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2 de março de 1967: “O Despertar” festeja 50 anos

21 de Setembro 2018

1967 é um ano marcante na vida de “O Despertar”. Contra “ventos e marés”, o bi-semanário ultrapassa dificuldades e vence barreiras e chega às Bodas de Prata com pujança e determinado a prosseguir o seu percurso, sempre em defesa desta “bela e encantada” Coimbra.

Manifestando a sua gratidão a todos, “O Despertar” procurou envolver a cidade nas celebrações dos seus 50 anos. Logo a 4 de janeiro de 1967 lança a campanha “Bodo dos Pobres” e na edição seguinte evoca o seu passado e a sua evolução, numa publicação que iniciou em outubro de 1966 e que manteve em várias edições. É ainda em janeiro, no dia 28, que se revela a programação dos 50 anos. Em fevereiro anuncia-se a realização de um baile em honra do jornal, no Centro Desportivo de Celas, e a 2 de março celebra-se condignamente este meio século de vida.

Na primeira página publica-se a primeira edição, acompanhada de textos do redator e proprietário António de Sousa, da direção, de Horácio Moura, Governador Civil do Distrito de Coimbra, e de Júlio Araújo Vieira, presidente da Câmara de Coimbra, entre outros.

“50 anos de existência de ‘O Despertar’, bi-semanário que sempre defendeu os interesses da nossa cidade, quer dizer dádiva total dos seus dirigentes, colaboradores e fiéis leitores, ao bem da nossa comunidade, que temos obrigação de amar estremecidamente” – escreve Horácio Moura. Na sua mensagem, o Governador Civil deseja ainda a todos “longa vida, para que, cada vez com maior entusiasmo, possam cumprir a alta, nobre e honrosa missão que o destino lhes confiou”.

Júlio Araújo Vieira deseja também a “O Despertar” e a toda a sua equipa “as maiores prosperidades e as melhores venturas”.

“No quinquagésimo aniversário do jornal ‘O Despertar’ tenho a grata satisfação, em nome da Câmara e no meu próprio, de saudar a Direcção deste conceituado bi-semanário e todos que nele colaboram para esclarecimento do numeroso público que o lê”, escreve o autarca, manifestando ainda o seu “profundo reconhecimento a toda a Imprensa da cidade e a todo o concelho de Coimbra”.

Nesta “hora de euforia”, António de Sousa não esconde a sua emoção. O “rosto” de “O Despertar” não esquece as dificuldades mas mostra-se sempre pronto para abraçar qualquer luta. No seu texto recorda que o jornal lhe foi entregue, em 1934, em “condições bastante precárias” e, neste momento de festa, saúda, “com muita gratidão, todos os bons Amigos” que o têm “amparado nesta difícil missão” que empreendeu, sublinhando o importante papel dos Colaboradores, Assinantes e Anunciantes.

“De início cheguei ao desalento, mas influenciado por uns tantos amigos dedicados – alguns deles já não pertencem ao número dos vivos – permaneci no meu lugar, deixando a Coimbra e aos meus filhos uma Obra que, embora não fosse por mim iniciada, senti bem as chicotadas da penúria em que a encontrei… Contos Largos”, escreve. Congratula-se, todavia, com o rumo que deu a este projeto editorial, como o testemunham as celebrações dos seus 50 anos. “Hoje, felizmente, restituído o crédito e rodeado de Gente Boa – este número bem o afirma eloquentemente – ‘O Despertar’ continuará a servir, como sempre, sem retaliações, a PÁTRIA, REPÚBLICA E COIMBRA”, acrescenta, deixando um “gratíssimo MUITO OBRIGADO” a todos quantos deram a sua colaboração a este jornal.

A merecida homenagem a António de Sousa

António de Sousa acaba por ser uma figura marcante nestas Bodas de Ouro, não só pela importância que teve na continuidade do projeto como também pela forma emocionada e intensa com que lutou e envolveu todos ao seu redor para levar o jornal “a bom porto”. Neste momento de festa, a equipa de “O Despertar” não esqueceu o seu “comandante” e, mesmo sabendo da sua personalidade modesta, prestou-lhe uma singela homenagem, publicando a sua gravura (imagem que ainda hoje se encontra na nossa redação), acompanhada de um texto sentido, inserido, como dão conta, por um “grupo de amigos e admiradores”, num momento em que António de Sousa se encontrava ausente.

Nesse texto recordam as “graves crises” que têm afetado “O Despertar”, por um lado devido “a condicionalismos que limitam o labor intelectual de que vive o nosso jornal” e, por outro, “motivadas por circunstâncias de ordem material, por vezes muito difíceis”.

Evocam, ainda, o percurso de António de Sousa, que cedo começou a colaborar com o jornal, ora como redator, ora como gráfico; e enaltecem a sua “coragem moral, a sua indómita energia, a sua tenacidade e força de vontade, que evitou o desaparecimento de ‘O Despertar’”, após a morte de Mário Henriques.

