Familiares e amigos participaram, na sexta feira, na homenagem a Agostinho Almeida Santos, recordado como “um homem de causas e convicções”, sempre disponível para os amigos e que teve um percurso singular tanto na medicina, como na ciência mas, acima de tudo, na vida.
Falecido a 14 de julho de 2018, Agostinho Almeida Santos notabilizou-se por haver sido pioneiro em Portugal da técnica de procriação medicamente assistida através do sistema de transferência de gâmetas para a trompa, método que propiciou o nascimento da primeira “bebé-GIFT” em junho de 1988. Foi agora homenageado pela Associação Portuguesa de Telemedicina (APT), da qual foi fundador e presidente da Mesa da Assembleia Geral, no âmbito dos “20 Anos de Telemedicina do Serviço de Cardiologia Pediátrica – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)”.
Durante esta sessão, que contou com a participação de diversas individualidades que com ele conviveram, foi recordado nas suas múltiplas facetas. Pedro Pires, ex-presidente da Cabo Verde, através de videoconferência, evocou “o amigo sempre disponível” que tanto fez “ por Cabo Verde, pelos estudantes e doentes cabo-verdianos”, considerando que esta é uma homenagem “muito merecida”.
Já Eduardo Castela, presidente da APT, manifestou o desejo de que “a cidade e o país” saibam recordar Agostinho Almeida Santos, considerando que foi “um privilégio tê-lo tido como um amigo a sério”, com quem partilhou as suas “vitórias e derrotas” e a quem pediu conselhos sempre que precisou.
O presidente do Conselho de Administração do CHUC, Fernando Regateiro, recordou a forma intensa e dedicada como viveu Agostinho Almeida Santos. “Era um cidadão intenso na vida e no viver”, disse, destacando ainda a sua “criatividade intensa, a inovação no agir” e a forma como fazia as coisas acontecer. Durante a sua intervenção, teceu ainda rasgados elogios ao “cidadão exemplar, médico de superior competência, professor que se mantém na nossa memória, pai de família extremoso e amigo do seu amigo”, um “grande homem” que, pela sua diferença, “muito acrescentou à humanidade”.
José Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, enalteceu o “ser humano de exceção, com qualidades humanísticas notáveis, um homem que sempre dedicou a sua vida à ciência, aos doentes, às pessoas e que tudo o quefez foi para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, seja na área mais da sua especialidade mas também na área da telemedicina.
Maria de Belém Roseira conheceu Agostinho Almeida Santos quando ainda era ministra da Saúde, numa visita a Cabo Verde. Para além do seu pioneirismo e do trabalho exemplar que desenvolveu, destacou o facto de o professor ter sido um “desbravador dos caminhos da ética porque as extraordinárias transformações que a ciência nos trouxe no século XX e nos promete para o século XXI não podem deixar de ser encontradas na ética”. Recordou ainda que Agostinho Almeida Santos pertenceu às gerações “construtoras de um sonho, de uma utopia”, tendo-e regido sempre pelo lema de “nunca deixar ninguém para trás”. Considerou, por isso, que esta é uma justa homenagem, uma vez que “as pessoas grandes e boas não podem desaparecer da nossa memória porque são guias e faróis em relação ao sentido certo”.
O antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, destacou, por sua vez, o lado humano e fraterno do homenageado, uma “personalidade boa e forte” que “foi uma graça conhecer” e por quem tem “muita admiração”. “Ele não gostaria que esta homenagem fosse um ato nostálgico mas que fosse um ato onde honrássemos a vida”, disse sobre esta homenagem.
Mas a sessão encerrou, de facto, com um momento de alguma nostalgia e muita emoção. Teresa Almeida Santos subiu ao palco para recordar o pai, um homem para quem o que “contava eram as pessoas” e “as datas de celebração da vida”. Homem “exigente e rigoroso”, até mais consigo do que com os outros, era uma pessoa que “cultivava a vida” e para quem “cada pessoa merecia uma atenção especial”, realçou, destacando, do vasto legado que deixou, “as milhares de crianças que ajudou a conceber, as famílias que ajudou a crescer e que gostava de enumerar e acompanhar, mesmo que à distância”.
Teresa Almeida Santos recordou que o pai era um homem de grandes afetos, que “nunca faltava aos aniversários dos seus inúmeros afilhados, mesmo que isso significasse antecipar um regresso do estrangeiro ou mesmo renunciar a uma viagem”.
“Por tudo isto a presença fortíssima do homem, pai e marido perdurará na nossa memória e será perpetuada enquanto os seus genes, que são os nossos, forem sendo transmitidos de geração em geração”, sublinhou, anunciando ainda que, tal como defendia o pai, “mais do que as palavras o que vale são as obras”, tendo por isso, neste dia em que a APT celebra 20 anos, inscrito nesta associação as duas netas que “escolheram seguir a profissão do avô”.