A construção da Cidade Universitária marca Coimbra na década de 40. As obras avançam e a inauguração do Arquivo da Universidade marca o início de uma nova era para a zona da Alta. Mas há outros projetos que continuam a mobilizar a cidade. Coimbra anseia por uma nova ponte sobre o Rio Mondego e mobiliza-se para tornar possível uma nova sede para os seus Bombeiros Voluntários. Sonha ainda com uma nova maternidade, com um Instituto Industrial e Comercial, com uma piscina e com um Cine-Teatro.
O “estado deplorável” do Mercado D. Pedro V, a inauguração das instalações da Fábrica Triunfo depois do “pavoroso incêndio que as reduziu a cinzas” e a aterragem da primeira aeronave no aeródromo Bissaya Barreto marcam o início da década de 40 em Coimbra.
Num período marcado pela censura, nas páginas de “O Despertar” reclama-se uma Avenida Fernão de Magalhães com outras condições, tema que vai manter-se na ordem do dia durante várias edições.
Em abril de 1940 começam a publicar-se pequenas notas sobre a guerra e, em junho, chega à nossa redação uma carta dirigida a “O Despertar” pelo representante da armada inglesa, que é tornada pública no dia 12. Na mesma edição informa-se, ainda que “a aviação alemã bombardeou Paris a 3 do corrente [3 de junho de 1940], causando 906 vítimas, entre os quais 254 mortos”. “O Despertar” sublinha que não é sua intenção “discutir a guerra” mas apenas “lamentar as suas vítimas”. A 3 de julho dá-se conhecimento de mais uma carta enviada, desta vez pela Cruz Vermelha Portuguesa.
Ainda por Coimbra destaca-se, no início de maio, a abertura de um novo posto de turismo junto ao “hall” da Estação A. A abertura da Praia Fluvial, em julho, continua a merecer especial destaque, já que se trata de um espaço que dá “à nossa terra, todos os anos, nesta época calmosa, uma animação desusada”. No mesmo mês noticia-se também a inauguração do Grande Hotel das Termas do Luso e, já em agosto, dá-se conta de que vão muito adiantadas as obras de transformação do Pátio da Universidade, que levaram ao desaparecimento dos últimos vestígios do velho jardim.
A Universidade merece ainda especial destaque em novembro, com a publicação do decreto-lei referente à instalação da Cidade Universitária. A mesma edição dá ainda conta da primeira empreitada das obras da Leprosaria Rovisco Pais, no concelho de Cantanhede.
Santo António dos Olivais está também em destaque, anunciando-se, para breve, uma escola de instrução primária.
O início de 1942 fica marcado pelos novos atentados registados em Timor e também pela morte, em março, de Mário Pais, grande industrial de Coimbra.
Mas nem só de momentos tristes se faz a história e a cidade está também em festa, em maio com as celebrações do sétimo aniversário da Casa dos Pobres de Coimbra e, em julho, com as célebres e sempre envolventes Festas da Cidade e da Rainha Santa.
Coimbra anseia por nova ponte sobre o Mondego
Já em agosto manifestam-se preocupações com a Ponte de Santa Clara e defendem-se três pisos no projeto futuro – um para veículos automóveis, outro para tração animal e ainda um ou dois para peões. Recorda-se também que “quando foi construída não foi admitida a hipótese da sua trepidação, provocada pelo trânsito automóvel que, conjuntamente com o calor, desprega facilmente as pranchas de madeira”, considerando-se por isso urgente uma intervenção.
Em outubro noticia-se a festa da transladação da Rainha Santa Isabel e, no final do ano, divulga-se o empréstimo efetuado pela Câmara para obras a realizar na cidade (no valor de 10 mil contos), lançando-se um apelo para as necessidades da Baixa (“esta zôna da cidade que está lançada a um abandono que quási podemos classificar de criminoso”, com “labirinto de habitações insalúbres em bêcos e ruas estreitíssimas; aonde o sol, de inverno, não entra” e que “tem lugares que são verdadeiros fócos de doenças endémicas”), assunto que vai continuar na ordem do dia no início de 1943, onde se enumera, inclusive, uma lista das obras necessárias para Coimbra. Uma delas é a construção de uma sede para os Bombeiros Voluntários.
Neste ano de 1943 a Cidade Universitária merece especial atenção, tendo o início das demolições sido noticiado a 24 de abril.
O ano de 1944 abre com uma notícia preocupante – o pão vai ser racionado em Coimbra a partir de 1 de fevereiro. A crise continua a marcar a sociedade portuguesa e a “cidade do Mondego” não foge à regra. O verão chega e faz lembrar que falta na cidade uma piscina onde as pessoas se possam banhar e desfrutar deste período quente que fica ensombrado com a morte, a 17 de agosto, do poeta Eugénio de Castro e Almeida.