Desde então abraçou a causa, adquiriu os direitos de propriedade aos herdeiros da família Henriques e, até essa data, sempre lutou para “fazer sobreviver uma tipografia humilde, sem labor comercial, e para fazer sair, assiduamente, um bi-semanário”; luta que, como escreveram na altura, “tem sido vitoriosa até hoje”.

“A cidade, os leitores de ‘O Despertar, na ignorância dos esforços e sacrifícios que representa cada número do nosso jornal, ignora o que tem sido a luta de António de Sousa pela cidade e pelo seu jornal”, sublinham, acrescentando que “nós, os da casa, que o sabemos, não podemos deixar de prestar homenagem a ‘O Despertar’, com o mais fraternal abraço”.

Foguetes” e “glória” n’ “O Preto no Branco”

António Almeida de Sousa, que assinava a coluna “O Preto no Branco”, assinala também esta importante data, com um texto onde enaltece os valores que têm pautado a publicação.

“Aqui estamos hoje a deitar foguetes, ao comemorar-se data tão festiva para a Família de ‘O Despertar’, glória para a Imprensa Regional, honra para a cidade de Coimbra, pela sobrevivência ao longo de cinco décadas dum jornal com as características do nosso – popular, sério e honesto – cem por cento republicano, mas independente, colocando acima de tudo e de todos os conceitos da Pátria, República e Família”, escreve.

Sublinha ainda que “atingir o meio século é sempre motivo de franco regozijo”, ainda mais quando se verifica que, ao longo do caminho percorrido, “surgiram inúmeros cabos das tormentas, vencidos alguns com sangue, suor e lágrimas, abnegação, estoicismo e sacrifícios sem conta, próprios afinal de quem nasceu para morrer de pé”.

O filho de António de Sousa lembra que praticamente nasceu dentro deste projeto – “em nós bem cedo o cheiro do papel e tinta nos dominou” – e que foi naquelas oficinas que, bem cedo, começaram a “abrir os olhos para a Vida”. António Almeida e Sousa diz que se sabe “escrever mais ao menos a direito” o deve a “O Despertar”, a “melhor Escola para quem quiser fazer a sua iniciação”.

Sobre “O Despertar”, diz ainda que “não é um jornal que vá atrás da política”, defendendo sempre a “independência, liberdade e fraternidade”.

Nesta sua coluna, não esquece também o pai e é com palavras de profundo afeto e gratidão que se lhe dirige. “Entendemos ser esta a hora de Te prestar as nossas homenagens, por teres sido Tu que para mais de trinta anos, com um sacríficio inaudito, esforço hercúleo, paciência, resignação e muita discussão, conseguiste transportar o facho Olímpico de ‘O Despertar’ até a esta etapa da vida! Recebeste-o com Honra e com Honra o pretendes transmitir! Podes ter a certeza de que será com Honra que ele seguirá, porque se olharmos para trás vimos um Exemplo flagrante de um amor à causa inultrapassável, batalhas sem tréguas que Tu como Homem travaste para que o ‘barco’ se mantivesse e não afundasse”, escreve, não esquecendo também o importante papel da sua mãe nesta caminhada, enquanto mulher e mãe.

Homenagem e gratidão nas Bodas de Ouro

Neste momento de festa, “O Despertar” procura não esquecer ninguém e, em jeito de homenagem, gratidão e agradecimento, recorda as figuras associadas ao jornal e já desaparecidas. João Henriques (fundador), José Pires Matos Miguens (1.º diretor), Joaquim de Assunção (editor), Mário Henriques (continuador da obra do seu pai), Paulo Evaristo Alves (2.º diretor), Ernesto Donato (3.º diretor), António Augusto Morais (2.º editor) e o tenente coronel Alcide d’ Oliveira (diretor adjunto) foram as figuras homenageadas nesta edição.

Apresenta-se ainda a atual equipa – “100 por cento amadora” – e que, na altura, era constituída por Falcão Machado, Nicolau da Fonseca, Mário Temido, Amâncio Frias, Baptista Saraiva, Duarte Santos, Sílvio Pélico, Adolfo de Freitas, Raul de Sousa, Mário Campos, A. Ferreira Jerónimo, Afonso de Oliveira e Júlio Mano Dias. Nesta equipa estava ainda Manuel Bontempo que, neste momento festivo, saudamos com especial apreço, já que, depois de mais de seis décadas de dedicação a “O Despertar”, continua a prestigiar-nos com a sua colaboração, fazendo também ele, indubitavelmente, parte da história deste nosso jornal que, como não esconde, traz no coração.

Nesta altura, surgia no cabeçalho do jornal António de Sousa como Redator e Proprietário, Sílvio Pélico como Diretor, António Almeida e Sousa como Diretor-Adjunto e Armando de Almeida e Sousa como editor.

Depois desta grande edição festiva, os ecos das celebrações continuaram nas seguintes, com muitas felicitações a “O Despertar” pela sua longevidade.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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