O Museu Académico, o novo Teatro-Cinema, o Pavilhão do Olivais Futebol Clube, o quartel dos Bombeiros Voluntários de Coimbra e a nova Ponte de Santa Clara são algumas das obras que marcam a década de 1950, em Coimbra. É também neste período que uma nova fase começa na vida de “O Despertar”, com a mudança de propriedade da empresa para a Família Sousa.
A construção do Pavilhão do Olivais Futebol Clube (FC) surge como uma “boa nova” nos primeiros meses de 1950. A 15 de março, “O Despertar” – que sempre acompanhou de perto a vida desta coletividade – dá conta que, “depois de algumas reuniões preparatórias”, que foram dirigidas por “personalidades destacadas do meio conimbricense”, foram nomeadas diversas comissões com a finalidade de “ser erguida, no campo do Olivais – já propriedade do clube – a obra monumental cuja planta honra o seu autor, aquela freguesia e, mais amplamente, Coimbra”.
Com aquela finalidade, foi constituída uma Comissão de Honra, uma Comissão Angariadora de Donativos, uma Comissão Organizadora de Festivais, uma Comissão Executiva e uma Comissão de Propaganda.
Na mesma altura, continua a reivindicar-se uma “Feira de Actividades”, considerando-se que “as festas da cidade a a feira são uma necessidade economica e turística para Coimbra”. Este tema continua na ordem do dia durante várias edições.
Notícia é também, em maio, a realização de uma Feira Popular, promovida pelo Governo Civil de Coimbra, “a favor do seu Cofre de Assistência”. O evento abre, a 21 de junho, a montante da Ponte de Santa Clara.
No mesmo mês anuncia-se ainda que “Coimbra vai construir o seu novo-Teatro-Cinema”, na Praça da República, com “capacidade para dois mil espetactadores, o mais moderno apetrechamento e todas as condições de uma boa casa de espectáculos”. “O Despertar” informa que o edifício terá “salões de exposições, de festas e de conferências e uma parte destinada á Casa das Beiras, onde o centro do país poderá fazer a propaganda do seu turismo a sério”. O projeto é da responsabilidade do arquiteto Edmundo Tavares.
A morte do Marechal António Órcar de Fragoso Carmona (9.º Presidente da República Portuguesa), a 18 de abril de 1951, merece também destaque nas páginas deste jornal. O “venerando Chefe de Estado” é descrito como “um Grande Português” […], que “perdurará entre os bons Portugueses, que amam a Deus, a Pátria e a Família acima de tudo”. Recordam-se ainda os “vinte e três anos do seu exercicio de Presidente da República que saiu do Movimento triunfante, de 28 de Maio de 1926”.
Museu Académico é uma realidade
Mais uma boa notícia para Coimbra: o Museu Académico parece que vai ser mesmo uma realidade. Na edição de 2 de junho, “O Despertar” recorda que, já há anos publicou um artigo onde apelava à importância desta obra, “um museu em que reunidos fossem todos os livros, papeis, programas, e impressos que à vida académica se reportassem e bem assim indumentária, louça, quadros, estampas, medalhas, etc, que se encontrassem em análogas condições”. É, portanto, com satisfação que se toma conhecimento da concretização deste museu.
Enquanto alguns projetos se anunciam, outras obras avançam na cidade. Exemplo disso é a construção do novo quartel dos Bombeiros Voluntários, na Avenida Fernão de Magalhães. Na edição de 23 de junho, “O Despertar” dá conta da “progressiva marcha” das obras que “marcam, decerto, uma nova etapa na vida de tão querida Corporação, e que enche de alegria todos quantos, como nós, dedicam aos Voluntários aquela simpatia que eles bem merecem”. Recorda ainda que esta casa tem sido pedida “há mais de 30 anos”, congratulando-se por isso com a sua concretização e com a certeza de que “não bradávamos no deserto”.
Em outubro de 1952 o Mercado D. Pedro regressa à primeira página, num texto onde se volta a alertar para o seu estado. Recorda-se que foi inaugurado há já 85 anos, em 1867, tendo sido construído num espaço então denominado Horta de Santa Cruz, e que tem sofrido, nos últimos anos, várias reparações, “meros remedeios” que não têm resolvido os problemas. Aguardam-se agora novidades positivas por parte da vereação da Câmara.
Ponte de Santa Clara inaugurada em festa
A inauguração da Ponte de Santa Clara é um dos eventos marcantes da década de 50. “O Despertar” foi dando conta da evolução dos trabalhos e, a 30 de outubro de 1954, foi com alegria que anunciou a sua inauguração, que contou com a presença dos ministros das Obras Públicas, da Presidênca, da Justiça e das Comunicações, entre muitas outras individualidades do país. A nova travessia sobre o Mondego merece elogios, tanto nacionais como estrangeiros.
