A vinda do Papa João Paulo II a Coimbra foi um dos mais importantes acontecimentos da década de 80. Estes foram anos de desenvolvimento para a cidade, que assistiu à inauguração de grandes obras, como o Hospital da Universidade de Coimbra, a Ponte Açude e a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra. É também, pela primeira vez notícia, o Metropolitano de Coimbra, anunciando-se que já há projeto. A entrada na CEE está também em destaque, assim como a criação da Região de Turismo do Centro e da Associação Nacional dos Municípios.
O ano de 1980 fica marcado por mais uma perda na equipa d’ “O Despertar”. Mário Temido, colaborador de longa data, morre no início de outubro, precisamente no mesmo mês em que o país lamenta o desaparecimento de Marcelo Caetano. É também nesse ano, em dezembro, que Ramalho Eanes é reeleito Presidente da República portuguesa.
Em março de 1981, “O Despertar” surge com um novo logotipo, mais moderno e apelativo. No mesmo mês anuncia-se a criação de uma nova Faculdade de Medicina em Coimbra, “ao lado do futuro Hospital Central de Coimbra, que será também Hospital Escola”.
Em destaque está também a CEE, também conhecida como “Mercado Comum”, tema que, como se lê n’ “O Despertar”, “a grande maioria dos portugueses desconhece por completo”. As vantagens e desvantagens da integração de Portugal na CEE vão continuar em destaque nos próximos meses.
Ainda a nível internacional, o atentado ao Papa João Paulo II, em Roma, abalou o mundo. “Atingiu-se o cúmulo meus senhores! Pode vir à vontade o Apocalipse e vamos a mudar de gente neste mundo cão em que vivemos onde o respeito pelos principais valores morais e sociais está autenticamente em ruína”, lê-se na edição de 15 de maio.
Julho é mês de festas da cidade de Coimbra e, naquele ano, a festa é ainda maior. Primeiro porque o Presidente da República Ramalho Eanes visita a CIC e, segundo, porque a cidade festeja também a vitória do União de Coimbra, que se sagrou campeão nacional de futebol da III Divisão. A equipa unionista derrotou “O Elvas” e a festa “azul e branca” prolongou-se de Lisboa até Coimbra.
No ano de 1982, a Figueira da Foz, que comemora o seu primeiro centenário como cidade, merece especial destaque neste jornal. É também em março que se anuncia a vinda do Papa João Paulo II a Portugal, em maio, o que sucede pela segunda vez na nossa história. O Sumo Pontífice visitará também a cidade de Coimbra, onde passará pelo Convento das Carmelitas para conversar com a Irmã Lúcia, única vidente de Fátima ainda viva.
Esta visita vai agitar o país e a cidade nos meses seguintes. “O Despertar” acompanhou e deu conta de todo o planeamento e programa. Acompanhou a visita e foi com emoção que a contou aos leitores, dando conta que “o povo delirou como não se via há muito”. O Santo Padre foi recebido na cidade por “milhares e milhares de admiradores nacionais e estrangeiros de todos os credos”. Recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” da Universidade de Coimbra e, a partir daquele dia, os Arcos do Jardim passaram a chamar-se “Largo João Paulo II”, encontrando-se naquele local um painel com a mensagem “Obrigado por teres vindo”. Mais tarde, ainda nesta década, foi aí erguida uma estátua em sua homenagem.
Câmaras criam Região de Turismo do Centro
É também nesse ano, em março, que é nomeada uma comissão pró-instalação da Região de Turismo do Centro (RTC). Representantes de 13 câmaras municipais interessadas no projeto reuniram em Coimbra e foi nomeada a comissão que irá representar os 21 municípios aderentes ao “projecto de regionalização turística” e que terá como missão “inventariar as potencialidades e acções turísticas a desenvolver e representar a região”. Os estatutos que criam a RTC foram aprovados em setembro.
É no final desse ano que Mendes Silva conquista a Câmara de Coimbra.
A “guerra contra o cancro” continua cada vez mais forte e divulgam-se os avanços registados nesta área. “O Despertar” dá ainda conta, no início de 1983, de “outra doença”, a crise, que parece nunca desaparecer. Nem o novo hospital, cuja abertura é anunciada para abril de 1984, parece ser capaz de “sarar” este mal, mesmo sendo anunciado como “o maior do país”.
Estes parecem ser anos de desenvolvimento em Coimbra. Em 1983 é apresentada uma proposta para melhorar o Mercado, anuncia-se a criação de uma grande casa de espetáculos e a construção de um hotel e de uma ponte sobre o Mondego. Pela primeira vez fala-se também na criação da Associação Nacional de Municípios e a Cultura ganha maior destaque, anunciando-se como “um pelouro a desenvolver nas autarquias locais”.
