A Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, foi, sem qualquer dúvida, o grande momento da década de 70, alterando, para sempre, o rumo da história do povo português. A revolução e o que veio a seguir mereceram grande destaque n’ “O Despertar”, a par com outros grandes acontecimentos que marcavam a cidade, o país e o mundo. Por cá, destaque para obras determinantes como o Pediátrico, o Hospital dos Covões, o Hospital Central, a Faculdade de Economia, o Pavilhão do Olivais Futebol Clube, a autoestrada, entre outras. Esta foi também uma década dourada para o jornal que viu o seu trabalho ser reconhecido com ouro pela Câmara de Coimbra e pela Liga dos Bombeiros Portugueses.
Os Bombeiros Voluntários e Coimbra e as suas necessidades mereceram sempre especial destaque nas páginas d’ “O Despertar”. O mesmo sucede com o Olivais Futebol Clube (FC), que, no início dos anos 70, continua à espera do desejado pavilhão, tendo recebido um subsídio com essa finalidade.
Num período ainda marcado pela censura, o jornal noticia, a 4 de abril, a tomada de posse do Eng. Augusto Correia como vice-presidente da autarquia e, na edição seguinte, dá conta do seu discurso, onde defende que “Coimbra tem que ser rapidamente a terceira cidade da Metrópole”.
Nesta época, como em outras no passado, “O Despertar” continua a alertar para a degradação que se verifica em alguns espaços da cidade, como sucede no Convento de Santa Clara-a-Velha, que se encontra em “completo abandono”. Na mesma edição, a 20 de junho de 1970, Coimbra congratula-se por ver aprovado o Decreto-lei com vista à criação do novo Hospital Geral de Coimbra.
“Causou contentamento geral em toda a cidade, a aprovação do decreto-lei que transforma em Hospital Geral o Hospital-Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil, instalado na Quinta dos Vales (Covões)”, lê-se naquela edição, onde se agradece também a Bissaya Barreto por esta obra, já que foi ele o “grande impulsionador e animador de tão dignificante realização”.
Circulação na Baixa levanta preocupações
Esta “boa nova” surge numa altura em que são manifestadas também preocupações com o atual estado da Baixa da cidade. “As estreitas e movimentadas ruas da chamada Baixinha são, a qualquer hora, atravessadas por veículos automóveis e, principalmente, por automóveis pesados, camiões e camionetas, que obrigam os peões, para não ficarem esmagados contra as paredes dos prédios, a recolher-se nos vãos das portas, muitas vezes à pressa e sempre com o coração apertado”, lê-se na edição de 22 de julho. O mesmo texto alerta ainda para o facto de, em “nenhuma parte do mundo”, se poder “desrespeitar o transeunte de tal forma, dando privilégios e prioridades à circulação automóvel que está em manifesta minoria de números e de interesses comparados com os da grande massa da população”.
Este assunto do trânsito na Baixa vai permanecer na “ordem do dia” e, já em agosto, volta-se a falar na urgência de criar a “Avenida Central” que “será para Coimbra como pão para a boca, pois não devemos continuar a assistir ao crescimento populacional e rodoviário pelo transtorno a que todos os dias assistimos com engarrafamentos de toda a espécie, principalmente vindos das Ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz e da Sofia não contando com as mais pequenas que as circundam”.
Já perto do final do ano, uma nova e emblemática loja chega ao “coração” da cidade. É com regozijo que, a 5 de dezembro, “O Despertar” noticia a inauguração das instalações da Livraria Bertrand, no Largo da Portagem.
O adeus a António de Oliveira Salazar
A morte de António de Oliveira Salazar, a 27 de julho de 1970, teve grande destaque nas páginas d’ “O Despertar”. Salazar dirigiu, durante quatro décadas, os “destinos da Nação”, como Presidente do Concelho, tendo sido também professor da Universidade de Coimbra, onde se formou.
“Nunca com tanta verdade se poderá ter dito que o país ficou, subitamente, mais pobre”, escreveu-se na altura, acrescentando-se que Salazar é “um daqueles que nunca mais poderão ser esquecidos” e que “viverá para todo o sempre, na memória de todos, através das gerações, enquanto o mundo for mundo e enquanto houver portugueses!”.
Já no ano seguinte, em maio de 1971, Coimbra lamenta a morte do seu Bispo, D. Frei Francisco Rendeiro. O custo de vida continua a ser motivo de preocupação, num ano em que se reivindica também para Coimbra um Teatro Municipal e em que se comemora, finalmente, o tão desejado Pavilhão do Olivais Futebol Clube. Na edição de 10 de novembro, “O Despertar” considera que o arranque das novas instalações são “um acto de justiça” que engrandece a cidade, que passará assim a dispor de três pavilhões destinados à juventude e à prática desportiva. “As escavadoras começaram a terraplanagem”.
