toda a família, que vivo em solidão doméstica, o Natal, a sua mística, traz à minha identidade uma paz apetecida e a mensagem dum mundo melhor, sempre desavindo.
Viver o Natal é estar em saudade com os meus entes queridos que já fizeram a grande viagem, com os amigos fraternos num conceito de Amor, de Vida. Viver o Natal é sempre sentir ideias-sentimentos expressos em Cristo e não numa mera manifestação materialista ou a rotina da lamentação expressa no desejo da mundivivência do dinheiro do luxo, da corrupção do espírito.
O Natal é amor humano tantas vezes num simples postal.