Coimbra lança Medalhas da Cidade para premiar mérito
A criação da Medalha da Cidade é uma das novidades que marca o ano de 1945. A notícia surgiu em abril, no mesmo mês em que morreu Franklin Roosevelt, presidente da Grande República dos Estados Unidos. A nova medalha substituiu a Medalha de Dedicação, criada em abril de 1925 para premiar “actos de dedicação e humanidade”. A Medalha da Cidade será “conferida a pessoas que tenham prestado a Coimbra relevantíssimos serviços; às que tenham feito sempre propaganda no estrangeiro e da qual tenham resultado, por forma bem reconhecida, o engrandecimento de Coimbra; as organizações culturais com mais de 15 anos de existência e que tenham prestado a Coimbra serviços assinalados”.
Dois meses depois, “O Despertar” alerta para a inexistência de um Teatro-Cinema na cidade. “Uma casa de espectáculos, nas condições modernamente exigidas, é uma das coisas que faltam a Coimbra – tanto mais quanto é certo terras de muito menos importância do que esta cidade já possuírem instalações modelares, desse género.” – lê-se na edição de 2 de junho.
Os ecos da notícia fizeram-se sentir e, em julho, dá-se conta que “a Comissão encarregada de angariar os fundos indispensáveis para levar a efeito a construção de um grande e confortável teatro em Coimbra, acaba de expedir umas circulares acompanhadas de boletins de inscrição para aquisição de ações”. Pouco tempo depois, aborda-se a questão da localização e adianta-se que não ficará na Praça da República.
Já em 1946 fala-se de uma nova maternidade para Coimbra, que terá sido solicitada aos representantes do Governo pela Faculdade de Medicina. Avança-se que deverá ser construída nos “terrenos anexos à Clínica Dr. Daniel de Matos, com o aproveitamento do respectivo edifício”.
Bombeiros Voluntários anseiam por nova sede
Os Bombeiros Voluntários continuam também sempre presentes nas páginas deste jornal e, em entrevista, o presidente pede apoio a Coimbra para que a nova sede possa ser uma realidade. O tema volta a ser abordado logo no início de 1947 e vai manter-se na ordem do dia ao longo do ano. “É preciso que Coimbra se empenhe ao máximo na construção da nova sede para os seus voluntários”, lê-se a 28 de abril. Dias depois aborda-se a “situação aflitiva” dos “heróicos Soldados da Paz” e, em julho, a própria indústria e o comércio reúnem-se para debater a questão da nova sede, dando-se a conhecer pormenores do projeto.
Naquele ano, mais uma importante obra é reivindicada para Coimbra – o Instituto Industrial e Comercial.
Progresso ou delírio?
É também notícia o progresso vivido nas principais cidades do país. Num texto intitulado “Progresso ou delírio?”, Nicolau da Fonseca escreve que o que se passa nas principais cidades do país merece “um pouco de estudo e reflexão” e dá conta que “o movimento nas ruas, nos cafés, nas casas de espectáculos, etc., excede todas as expectativas”. Diz ainda que há uma despreocupação com o dia de amanhã e com os “escudos para os gastos essenciais”.
“A grande maioria dos que enchem os cafés, teatros, campos de jogos, etc., terá alcançado aquele desafogo financeiro que lhe permita satisfazer tão assíduamente os seus desejos e apetites? Não se tratará de um mal contagioso, duma espécie de febre colectiva? Mais concretamente, pergunto à consciência dos leitores: o fenómeno que se está observando significa progresso, ou delírio?” – questiona.
Ainda em Coimbra, defende-se a transformação de Vale de Canas em espaço de turismo, noticia-se a inauguração dos “trolley-bus” pelo ministro das Comunicações e dá-se conta do avanço nas obras na Cidade Universitária e da construção do arquivo provincial.
Na região, destaque para a inauguração, em setembro, do Hospital Rovisco Pais, na Tocha.
As cheias voltam a preocupar em 1948, ano em que se dá conta de que “prosseguem os estudos preliminares, de engenharia hidráulica, para a construção de uma nova ponte que ligue as duas margens do nosso rio mais a montante da que existe desde 1875 e que veio substituir a que, no mesmo sitio, foi construída em 1132, quando reinava D. Afonso Henriques…”. Este ano fica também marcado pela inauguração do Arquivo da Universidade, em outubro, tendo sido este o primeiro edifício a ser apresentado à cidade do “grandioso plano das obras que ficamos devendo ao Estado Novo”. Na mesma altura, os ministros da Educação e das Obras Públicas assistiram à cerimónia e presidiram ainda à inauguração do Instituto de Coimbra.
O início da utilização do Estádio Municipal marca o arranque de 1949. Em janeiro começa a receber treinos e estima-se para breve a inauguração. É também nesse ano que se questiona o porquê da não realização na cidade de uma feira do livro, como as que se fazem já em Lisboa e no Porto. “Ora sendo Coimbra um centro importante de vida cultural, com algumas casas editoras de renome e aonde se terá de sentir, como em Lisboa e Porto, os reflexos da vida do livro – porque não realiza Coimbra também a sua Feira?” – questiona-se na edição de 20 de abril.
Meses depois, também se lamenta a inexistência de uma Feira de Atividades na cidade, tema que vai permanecer em destaque ao longo de vários meses.
O ano de 1949, ano em que tomou posse como chefe de Estado o Marechal Carmona (em abril), fica ainda marcado pela crise na habitação.