Por João Silva
Confesso que o nome me incomodava e a sua localização no Pátio da Inquisição, em instalações antiquadas, não se compaginava com a fantástica cidade que eu via e que escolhera para viver. Contudo, à medida que fui conhecendo melhor Coimbra e a sua realidade sócio-económica percebi que a Casa dos Pobres não era um anacronismo mas a expressão de uma inequívoca necessidade social. Assim, e já lá vão umas décadas, fiz-me sócio da Casa dos Pobres.
Felizmente a Revolução de Abril trouxe-nos, para além da liberdade, desenvolvimento e os alicerces de um estado social, que inscreveu nos seus objetivos a erradicação da pobreza e a diminuição das desigualdades. Mas, como sabemos, as obras dos homens são incompletas e imperfeitas e fomos vendo surgirem muitas casas de ricos ao mesmo tempo que a Casa dos Pobres se debatia com as maiores dificuldades e as suas instalações chegavam a um estado de degradação insustentável.
Contudo a vida também nos ensinou que os milagres acontecem porque surgem homens e vontades capazes de perceber os tempos e de encarnar as ambições necessárias para resolver os problemas e a conseguir o salto em frente das instituições. Lembro, neste contexto, o senhor Aníbal Duarte de Almeida e a sua luta em prol da Casa dos Pobres. Lembro o seu trabalho, a sua persistência e a sua pena contundente sempre pronta a defender esta instituição e a guiá-lo no caminho do futuro.
Depois, lembro-me de ter, enquanto autarca, colaborado no desenvolvimento do processo de transferência da Casa dos Pobres para outras instalações e, sobretudo, de ter aprovado o Projeto de Arquitetura do projeto das novas em São Martinho do Bispo. Foi uma aprovação que não esquecerei apesar de normal e sem qualquer sentido de favor, antes pelo contrário, foi o cumprimento de um dever.
Posteriormente tenho, como simples cidadão, visitado a Casa dos Pobres e percebido o fantástico trabalho que ali é feito, tendo presente as dificuldades de administração que uma instituição como esta vive. O que mais sobressai é o carinho para com todos os seus utentes, fazendo-nos acreditar que o fundador espírito de compaixão, apesar dos tempos, das técnicas e das novas instalações, continua bem presente.
Ainda que hoje existam mais respostas nesta área social a verdade é que elas continuam a ser insuficientes e só quando precisamos é que nos apercebemos das dificuldades em encontrar soluções dignas para os mais idosos em situação de fragilidade ou de doença.
Quer, por isso, a Casa dos Pobres ampliar as suas instalações. É uma ambição de serviço e uma necessidade perante as solicitações que todos os dias lhe são feitas, e que não pode ficar sem resposta.
Continuo a sentir-me incomodado com a designação – Casa dos Pobres -, mas o que verdadeiramente me incomoda é a pobreza e o sofrimento e para estes casos a Casa dos Pobres é uma verdadeira casa de ajuda, de ternura e de respeito pela dignidade humana.
Por tudo isto a Casa dos Pobres merece o nosso respeito e a sua Direção o nosso apoio para que possa continuar a garantir e a expandir os importantes serviços que presta a esta comunidade de Coimbra, cidade que para além do conhecimento que brota da sua inteligência tem o dever de dar voz à ternura dos seus corações.