“Andam p’la terra os poetas,
Dizem que são de ficar,
Dizem que são de ficar,
São como filhos das ervas.”
“Dizem que são de ficar” e na verdade permanecem. Um poeta quando escreve um poema, um simples verso, grava de imediato algo que eterniza uma parte de si. O corpo vai, os poemas ficam e assim vai o Homem e fica o Poeta. Assim ficou Carlos Carranca, o Poeta guerreiro e lutador, um dos mais fiéis discípulos e defensores de Torga e de Unamuno.
Falar da sua partida não é escrever necessariamente um poema final pois o primeiro verso será: “Para Sempre Carranca…”. Dediquei-lhe umas poucas palavras durante estes últimos anos, ao Poeta, ao Homem, ao Cantor. Não serão estas as últimas palavras, mas as mais valiosas são aquelas que proferimos e escrevemos sabendo que as leu o verdadeiro destinatário.
As guitarras de Coimbra sentirão a falta da sua voz, a natureza sentirá a ausência dos seus versos e clamores, as casas e bibliotecas guardarão com saudade as suas rijas declamações, assim como o Mundo de Carranca sentirá a falta deste Homem amigo e culto. O negro da Académica ficou ainda mais carregado, não de luto, mas de uma homenagem sentida. Desde os areais da Figueira, passando pela princesa do Mondego (Coimbra), até à sua “Serra Sagrada” (Serra da Lousã), ficarão para sempre os seus versos e reflexões deste que foi como definiu Urbano Rodrigues “um D.Quixote que se revela contra a mesquinhez do mundo e cavalga, à procura de si, de um sentido, de um segredo, de um sinal.”
“Andam p’la terra os poetas,
Vivem da luz do luar
Crescem ao som das estrelas
Vivem da luz do luar.” (Carlos Carranca)