Já em 1984 são inaugurados o edifício sede do Sindicato dos Bancários do Centro, na Avenida Fernão de Magalhães, e a Ponte Açude; em 1985 anuncia-se a ligação do Porto e Coimbra por autoestrada; em 1986 é inaugurada a Casa Museu Bissaya Barreto, abre o novo edifício dos CTT na Avenida Fernão de Magalhães, começa a funcionar o novo Hospital (que tem gabinetes para sugestões e reclamações dos utentes) e anuncia-se que já existem projetos para o Metropolitano de Coimbra. Em 1987 é notícia a instalação do parque de campismo na Portela do Mondego (obra que vai custar 16.500 contos à Câmara), questiona-se a criação de uma Escola de Hotelaria, é aprovada a criação do Museu da Cidade e é inaugurado o pavilhão gimnodesportivo da Académica.
Água ao domicílio para todos os conimbricenses
A água é um bem precioso e fundamental à vida. Logo no início de janeiro de 1988, os conimbricenses ficam a saber que vai chegar aos domicílios de todo o concelho. É também anunciada a criação de um Centro de Dia na Freguesia de Santo António dos Olivais, abre a estação de correios na Pedrulha, são criados novos pavilhões nos Hospitais da Universidade de Coimbra e abre o novo Teatro Avenida.
Em 1989, ano em que “O Despertar” surge com um novo visual – com oito páginas e mais fotografias -, dá-se conta que os reformados têm agora mais poder de compra, felicita-se Coimbra pelo sucesso da CIC, é escolhido um local para o novo quartel dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, dá-se conta das novas medidas que surgem na Europa para apoiar os desempregados e destaca-se o centenário dos Bombeiros Voluntários de Coimbra.
É também neste ano que “O Despertar”, num texto assinado pelo jornalista Sansão Coelho, diz que Coimbra precisa de uma Faculdade de Jornalismo. São ainda notícia a criação de um posto de turismo juvenil e a inauguração da tão desejada Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra. O ano encerra com mudanças na Câmara de Coimbra, com a eleição do novo presidente, que substituiu António Moreira. Nada mais nada menos que… Manuel Machado, que assume também agora os destinos do município.
Memórias e perdas
Tal como em todas as outras, esta foi também uma década de perdas. Em agosto de 1983 morre o Governador Civil de Coimbra, Joaquim Tomé (sendo substituído no cargo por Santana Maia até janeiro de 1986, altura em que toma posse Cipriano Martins); em maio de 1985 morre o jurista e político Mota Pinto; e em abril de 1986 morre o escultor Cabral Antunes. Em dezembro do mesmo ano, “O Despertar” chora a perda do colaborador Amâncio Frias e, um mês depois, em janeiro de 1987, de Mário Campos, o seu mais antigo colaborador. É também em 1987 que Coimbra e o país se despedem para sempre de Zeca Afonso, Paulo Quintela e Américo Tomaz. Também nesse ano, o jornal “chora” mais uma perda, com a morte do colaborador Celestino Gomes. Em 1989 morre Fernando Namora.
Deste período recordamos aqui também algumas pequenas memórias. Foi, por exemplo, nesta década (em 1983) que se anunciou a vinda de um contracetivo para os homens; Fausto Correia integra o Conselho de Administração da Rádio Difusão Portuguesa, faz parte da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários de Coimbra e é vereador na Câmara Municipal; debate-se a regionalização da rádio e da televisão; Portugal está na CEE; e é anunciada a informática como “uma realidade hoje e uma esperança no futuro”.
Coimbra está também no centro do mundo ao “dar à luz bebés proveta” (1985); no país fala-se na introdução de um código de barras e nas vantagens que isso terá para o consumidor; Mário Soares é eleito Presidente da República; a LPCC anuncia o início dos rastreios de cancro da mama; é constituído o Clube de Comunicação Social de Coimbra; e vai surgir um novo Bilhete de Identidade, mais difícil de falsificar.
O inferno que se vive em Águeda com o grande incêndio que vitimou vários “soldados da paz” traz para o centro de debate um tema que todos os anos aflige o país. A crise no mundo, a droga e o desemprego, considerado “um dos maiores riscos sociais dos nossos tempos”, são também preocupações constantes.
A vinda a Portugal dos Príncipes de Gales (Carlos e Diana), a conquista do título de Campeão Europeu pelo Futebol Clube do Porto e a vitória de Rosa Mota (Medalha de Ouro) nos Jogos Olímpicos de Seul estiveram também em destaque. Por cá, as Bodas de Ouro da Casa dos Pobres e da Ourivesaria Costa, em 1986, mereceram também uma atenção especial, assim como Miguel Torga, que recebe o Prémio Luís de Camões.
“O Despertar” dá também as boas vindas ao novo colega, o Jornal de Coimbra, em outubro de 1987. No mesmo mês congratula-se com a aprovação do nome de António de Sousa para a toponímia da cidade.
Já no final de 1989, em novembro e dezembro, é com preocupação que dá conta do internamento do seu diretor, António Almeida e Sousa.