O mês findo consagrou, politicamente, o Partido Socialista como a força partidária de maior expressão nacional, apesar do fantasma de Tancos e das relações familiares, e mostrou que a oposição à direita não está assim tão débil como as sondagens iniciais pareciam apontar. O grande vencedor, porém, foi a abstenção, de tal forma que temos um governo suportado por, aproximadamente, 18% do universo de eleitores. Para quando uma reflexão profunda e medidas concretas para tornar a democracia legitimada?
Entretanto, já temos governo, aumentando o número de ministérios, com programa aprovado, adiando uma vez mais a revisão constitucional e a lei eleitoral – esta última tão injusta para os partidos mais pequenos, não obstante algumas novas formas excêntricas e questionáveis de fazer política, como a saia do Livre ou a reação parlamentar ao Chega.
Aos deputados eleitos pelo círculo de Coimbra espera-se o mínimo: que defendam a região e seus interesses junto do poder central – o que parecendo fácil tem sido, efetivamente, muito difícil, enredados que ficam nas teias e entranhas de jogos políticos, os quais, legislatura após legislatura, ferem o nosso território regionalista.
Em plena campanha desapareceria do mundo dos vivos Freitas do Amaral – um vulto da nossa História Política e Jurídica. Um homem que ajudou a construir o sistema democrático e que evoluiu de um certo clericalismo e radicalismo pós-25 Abril, para posições ideológicas mais moderadas e consentâneas com os tempos que vivemos.
No campo da saúde Portugal continua a evidenciar fragilidades e a fazer perigar o SNS. Faltam médicos, as urgências permanecem caóticas e alguns profissionais não estão à altura da profissão que desempenham. O caso do bebé sem rosto, noticia também nos media internacionais, é prova evidente que ninguém está livre de sofrer com um mau profissional: recorrente no erro e sinalizado, há muito, pela Ordem dos Médicos. Teremos justiça?
Na justiça José Sócrates saiu a sorrir do interrogatório relativo à fase de instrução da Operação Marquês, com alguma da típica arrogância à mistura. Um dos processos mais relevantes do pós-25 Abril, no qual todos esperamos que a justiça seja cega e imune a todo o tipo de pressões. Seremos capazes?
Em Coimbra agitam-se os bastidores dos poderes políticos concelhios socialistas e sociais-democratas. Se, no caso dos socialistas, emergem quatro potenciais candidatos com Nuno Moita a reunir, aparentemente, consenso alargado, já no seio dos sociais-democratas a disputa aponta para um mano a mano entre Carlos Lopes e Barbosa de Melo.
Coimbra, cidade do conhecimento e cultura, vértices que, felizmente, se não circunscrevem aos imperativos municipais. Num rasgo de brilho e lucidez cultural, a União de Freguesias de Coimbra dinamizou um ciclo de conferências alusivo aos 900 anos do território de Almedina. Património material e imaterial, arqueologia, poder local ou memórias da Alta, foram temas abordados perante assistência numerosa e interessada.
A cidade continua em obras. O que pode ser um bom sinal, se atentarmos ao novo túnel do Choupal – designação exagerada para uma simples passagem inferior – ou, pelo contrário, um mau indicador se olharmos para a necessidade de nova adjudicação das obras do paredão do Mondego entre a Ponte Açude e a Estação Nova.
No mundo rural agitam-se os lagares e casas de lavoura. Fizeram-se as últimas vindimas e deu-se início ao varejamento da azeitona. Confirma-se o grau elevado do néctar dos deuses e a abundante colheita oleosa, apesar da intensidade da doença do bicho. Limpam-se os terrenos e queimam-se os restolhos. Nas zonas montanhosas é promissora a época da castanha e da bolota.
E choveu, finalmente, com especial abundância no norte e centro do país. Ouro outonal caído dos céus, limpando as ruas, vertendo dos rios e ribeiros para as barragens, minimizando o impacto de uma teimosa tendência de seca que nos persegue há uns anos a esta parte.
Ao correr da pena fica a aguardar pelas novas de novembro.