Nestes anos outras obras se anunciam, testemunhando o crescimento de Coimbra. Em outubro de 1953 anuncia-se a abertura, para breve, de uma nova casa de espetáculos, no antigo Cinema Tivoli e que possivelmente terá o mesmo nome; e em janeiro de 1955 merece destaque a aprovação de legislação sobre “a propriedade de casas por andares” ou “propriedade horizontal” que deverá ajudar a “enfrentar a crise na habitação” e que é “uma necessidade já reconhecida em muitos países. Ainda naquele ano, em julho, merecem destaque as transformações que o Bairro Alto tem sofrido nos últimos anos; em setembro de 1957 fala-se da criação do Instituto Industrial e Comercial de Coimbra, iniciando-se um movimento a favor desse projeto, e no início de janeiro de 1959 anuncia-se, para breve, a concretização deste projeto.
As cheias que fazem comparar Coimbra a Veneza (1950); o primeiro centenário da Freguesia de Santo António dos Olivais em novembro de 1954; a morte do Padre Américo, “grande apóstolo do bem”, em julho de 1956; a obra de Bissaya Barreto (1956); os 30 anos de governo de António Oliveira Salazar, onde se enaltece “o método de trabalho, a disciplina e a ordem na vida do país” (1958); e a questão da liberdade de imprensa, no estrangeiro mas também em Portugal (1959), merecem também especial destaque.
A “carestia de vida”, questionando-se o que “hão-de os pobres comer?!”, continua a ser preocupante, como dá conta “O Despertar” em abril de 1956. Dois anos depois, o jornal volta à questão da pobreza e a sua própria equipa arranja uma comissão de honra com vista à angariação de fundos para a construção de “casas para os pobres”. Vários grupos se mobilizam e dão espetáculos solidários, que revertem a favor desta causa.
As preocupações com a Baixa continuam também na ordem do dia. “A Baixa tem que desaparecer” é o tílulo de um artigo, publicado a 17 de novembro de 1956, onde se escreve que “é preciso continuar a agitar o magno problema de transformação da cidade baixa, afim de que esta, tão depressa quanto possível, seja dotada de ruas espaçosas, limpas e bem traçadas”.
“Se nos quedarmos, isto é, se não continuarmos a luta por uma cidade melhor e mais progressiva, interessando e chamando todos ao cumprimento do seu dever, aglutinando pessoas e criando opinião, tudo cairá no olvido…”, lê-se ainda no mesmo texto, que alerta também para o facto de que “já vai sendo tempo, mais do que tempo! – de alguém chamar a si a resolução de tão grande e vasta obra de interêsse coimbrão, encarando o problema com coragem e ousadia, afim de dar a Coimbra a fisionomia que todos lhe desejamos, de uma cidade airosa, limpa e verdadeiramente higiénica!”.
Em maio de 1959 alerta-se também para o abandono verificado nos bairros de Santa Clara e Olivais.
Coimbra homenageia Santa Isabel e Manuel Braga
Coimbra vai erigir uma estátua da Rainha Santa Isabel numa das suas praças. A notícia é avançada a 18 de março de 1953 e, pouco tempo depois, questiona-se a sua localização. Também Manuel Braga merecerá distinção idêntica. Nos primeiros meses do ano de 1955, noticiam-se em várias edições as ideias turísticas de Manuel Braga, numa “homenagem a um homem que marcou Coimbra” e, a 4 de julho anuncia-se que será colocado o seu busto no Parque da Cidade que “é já, desde há muito, o Parque Dr. Manuel Braga”. “O Despertar” não fica alheio a esta homenagem e inicia uma subscrição para ocorrer às despesas que este busto irá acarretar. A primeira recolha rendeu “360 escudos”. O busto foi inaugurado a 23 de março de 1958.
Nesta época parecem estar em voga as excursões, sendo notícia as visitas à serra da Lousã, a Miranda do Corvo e também a Aveiro. É o turismo a crescer, na cidade e na região.
Mudanças e perdas n’ “O Despertar”
A década de 50 é muito marcante na vida de “O Despertar”. O estado de saúde de António de Sousa preocupa a equipa do jornal. Nos finais de agosto de 1952, noticia-se que, depois de algumas melhoras, “voltou a agravar-se o estado de saúde deste nosso querido companheiro de trabalho e administrador-redactor do nosso jornal, que teve que recolher ao leito”. Os leitores puderam acompanhar o seu estado, tendo sido publicadas nas edições seguintes pequenas notícias a dar conta das suas melhoras.
Em 1956, a 3 de março, por ocasião dos 39 anos do jornal, anuncia “nova fase” na vida de “O Despertar”. Nessa edição torna pública a escritura realizada a 17 de janeiro daquele ano, lavrada no cartório da Secretaria Notarial de Coimbra, que confere a António de Sousa a propriedade da tipografia de “O Despertar”, com todos os seus pertences, bem como a propriedade literária do mesmo jornal. António de Sousa, que assumiu a administração do jornal em 1934, surge agora como administrador e proprietário.
A 31 de outubro lamenta-se a morte do jornalista Octaviano Sá.
Já em 1958, a 22 de novembro, apresenta-se Sílvio Pélico como o novo diretor adjunto de “O Despertar”, substituindo Alcide D’ Oliveira. O novo diretor adjunto era já bem conhecido dos leitores, uma vez que era um dos seus antigos e ilustres colaboradores.