31 de Outubro de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

Marcas Imperecíveis de Que me Lembro

22 de Novembro 2024

Nas minhas digressões pelas livrarias da cidade fui descobrir um pequeno livro sob o título Marcas Que Fazem Portugal de Margarida Vaqueiro Lopes. A obra é editada pela fundação Francisco Manuel dos Santos e faz parte da colecção Retratos da Fundação.

Esse livro deu-me oportunidade de recordar «marcas» que assinalavam presença em casa dos meus avós, pais e na minha. Foi um desembrulhar de memórias que já não estagiavam nos meus saberes.

 

Vou começar pelo creme Bénamor. Era o unguento de rosto que a minha mãe mais apreciava. Usou-o toda a vida. Reza a lenda que este produto era o favorito da Rainha D. Amélia, que o terá utilizado também até morrer, tal como a minha mãe.

Detida pela empresa Nally, a Bénamor é hoje a marca de luxo da companhia, integrando mais de cem produtos.

O creme de rosto foi criado por um boticário desconhecido em 1925, nuns laboratórios do Campo Grande em Lisboa. Ainda nos dias de hoje é considerado a principal referência da marca. Em 1930, criou-se o pó – de – arroz, em 1932 a água – de – colónia, em 1962 o rouge, em 1970 o creme de mãos.

Está a um ano de celebrar o centenário,

 

Em casa da minha avó existia uma garrafa de “vinho fino”, como ela lhe chamava. Na realidade, era Vinho do Porto Croft vintage, oferecida ao meu avô pelo sobrinho Filipe, um emigrante que ganhou fortunas no Brasil. Isto passou-se por volta de 1930, mas só foi aberta em 1960, por insistência do meu tio António.

Reza a história que, enquanto casa de vinhos, a Croft é muito mais antiga do que o Vinho do Porto.

A marca produziu o seu primeiro vintage da marca Croft em 1781, nos anos de 1784, 1785, 1786, as colheitas também valeram vinhos muito especiais.

No seguimento do sucesso da empresa, em 1889, a Croft compra a icónica quinta da Roêda, uma quinta do Douro com vinhas de qualidade excepcional. Tantos séculos depois, continua a florescer.

 

Quando se ia à casa de banho fazer as necessidades, havia que fazer a limpeza adequada. Era muito jovem, e lembro-me bem de o meu pai comprar na Cooperativa do Regimento de Infantaria 7, onde era sargento, uma espécie de papel pardo para o efeito.

Em casa da minha avó, muitas vezes foi utilizado papel de jornal, folhas de cadernos escolares e de couve.

No início do século dezanove começa a história da Renova. Em 1935 funda-se a fábrica de papel Almonda Lda. Em 1939 a fábrica já produzia mais de 300 toneladas de papel e nunca mais parou de crescer.

Em 1958, a Renova apresenta ao mercado o Renova Super, o primeiro papel higiénico 100 por cento português. A partir desta altura, o papel higiénico entra, em força, na casa dos portugueses.

 

Quem não conhece a fábrica de café Delta fundada em 1961 pelo inigualável Rui Nabeiro. Foi por esta altura que comecei a frequentar assiduamente os cafés, onde na maior parte se bebia bicas Delta.

Não se pode deixar de dizer que esta empresa desenvolve e incrementa, ainda, um amplo espectro de actividades no campo cultural, educacional e social, contributivos para o desenvolvimento da sociedade.

 

Corria a década de 1960 quando a Rainha Isabel II de Inglaterra pediu, no luxuoso Savoy, em Londes, que lhe servissem Mateus Rosé durante uma festa privada. Poderia agora perguntar, quantos portugueses de diversas gerações não provaram, pelo menos, um copo de Mateus Rosé. Posso afirmar, com segurança elevada, quase nenhum! …

O já septuagenário vinho nasceu em 1942 e em 2022 apresentava mais de 10 por cento das exportações de vinhos nacionais. A história de Mateus cruza-se intimamente com a da Sogrape, empresa criadora e produtora deste vinho. Uma das primeiras vinhas da Sogrape situava-se precisamente numa pequena aldeia chamada Mateus, no distrito de Vila Real. Daí o nome.

Em 1970 estive a trabalhar em Vila Real. Quantas garrafas, em roda de amigos, não bebemos de Mateus Rosé!…

 

A Olaio nasceu, oficialmente, enquanto empresa e marca em 1930. Começou a alargar o seu raio de acção à medida que os seus móveis, começam a ser desenhados por figuras incontornáveis como Raul Lino, Leal da Câmara ou José Espinho.

Os móveis Olaio figuravam em restaurantes, ministérios, pastelarias, quartos de hotel, salões nobres, escolas ou teatros, etc. Era difícil entrar num edifício importante onde não aparecesse mobiliário desta empresa.

Na maior parte das casas dos portugueses há mobiliário Olaio. As minhas estantes de biblioteca são Olaio.

 

A minha mãe sofria muito dos dentes. Lembro-me bem de o dentista Dr. Antero Marques, na Guarda, lhe receitar Pasta Dentífrica Couto.

A pasta nasceu em 1932 pelas mãos de Alberto Ferreira Couto e ainda hoje mantém a fórmula original. A década de 1950 e 1960 foram anos de sucesso comercial, apesar de na altura haver grandes concorrentes.

Ainda hoje da fábrica saem, todos os anos, 700 mil bisnagas.

 

Muito Atum Ramirez comi na Guarda em casa dos meus pais, vindo da Cooperativa do Regimento, já acima focado!…

É a mais antiga conserveira de peixe. Celebrou em 2023 uns honrosos 170 anos.

 

Como eu conheço a marca de Sapatilhas Sanjo e já vamos adivinhar porquê!…

A Sanjo nasce pouco mais ou menos na mesma altura que o Estado Novo, – 1931 em São João da Madeira. Desde inicio, houve dois modelos que se destacaram: a K100 e as sapatilhas de ginástica que eram recomendadas por todos os professores de educação física e integrando a lista de material escolar. Quantas vezes eu calcei as Sanjo…

Até ao final da década de 1980 as Sanjo vestiram, por exemplo, equipas de basquetebol. Via-se Eusébio a treinar com sapatilhas Sanjo no Estádio da Luz.

Nas décadas de 1940 e 1950, muitas lojas tinham de esperar cerca de dois anos para receber a sua encomenda.

Em 2023, deu os primeiros passos a caminho da internacionalização.

 

Vista Alegre é a marca que em 2024 celebra dois séculos.

A prenda dos meus avós para o meu casamento, foi um serviço da Vista Alegre.

São raras as famílias portuguesas que não têm uma peça para assinalar um facto especial.

Fundada em 1824 é a fábrica de faiança mais antiga da Península Ibérica, tendo recebido o nome de Real Fábrica em 1829.

É uma referência no mercado internacional e tem lojas em cidades como Paris. Factura cerca de cem milhões de euros por ano.

Todo o êxito se deve à qualidade profissional do pessoal, à permanente inovação, às cores, aos desenhos e às formas inconfundíveis.

 

Calcorreamos inúmeros sítios deste pequeno Portugal; e aí estão eles, os belos azulejos Viúva Lamego!…

Em 1849, António Costa Lamego, decide inaugurar uma olaria no Largo do Intendente em Lisboa. Por sua morte, a mulher toma conta da empresa, daí o nome Viúva Lamego.

Existem painéis de azulejos famosos. Muitos expressam a arte de criadores consagrados: Jorge Barradas, Manuel Gargaleiro, Maria Keil ou Querubim.

 


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