De parabéns está também a Auto Industrial, empresa que festejou, em novembro, 70 anos.
Fausto Correia chega a “O Despertar”
O ano de 1972 fica marcado pela chegada de mais uma geração da família Sousa a “O Despertar”. O jovem Fausto Correia integra a equipa redatorial e é anunciado como “preponderante na contextura do nosso Jornal”.
“Fausto Correia é já um jornalista formado pela escola que é apanágio de ‘O Despertar’, forjado, portanto, na primeira essência e que abstrai as meras escolhas de jornalismo que para aí apregoam”, lê-se na edição de 11 de novembro. Enaltece-se ainda a sua “formação cultural e idealista”, que tem “imprimido em tudo que lhe sai da pena um cunho especial e inconfundível, sendo acima de tudo de realçar a sua imparcialidade e senso crítico”.
Na mesma edição, o presidente da Câmara de Coimbra, Araújo Vieira, dá conta das novidades sobre a Avenida Central. Anuncia que reuniu já com os engenheiros e arquitectos da Câmara para a “fixação de tarefas na execução de projetos de águas, esgotos, electricidade, arruamentos e transportes colectivos da Avenida Central, ficando o Senhor Eng. Chefe de Repartição de Obras encarregado das respectivas expropriações”. Adianta ainda que os projetos devem ser apresentados à autarquia até janeiro seguinte, “bem como o estudo económico do empreendimento”.
No mesmo mês, o fotógrafo Varela Pècurto conquista o primeiro lugar no I Concurso Ibérico de Fotografia do Parque da Peneda – Gerês, vendo assim reconhecido o seu talento.
Ainda nesse ano, o Conselho de Ministros, sob a presidência do professor Marcelo Caetano, aprova a criação, em Coimbra, da Faculdade de Economia, na qual serão ministrados os cursos de Economia e Organização e Gestão de Empresas. Coimbra vibra com a notícia já que, como se lê na edição de 2 de dezembro, “a criação da Faculdade de Economia abre perspectivas novas não só àquela Instituição escolar mas também à própria cidade, numa altura em que cresce consideravelmente a população estudantil”.
A licenciatura em Direito, pela Faculdade de Lisboa, do colaborador e amigo Manuel Bontempo merece também destaque na edição de 13 de dezembro. “O Despertar” dá os parabéns e enaltece o seu esforço e dedicação, sempre com o intuito de se “valorizar profissional, cultural e socialmente”, estudando nas “horas vagas” de que dispunha.
Coimbra precisa de apostar no turismo
Coimbra demonstra ser uma cidade que tem muito para crescer em termos turísticos. Disso dá conta, em diversas ocasiões, “O Despertar”. Noticia, por exemplo, que a cidade precisa de um hotel que a honre e, mais tarde, explica que há muito a trabalhar pelo turismo e alerta para o papel que o Governo e as autarquias locais têm no desenvolvimento das suas regiões. Manifesta-se ainda o desejo de ver a Praça da República transformada “num centro de atração da maior importância para a vida citadina”.
Também a nível da educação surgem novidades. No ano de 1973 a escolaridade obrigatória passa a ser de oito anos. Na arte, o destaque vai para o pintor Mário Silva, que ganha uma medalha de ouro em Itália.
Fausto Correia parte em reportagem para Angola a convite do Movimento Nacional Feminino e, por cá, a 21 de novembro, anuncia-se a construção de uma nova ponte sobre o Mondego, aos Casais.
Já o início do ano seguinte, numa altura em que “O Despertar” publica os primeiros textos do jornalista João Bravo, noticia-se a entrega, pela Câmara, de um terreno destinado à construção de um pavilhão gimnodesportivo para o Clube de Futebol Santa Clara.
Em sessão de Câmara, analisam-se também soluções para eliminar a passagem do comboio da Lousã pelo centro da cidade, uma vez que a CP apresentou como solução “a curto prazo”, a instalação na Avenida Navarro, próximo à portagem, de um apeadeiro onde as composições teriam o seu terminus durante o dia”. Este tema continua na ordem do dia nas edições seguintes.
“O Despertar” em apreciação na Câmara
Em março de 1974, por ocasião dos seus 57 anos, “O Despertar” está também em apreciação na Câmara. Na sua intervenção, o Eng. Santos Rosa, que como afirmou na altura, também fez parte do leque de colaboradores d’ “O Despertar” enaltece o seu percurso e considera que a Câmara deve, de alguma forma, reconhecer o seu percurso e o seu trabalho.
“Mantenho a mesma fé e até orgulho pela obra de construção informativa que apesar das décadas decorridas, das inconstâncias doutrinárias permanece na integridade duma linha de conduta vertical traçada a longo prazo”, lê-se no seu discurso, que “O Despertar” publicou.
