Sou um leitor compulsivo que não prescinde da leitura de jornais.
A realidade da comunicação social fascina-me. Colaborei, antes de 25 de Abril numa tentativa de criação de um espaço noticioso e, já em democracia criei um jornal, uma rádio “pirata” e na Assembleia da República apresentei o primeiro projeto de lei (com Dinis Alves) para a abertura do país às rádios locais.
“O Despertar” surpreende-nos com os 100 anos.
Todos os que criamos organizações sabemos quão difícil é ultrapassar dificuldades e manter um projeto vivo.
É uma longevidade que devemos saudar elogiando o trabalho de todos aqueles que o criaram, mantiveram e o mantêm vivo.
Sem querer desvalorizar o passado distante, saúdo e elogio o papel de Fausto Correia e a atual dedicação de Lino e Lina Vinhal.
Sinto que Coimbra já viveu maior dinamismo e teve melhores períodos.
Temos uma qualidade de vida muito boa, assente em equipamentos e infra-estruturas muito aceitáveis, possuímos a Universidade e ensino superior de qualidade e diversificado, obtivemos o reconhecimento da Unesco para o nosso património, as respostas de saúde são do melhor a nível nacional e há uma rede de amigos e antigos alunos disponíveis para apoiar…
As novas gerações, especialmente os mais habilitados, estão na sua maioria a sair de Coimbra, migrando para Lisboa, Porto ou outra cidade mais dinâmica, ou mesmo para o estrangeiro, no objetivo de conseguir trabalho e realização profissional.
A descida no valor do imobiliário é sintoma da falta de dinâmica económica e de estagnação demográfica.
O tecido empresarial é relativamente frágil, criando poucos postos de trabalho e com reduzida capacidade produtiva e exportadora.
A diferenciação e diversidade dos nossos serviços, que durante décadas e séculos, nos garantiram a posição de capital das Beiras e de terceira cidade do País, perderam no regime democrático o ascendente de superioridade relativamente a outras cidades de média dimensão.
O centralismo concentrou demasiados recursos em Lisboa e o poder local democrático tem dinamizado outras capitais de distrito, que hoje nos ultrapassaram em dimensão económica e política.
Numa imagem poética Coimbra é uma bela adormecida à espera de um príncipe encantado.
O título deste jornal é premonitório.
Nem um príncipe, nem um jornal, podem sozinhos despertar a nossa cidade.
É um trabalho hercúleo que deve ser feito em cooperação com todas as forças vivas da cidade, alargado às autarquias vizinhas, e que exige ambição.
A Coimbra não basta saborear e apreciar os seus aspetos positivos, fechando os olhos à realidade que nos enfraquece.
Temos necessidade de definir objetivos e estratégias que sejam assumidos pelas diferentes forças políticas e que, com criatividade, inovação, imaginação, proatividade e mesmo agressividade competitiva, criem condições para mais emprego e melhor economia.
Neste centenário do Despertar os leitores devem homenagear o título, fundadores e continuadores, mostrando que a cidade está desperta e disponível para a mudar de rumo.
JAIME RAMOS (Presidente da Fundação ADFP)