Evoco Alejandro Casona, o dramaturgo espanhol que em 1949 viu editada a sua obra “As árvores morrem de pé”, adaptada ao teatro português, e que havia de imortalizar, de entre outros dos nossos atores, a saudosa Palmira Bastos quando em 1966 interpretou o papel principal daquele drama. Na sua essência ressalta a ideia de que nas nossas vidas nunca devemos abandonar os sonhos que sempre vamos construindo, não nos deixando abalar pelas vicissitudes com que tantas vezes somos confrontados.
De posse de tal informação, optei por este título para referenciar o apontamento que hoje aqui me traz. Tudo por via de uma árvore, de uma grande árvore despida de ramos e folhas, nua de vida, mas imponente na resistência, onde nem a idade, nem o vento, nem a chuva e nem sequer a mão do homem se atreveram até agora a derrubar. Ela encima o alto da Conchada com este aspeto desde há dezenas de anos e, cá de baixo, da cidade, todos a podem ver, se atentos, ao olharem para aquele local altaneiro.
Hoje, ela continua a testemunhar o que de mais tétrico sempre presenciou: os muitos que vão a enterrar no cemitério ali ao lado, sendo largas centenas os que ao pé de si têm passado a caminho da outra vida, uns sós e sem vivalma a acompanhar e outros com grandes cortejos e exéquias, onde às vezes sobram gritos e suspiros e lágrimas e adeus. A tudo ela tem assistido e testemunhado do seu cimo, com os braços nus, sustentados por um tronco empedernido pela fatalidade do tempo. O seu aspeto é nostálgico, lúgubre, derradeiro! É ali o fim, mas ela há-de morrer de pé!