“Afora a minha apreciação pessoal, como vereador, tenho de lhe render sentidas homenagens e penso que a Câmara, ao comemorar-se o quinquagésimo sétimo aniversário […], traduziria uma expressão de reconhecimento e apreço, dignificando-o com algo de significativo que deixo à consideração do Ex.mo Senhor Presidente”, acrescentou.
Nesta altura merece também já grande destaque a luta contra o cancro. O Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro dá a conhecer os seus grupos de apoio e o trabalho que desenvolvem e apela à prevenção.
Revolução de Abril: Os cravos sempre viçosos
1974. Um ano histórico que ninguém esquece. O ano que mudou o rumo do país. “O Despertar” sentiu-o e… contou-o. O Golpe de Estado é noticiado com grande destaque na edição de 27 de abril, ocupando toda a primeira página e continuando no interior. São os relatos do que aconteceu naquela histórica madrugada do 25 de Abril, quando as Forças Armadas tomaram conta do poder, e as repercussões e mudanças que surgiram com a Revolução dos Cravos.
Este tema vai manter-se em destaque nas edições seguintes, sendo de realçar o fim da censura. “O Despertar” congratula-se com a liberdade conquistada e, a 1 de maio, anuncia a publicação de alguns artigos que foram parcialmente suspensos ou mesmo proibidos pela Comissão de Censura.
Dias depois noticia-se a eleição do general António Spínola como Presidente da República do Governo provisório, que entretanto toma posse, e também o regresso a Coimbra de Manuel Alegre que dá uma grande entrevista a Fausto Correia sobre os 10 anos de exílio.
No mesmo ano destaca-se também o elevado preço do arrendamento das habitações, elogia-se a visita do Presidente da República à cidade, dá-se conta do grande comício do Partido Socialista no Pavilhão do Olivais FC, presidido por Miguel Torga e que contou com a presença do secretário geral do partido, Mário Soares. Também o PCP promove, no mesmo espaço e com “casa cheia”, o seu comício.
É também naquele ano de 1974 que é apresentado à imprensa o anteprojeto do edifício destinado à Biblioteca Municipal de Coimbra e que se anuncia, para breve, a independência das colónias portuguesas. A 18 de setembro “O Despertar” lamenta o desaparecimento de Bissaya Barreto, um homem que deixou um importante trabalho tanto em Coimbra como em toda a região Centro.
Já em fevereiro de 1975 marcam-se as eleições para a Assembleia Constituinte para 12 de abril e, na edição de 8 de março, dá-se conta que Fausto Correia foi proposto para membro da Comissão Administrativa da Junta Distrital do PS. A 12 de abril anuncia-se que o 25 de Abril vai ser feriado nacional e, pouco depois, noticia-se a vitória do socialismo.
“O Partido Socialista assegurou a vitória nas primeiras eleições livres realizadas no nosso País após 48 anos de feroz ditadura fascista”, lê-se na edição de 30 de abril.
Este ano de 1975 fica ainda marcado pela publicação, em Diário do Governo, da Lei do Divórcio, pela isenção do imposto no caso das bicicletas e pelo longo processo da descolonização.
Coimbra inaugura novo Pediátrico
A necessidade de instituir um salário mínimo; e a criação da taxa de radiodifusão, que será paga por todos os portugueses, mesmo por quem não tenha recetor de rádio, merecem destaque no início de 1976, ano em que toma posse Ramalho Eanes como Presidente da República e em que Manuel Alegre é eleito secretário de Estado da Comunicação Social. Miguel Torga está também em destaque, ao receber o Prémio Internacional de Poesia, tendo sido felicitado por Ramalho Eanes e Mário Soares.
A nível de projetos, já em 1977, anuncia-se para breve o início das obras da autoestrada de Coimbra e, no início de junho, noticia-se a abertura do novo Hospital Pediátrico de Coimbra, junto ao BCG, nas antigas instalações do Sanatório de Celas. Surge também no “ar” a possibilidade de Coimbra vir a ter uma Escola de Hotelaria e anuncia-se, para o início de 1979, o arranque da construção do Hospital Central, nas “traseiras do bairro de Celas”.
Na ordem do dia está também a questão das viúvas, questionando-se se a pensão social será “utopia ou realidade”, e a ampliação do cemitério dos Olivais, uma obra há muito necessária, já que o recinto se encontrava cheio.
Estes são também anos de perdas. Depois de Bissaya Barreto morrem Elysio de Moura (junho de 1977), Mário Silva (julho de 1977) e Vitorino Nemésio (março de 1978). Mas, para “O Despertar” são anos de Ouro, já que o jornal recebeu as medalhas de ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses e também a medalha de ouro da Câmara de Coimbra.