As amoras-silvestres e os figos são dois frutos que abundam em Portugal, que merecem uma especial atenção pelo facto de a economia desprezar esta riqueza que a natureza, espontaneamente, nos oferece.
Nos matagais que prosperam pelos espaços rurais destacam-se em sistemas arbustivos, mais ou menos densos, os silveirais, este ano mais pujantes que o habitual, devido às chuvas tardias e ao calor prolongado.
Quase todas as casas das aldeias, com seus quintais e hortas, dispõem de um exemplar de ficus caria – a figueira do figo comestível, que é a primeira planta descrita na Bíblia, quando Adão se veste com as suas folhas ao notar que está nu.
Tanto as figueiras como as amoras amadurecem, sensivelmente, pela mesma altura, durante o mês de setembro, dependendo de condições locais, como humidade ou exposição solar.
A qualidade destas frutas, deliciosas se consumidas diretamente, remete-nos também para formas indiretas de consumo, tais como: compotas, iogurtes, doces e sobremesas.
Porém, não deixa de causar espanto que toneladas destes frutos não sejam aproveitadas nos circuitos sócio-económicos locais e venham a cumprir o curto ciclo de duração apodrecendo nas árvores e desfazendo-se no chão.
Será que deixámos de gostar dos figos e amoras devido à sua abundância? Seremos um país assim tão rico que possa desprezar estas mais valias? A verdade é que muita gente prefere comprar figos nas grandes superfícies quando – conheço alguns casos – desprezam as colheitas próprias.
Vai longe, felizmente, o tempo em que se matava a fome com pão, broa e figos. Talvez por isso renegamos agora o nosso passado deixando figos e amoras ao abandono.
O caso das amoras-silvestres foi, noutros tempos, um tema aproveitado pelos nossos poetas, correlacionando-o com os amores. É eloquente a quadra bem antiga e recolhida nas nossas Beiras:
«As amoras que colhi
Tinham estranho sabor
Fossem delas ou de ti
Nasceu em mim o amor».